Operação Ogre: 50 anos após o magnicídio de Carrero Blanco

20 de dezembro 2023 - 20:24

A celebração, a reivindicação ou a recordação do magnicídio do tirano devem ser aplaudidas ou perseguidas numa sociedade que se pretende democrática? Por Vicent Galiana.

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Buraco provocado pela explosão do carro onde seguia Carrero Blanco
Buraco provocado pela explosão do carro onde seguia Carrero Blanco. Foto publicada por El Salto.

Poucos acontecimentos na história recente de Espanha fizeram correr tantos rios de tinta como o magnicídio de Carrero Blanco em 1973. A ETA fez voar pelos ares o cérebro da ditadura com uma ação espetacular que congelou a respiração do regime. Um atentado que permitiu à organização apresentar-se como um instrumento antifranquista, na sua primeira ação mortífera planeada fora do País Basco. Sobre isso já muito foi escrito, fantasiado e mitificado. Cinquenta anos depois, fazemos uma radiografia do magnicídio.

Em Buda's Wagon: A Brief History of the Car Bomb (Verso Books, 2023), Mike Davis inicia o seu magistral estudo histórico sobre a utilização do carro armadilhado em 1920, em Wall Street. 53 anos mais tarde, em Madrid, a relação entre os explosivos e o veículo automóvel inverteu-se: a bomba explodiu debaixo do solo e o carro voou a mais de 35 metros de altura, sobre um edifício residencial de cinco andares. Embora os mais de 3.000 documentos processuais atribuam a explosão à deflagração de 200 quilos de trilite, a organização armada sempre afirmou que se tratava de 70 a 80 quilos de goma-2, roubados de uma pedreira em Hernani na primavera de 1972.

O magnicidio chocou a opinião pública espanhola e feriu profundamente o regime. Mas o assassinato do presidente do Governo não constituiu uma anomalia na Espanha contemporânea. Carrero Blanco foi o quinto presidente a ser assassinado em apenas um século. Precederam-no Juan Prim i Prats (1870), Antonio Cánovas del Castillo (1897), José Canalejas Méndez (1912) e Eduardo Dato Iradier (1921). Um magnicídio sobre o qual, para além das imagens icónicas de um carro transformado num emaranhado de metal amorfo, continuam a ser lançadas dúvidas, sombras e mitos.

Um mito construído sobre dois eixos fundamentais. Por um lado, a liturgia produzida pelo próprio atentado: o filme Operación Ogro, de Gillo Pontecorvo, nos ecrãs, e o livro Operación Ogro. Como y por qué ejecutamos a Carrero Blanco, de Eva Forest sob o pseudónimo Julen Aguirre, que foi lido de mão em mão, entre outros. Por outro lado, a mística produzida por uma parte do regime que acusava a CIA e os sectores mais abertos da ditadura de promoverem, tolerarem ou ajudarem o assassinato, reafirmando a sua subestimação operacional da ETA.

Carrero Blanco, uma abordagem

Luis Carrero Blanco (Santoña, 1904) dedicou-se à carreira militar desde a sua juventude, através da qual ascendeu ao posto de almirante. Participou na Guerra Civil Espanhola e, uma vez terminada, foi nomeado chefe de operações do Estado-Maior da Armada em agosto de 1939. Rapidamente ascendeu a cargos de responsabilidade, tornando-se uma figura de confiança de Franco e o impulsionador dos serviços de informação modernos ao serviço da ditadura.

Ricardo de la Cierva descreveu-o como um "anticomunista furioso". Javier Tusell explica na sua biografia, já clássica, Carrero. La eminencia gris del régimen de Franco (1993) que, a partir de um subsecretariado da presidência, assumiu funções-chave e que as promoções posteriores apenas confirmaram os poderes que já detinha de facto. José Antonio Castellanos López, no seu recente livro Carrero Blanco. Historia y memoria (2023) retrata-o como um ultra-conservador que "fez da lealdade a Franco a razão da sua existência" e que o levou a assumir oficialmente a vice-presidência em 1967 e a Presidência do Governo em junho de 1973. Atribui-lhe uma responsabilidade direta nas decisões que permitiram a invulgar longevidade da ditadura.

