Em comunicado, o tribunal assinala que os 13 comentários que Cassandra escreveu no Twitter, entre 2013 e 2016, sobre o almirante Carrero Blanco e o terrorismo “constituem desprezo, desonra, descrédito, gozo e afronta às vítimas do terrorismo e seus familiares” e pressupõem “uma atitude desrespeitosa e humilhante que encaixa dentro do delito de humilhação às vítimas”.
O tribunal não aceitou o argumento de Cassandra de que as mensagens foram publicadas em tom humorístico e irónico. As frases, acompanhadas frequentemente por imagens, “reforçavam um carácter de descrédito, gozo e escárnio a uma vítima de terrorismo”, assinala o documento.
Por outro lado, o tribunal considera que o facto de já terem decorridos 40 anos desde o atentado a Carrero Blanco não é relevante, “já que a marca do terrorismo persiste, ainda que com menor intensidade, e as vítimas do terrorismo constituem uma realidade inquestionável e merecem respeito e consideração”.
O tribunal acrescenta que Cassandra tinha conhecimento do grau de seriedade das suas acções na medida em que tem “uma educação universitária e um grau de conhecimento e percepção das coisas que torna impensável que ‘não saiba que o comportamento atribuído é criminalmente reprovável’”.
“Filme: Três metros sobre o céu/ Produção: Filmes ETA/ Director: Aragala [membro da organização terrorista ETA]/Protagonista: Carrero Blanco/Género: Viagem espacial”, é um dos exemplos dos twitters publicados por Cassandra Vera.
A estudante de história já anunciou que vai recorrer da decisão no Tribunal Supremo de Justiça espanhol. “Não só me criaram precedentes, como me retiram o direito a uma formação e arruinaram o meu projecto de ser docente. Arruinaram-me a vida”, refere na rede social Twitter.
Onda de solidariedade e indignação
A Plataforma de Defesa da Liberdade de Expressão espanhola defende que está em causa uma violação flagrante da liberdade de expressão: “A condenação a César Strawberry criou um precedente perigoso para a liberdade de expressão em Espanha,” destaca Virginia Pérez Alonso, presidente da plataforma, em comunicado.
O caso de Cassandra é, segundo Virginia Pérez Alonso, um “aviso claro aos utilizadores da Internet: 'Se escreves tweets sobre coisas inconvenientes, arriscas-te a isto'".
No seu twitter, Pablo Iglesias, que marcou presença ao lado de Cassandra durante o desenrolar da ação judicial, escreveu:
“Os autores do atentado a Carrero foram amnistiados em 1977. Não cumpriram condenação. Cassandra vai cumprir mais pena por twittar em 2017”.
Já na sua página de facebook, o líder do Podemos afirma que "a condenação de Cassandra é uma vergonha para a nossa democracia". "Imaginam o Rafael Hernando a ser julgado por insultar as vítimas do franquismo?”, questiona.
Tanto o Podemos como a Izquierda Unida estão a divulgar as mensagens de Cassandra nas suas contas de Twitter, em apoio à estudante de história.
Alberto Garzón também reagiu à sentença na sua conta de Twitter.
"Um ano de prisão para a jovem “que fez piadas sobre Carrero Blanco, um fascista voador. Este regime está podre”.
Un año de cárcel a la tuitera que hizo chistes sobre Carrero Blanco, un fascista volador. Este régimen está podrido. https://t.co/n31eld3OVF
— Alberto Garzón (@agarzon) March 29, 2017
Segundo Alberto Garzón, Carrero Blanco “não foi vítima do terrorismo, mas sim um terrorista da ditadura”.
Genial artículo de @carnecrudaradio sobre Carrero. No fue víctima del terrorismo sino un terrorista de la dictadura: https://t.co/4bGaNJlTwC
— Alberto Garzón (@agarzon) March 30, 2017
A própria neta de Carrero Blanco escreveu uma carta aberta, publicada no El País, na qual critica a sentença: “O que me preocupa é que um acto de extremo mau gosto e falta de sensibilidade seja considerado um crime,” escreve Lucía Carrero Blanco, que sublinha que a sentença é “aterradora, não só para a acusada, mas para todos nós que vivemos em democracia”.