União Europeia

Open Arms diz que a política de migração da UE é um “genocídio estrutural”

28 de outubro 2024 - 12:20

O fundador da ONG criada durante a crise dos refugiados da guerra na Síria diz que a situação atual é ainda pior. E acusa Meloni de achar que está acima da lei internacional.

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Óscar Camps
Óscar Camps em 2019 no Parlamento Europeu. Foto The Left/Flickr

Em declarações ao Euractiv, o fundador e diretor da ONG Open Arms, que se tem destacado pelos resgates de migrantes à deriva no Mediterrâneo, diz não ter dúvidas de que a situação atual é mais grave que a de 2015, na chamada “crise dos refugiados” da guerra civil na Síria.

“Enquanto estas tragédias humanitárias acontecem, na Europa, estamos dominados pelo discurso do Medo. A política europeia de imigração é um genocídio estrutural”, afirma Óscar Camps, lembrando que em 2015 “havia o discurso da Europa dar as boas-vindas aos refugiados sírios, enquanto agora o que mais se ouve falar nas ruas é da ‘invasão’ de imigrantes”.

A Open Arms está há anos em conflito com o governo italiano, e o antigo ministro do Interior e líder da extrema-direita Matteo Salvini enfrenta um julgamento por ter impedido o desembarque de migrantes resgatados pela Open Arms em 2019, obrigando-os a ficar ao largo da costa por 20 dias. A acusação defende uma pena de seis anos de prisão para Salvini, que hoje é ministro dos transportes, pelos crimes de sequestro e abuso de poder e a decisão será conhecida a 20 de dezembro.

Para o ativista premiado internacionalmente pela sua ação em prol dos direitos humanos, a atual primeira ministra Giorgia Meloni “foi muito mais longe (que Salvini). Por vezes a extrema-direita acredita que está acima da justiça, das convenções internacionais e da lei internacional”.

Sobre o contestado acordo entre a Itália e a Albânia para a externalização do tratamento e deportação de requerentes de asilo, Camps viu com estranheza “que Ursula von der Leyen estivesse pronta a aplaudir o acordo, pois a Comissão Europeia tem uma grande responsabilidade quando se trata de avaliar medidas tão arriscadas”. “Agora é a Itália que decide quais os países que são seguros e os países que não são seguros?”, questiona, concluindo que Meloni só está a “atuar” para o seu “público”, sabendo que mais cedo ou mais tarde os tribunais vão chumbar o seu plano. “Externalizar [a gestão de fluxos migratórios] é o mesmo que pagar a alguém para que os direitos das pessoas sejam violados fora do seu país”, criticou.

Óscar Camps diz que “a política italiana sempre foi um grande espetáculo. Já o era em 2019 com Salvini, já o era com [o antigo primeiro-ministro líder do 5 Estrelas] Conte. Salvini acrescentou ainda mais espetáculo com campanhas mediáticas chocantes, incluindo a dos ‘portos fechados’ para as ONG”, recorda o ativista.