Carrero Blanco presta juramento perante Franco.
Carrero Blanco presta juramento perante Franco.

A ETA em Madrid

Embora seja difícil de acreditar hoje em dia, a capacidade de ação da ETA em Madrid era intensa nos anos que antecederam o magnicídio, e a capital tinha-se tornado um porto seguro para os seus militantes. Esta situação era em grande parte consequência da inação do regime. Meses depois da execução de Melitón Manzanas, em março de 1969, o Ministério do Interior emitiu um comunicado afirmando que "a Euskadi Ta Askatasuna (ETA) foi completamente desmantelada". A subestimação da oposição por parte do regime foi constante: o comissário José Sainz afirmava de Bilbau que em Madrid "dormiam o sono dos justos, como se o problema separatista basco não os afetasse", enquanto o diretor-geral da Guardia Civil em 1972, Carlos Iniesta Cano, afirmava que a ETA não passava de uma "gripe" que se curava "com uma aspirina". Apesar das previsões dos altos escalões do regime e da complexa vida interna da organização, marcada naqueles anos pela tensão e por cisões, a ETA manteve a sua capacidade operacional no País Basco, mas também em Madrid.

Os militantes da ETA "queimados" que se refugiaram durante meses em Madrid, entre 1971 e 1974, contam-se às dezenas. Só assim se compreende que a ETA tenha escolhido Getafe para realizar pelo menos uma reunião do seu Comité Executivo completo no verão de 1972.

No outono de 1972, deslocaram-se a Madrid José Miguel Beñarán Ordeñana, Argala, e Iñaki Pérez Beotegi, Wilson, com 23 e 24 anos, respetivamente. Chegaram de comboio e, com documentos falsos, gozaram de liberdade de movimentos, com a proteção de destacadas figuras antifranquistas de Madrid. Durante pouco mais de um ano, o que viria a ser conhecido como Comando Txikia viveu em diferentes locais de Madrid, Getafe e Alcorcón. Foi precisamente num desses enclaves, que durante anos foi um local seguro - o número 68 da rua Hogar, em Alcorcón - que o comando se manteve escondido durante um mês após o magnicídio.

A ETA queria assassinar Carrero Blanco?

Eva Forest conta em Operación Ogro que uma pessoa não identificada entregou a Argala uma breve nota no Hotel Mindano informando-o da ida diária de Carrero Blanco à missa. Iñaki Egaña, em Operación Ogro. Hechos y construcción del mito, defende e argumenta que se tratou de uma estratégia de desorientação da organização para ocultar a sua verdadeira origem e isolar a sua rede de contactos e simpatizantes em Madrid. Por outro lado, essa pessoa supostamente não identificada que, segundo o livro de Eva Forest, informou Argala das rotinas de Carrero, tem sido um dos argumentos fundamentais dos que defendem o envolvimento da CIA no atentado.

Depois de conhecer a rotina de Carrero Blanco e o percurso entre a sua casa e a igreja de São Francisco de Borja, situada no centro de Madrid, em fevereiro de 1973 a organização optou pelo sequestro e informou Argala e Wilson da necessidade de o levar a cabo antes de 18 de julho. A organização pretendia exigir a libertação dos presos políticos cujas penas ultrapassavam os dez anos de prisão, fossem ou não militantes da ETA. Na primavera de 1973, a organização contava com cerca de 150 presos, 34 dos quais tinham sido condenados a mais de dez anos de prisão. A ETA contactou o advogado Juan María Bandrés para que, se necessário, servisse de mediador junto do governo. Recorde-se que Bandrés foi o mediador entre a ETA e o industrial Felipe Huarte, em janeiro de 1973, que terminou com a libertação do empresário mediante o pagamento de 50 milhões de pesetas.

Uma vez formalizada a intenção de raptar Carrero, o comando foi constituído por Javier Larreategui, Atxulo, Juan Bautista Izaguirre, Zigor e os já referidos Argala e Wilson. Trabalharam na construção de uma prisão popular, à imagem e semelhança das dos Tupamaros, na Calle Fleming de Madrid e na definição de quatro estratégias de sequestro, tanto na rua como no interior da igreja, que, aos olhos do comando, não apresentavam "dificuldades insuperáveis". No entanto, o projeto de rapto fracassou na primavera. Segundo o livro de Eva Forest, isso deveu-se ao assalto de dois ladrões comuns às instalações da Fleming Street, em maio. Mas, vistas as coisas em perspetiva, após a morte de Txikia, a queda de vários comandos, a nova realidade repressiva em Iparralde e a nomeação de Carrero como primeiro-ministro em junho, com o consequente aumento dos seus guarda-costas, o facto de deslocar vários comandos para Madrid para realizar e manter o sequestro podia ser visto como um desafio logístico inatingível para a ETA. Foi então que começou a surgir a hipótese de magnicídio.

O magnicídio

Depois de realizar várias acções que a ETA nunca reivindicou e de analisar as diferentes opções existentes, o comando alugou, a 15 de novembro, uma cave na Rua Claudio Coello, 104. O contrato foi assinado pelo próprio Atxulo, sob uma identidade falsa, apresentando-se como um jovem escultor à procura de uma oficina. Em 7 de dezembro, começou a construção do túnel em forma de T, com mais de seis metros de comprimento, onde seriam colocados os explosivos. Apesar das dificuldades técnicas, a construção avançou e, a 13 de dezembro, Txomin Iturbe trouxe de carro os explosivos de Burgos. Uma vez depositados os explosivos, o túnel foi preenchido com sacos de areia e outros materiais para evitar que a onda de explosão atingisse a cave. Depois de resolvidas as interferências causadas pelos semáforos com os transmissores que deviam detonar o engenho, os preparativos ficam concluídos. A chegada de Henry Kissinger a Madrid atrasou a operação durante alguns dias.

20 de dezembro de 1973. Quinta-feira. Dia em que terminava o julgamento do Processo 1001 contra 10 dirigentes das Comisiones Obreras. O almirante Luis Carrero Blanco entrou no seu carro oficial depois de ter ido à missa. Seguindo um trajeto idêntico ao que fazia todos os dias, por volta das 09:27 o carro entra na rua Claudio Coello.

Nessa manhã, Jesús Zugarramendi e José Miguel Beñaran, sob identidades falsas e vestidos de electricistas, tinham introduzido o cabo até à carga explosiva, que não tinha sido ligada até esse momento. Atxulo tinha estacionado um carro em fila dupla para dificultar o trajeto do carro de Carrero e obrigá-lo a abrandar. No carro estacionado, tinham sido colocados 10 kg de goma-2 , que deveria ter explodido com o choque, mas que, no entanto, não explodiu.

Carrero tem um encontro marcado às 10 horas no seu gabinete do Paseo de la Castellana com o ministro das Obras Públicas e o ministro do Trabalho. Sai da missa e repete a rotina diária. O resto é conhecido: ao passar pelo número 104, o Dodge 3700 GT, com um peso de quase 1800 kg, voou pelos ares e aterrou num terraço da Casa Profesa, anexa à igreja onde tinha ido à missa momentos antes. A ETA fazia um atentado no coração da capital e acabava com a vida do Presidente do Governo. Os membros do comando fugiram num carro roubado e depois em transportes públicos para o apartamento seguro em Alcorcón. No final de janeiro de 1974, chegaram a Hondarribia e, dias depois, atravessaram a fronteira para Hendaia.

Terraço onde caiu o carro onde seguia Carrero Blanco Terraço onde caiu o carro onde seguia Carrero Blanco. Foto Nationaal Archief/Wikimedia Commons

Mito, polémica e conspiração

Como é costume, as perguntas sem resposta criam espaço para a conspiração. Neste sentido, poucas pessoas trabalharam tanto para a difundir como o atual diretor-adjunto do OkDiario, Manuel Cerdán. Em 2013, publicou Matar a Carrero: la conspiración, e em 2023 está de volta com um novo livro Carrero. 50 años de un magnicidio maldito. De acordo com os seus argumentos, a proximidade da embaixada dos Estados Unidos e a visita de Kissinger tornam impensável que a CIA desconhecesse os movimentos da ETA na capital. Para além disso, o papel místico do homem não identificado que entregou o bilhete com a informação a Argala e a existência de movimentos no seio do regime de oposição a Carrero Blanco, o sucessor natural de Franco, são apresentados como provas irrefutáveis. E conclui: "Houve uma conspiração para matar o primeiro-ministro e a ETA matou-o, mas alguém lhe apontou o caminho".

Apesar destas leituras, várias fugas de informação entre embaixadas nos últimos anos põem em causa estas leituras tendenciosas. O próprio Iñaki Egaña relata o conteúdo de uma mensagem enviada pela CIA para Washington no dia seguinte ao atentado: "A morte de ontem do primeiro-ministro Carrero Blanco complica os planos cuidadosamente traçados para a sucessão do general Franco e agrava as incertezas da era pós-Franco".

Argala: do ostracismo aos altares

Voltemos atrás no tempo. A 9 de outubro de 1944, nasce Eustáquio Mendizabal. Filho de uma família humilde, perdedores da guerra, com um pai preso no pós-guerra e três irmãos, foi educado nos Beneditinos de Lazkao, onde se tornou poeta e ativista pelo euskera [a língua basca]. Acabou por aderir à ETA depois de deixar o convento em 1966. Eustakio tornou-se Txikia. Após um intenso trabalho na organização, assumiu em 1971 a direção da Frente Militar da ETA-V, substituindo Juanjo Etxabe. Entre as suas intervenções, defendeu a obrigatoriedade do uso da língua basca para a direção da organização armada. Uma defesa que, juntamente com questões relacionadas com a disciplina interna expostas em Hazparne em outubro de 72, levou a organização a proibir José Miguel Beñarán Ordeñana, Argala, e Iñaki Pérez Beotegi, Wilson, de residirem clandestinamente em Hego Euskal Herria [a parte do País Basco situada em território espanhol]. Ambos se mudaram para Madrid no outono de 1972.

Txikia foi assassinado pela polícia em 19 de abril de 1973, na véspera do Aberri Eguna [Dia da Pátria basca], nas imediações da estação de Algorta. Quando tentava fugir dos agentes entrando num carro, um polícia disparou contra a sua têmpora. Em honra da sua memória, a ETA batizou o comando responsável pela Operação Ogre como Comando Txikia. Paradoxalmente, Argala e Wilson passariam à história como os autores, ideólogos e executores do magnicídio, membros de um comando batizado com o nome do chefe militar que ordenou o seu exílio. Sobretudo Argala, que viria a desempenhar um papel fundamental na direção da ETA-militar após a dissolução, "intelectualizando os militares e militarizando os intelectuais". Assassinado pelo Batalhão Basco Espanhol em 21 de dezembro de 1978, em Anglet (Iparralde), tornou-se durante décadas um dos rostos e símbolos mais conhecidos e respeitados da ETA e do seu ambiente social.

O que é que a ETA disse sobre o magnicídio?

No próprio dia 20 de dezembro, a ETA publicou um comunicado redigido em espanhol por Pertur, no qual reivindicava a responsabilidade e justificava a ação. Ao longo do tempo, a ETA publicou várias análises do assassinato nos seus meios de difusão.

A ETA iniciou o seu prolífico percurso epistolar com Zutik (De pé), em abril de 1961. O Zutik 64, publicado em maio de 1974, incluía uma extensa reportagem com o título "A justiça popular apanhou Carrero Blanco". O quarto número da publicação Hautsi (Partir) - promovida pela Frente Cultural -, publicado em 1974, abordou o magnicídio, tirando força à ideia de que o assassínio de Carrero punha fim ao futuro da ditadura: "O desaparecimento de Carrero Blanco não significa que o franquismo, e muito menos o sistema fascista, tenha entrado em colapso. A sua execução ajuda e cria condições mais favoráveis à luta pelas reivindicações democráticas a todos os níveis". Meses depois do desaparecimento de Zutik, surge em 1978 o número 0 de Zutabe (Coluna), "com o objetivo de informar a militância das ofertas que nos foram feitas indiretamente pelo governo espanhol". O Zutabe foi concebido como um boletim interno clandestino publicado pela direção da organização, para informar e prestar contas à sua militância. Nas suas páginas, há dezenas de referências ao magnicídio.

O último Zutabe foi publicado em abril de 2018. Nele, a última direção da organização político-militar basca faz um balanço da sua história e assume a responsabilidade por 2606 acções e 774 mortes. De todas elas, destaca-se como central a ação de 20 de dezembro de 1973: "Em dezembro de 1973, a ETA infligiria ao Estado espanhol o seu maior golpe até à data: a ação contra Carrero Blanco, presidente espanhol e sucessor de Franco, apressou o fim do regime. Mostrou que a luta da ETA era um fator de mudança política. Graças a esta ação bem sucedida, a ETA adquiriu grande prestígio e tornou-se para muitos um símbolo da luta pela democracia e pela liberdade, não só no País Basco".

Alguns dias antes de anunciar a sua dissolução, a 3 de maio de 2018, a última direção da ETA deu uma entrevista ao diretor do Gara, Iñaki Soto. Questionado sobre o significado da ação contra Carrero Blanco, a resposta é direta: "Carrero Blanco era o substituto natural de Franco dentro desse regime fascista. E a ação contra ele acelerou o fim do regime de Franco. Essa ação deu esperança a todo um povo. Quase ninguém contesta o valor dessa ação, apesar de, na altura, todos os partidos a condenarem. Isto demonstra a capacidade da ETA para condicionar as mudanças políticas ocorridas nas últimas décadas e que a nossa intervenção foi um motor de mudança. O atentado contra Carrero é um ponto de referência na nossa trajetória. Porque a nossa prática coincidiu com a vontade de uma maioria de cidadãos bascos e porque a ETA se tornou para muitos um símbolo da luta pela democracia, e não só em Euskal Herria".

50 anos depois: mito, apologia e celebração

Cinco décadas após o magnicídio, a sua persistência na nossa sociedade é múltipla e projecta-se em múltiplas dimensões. Por um lado, nos últimos anos, vários cidadãos enfrentaram a justiça espanhola acusados de "glorificar o terrorismo" ou de "humilhar as vítimas" ao publicarem piadas, memes ou comentários sobre o assassinato, especialmente a cada 20 de dezembro. Algumas delas, como Cassandra Vera, chegaram mesmo a ser condenadas. Um facto que contrasta com a normalidade com que as revistas ou grupos musicais utilizaram o magnicídio de forma cómica nas décadas posteriores ao acontecimento.

Por outro lado, hoje parece claro que no dia 20 de dezembro de 1973 se abriram muito mais garrafas de cava do que o habitual em toda a Espanha e, além disso, que existe um certo consenso historiográfico de que a morte de Carrero foi fundamental para o processo que se iniciou com a morte de Franco quase dois anos depois. No entanto, 50 anos depois do magnicídio e quase seis anos após a dissolução da organização armada, ainda não respondemos, enquanto sociedade, a algumas das questões fundamentais: que imagem seria projetada do assassinato se a ETA tivesse terminado a sua atividade armada durante a transição? A celebração, a reivindicação ou a recordação do magnicídio do tirano devem ser aplaudidas ou perseguidas numa sociedade que se pretende democrática? Até quando vamos dar espaço à narrativa conspiranóica que reforça a ideia da omnipotência do regime?


Vicent Galiana é historiador e doutorando na Universidade de Compostela com um projeto sobre a esquerda armada na época da Transição espanhola. Artigo Publicado no portal El Salto. Traduzido por Luís Branco para o Esquerda.net