OE 2024: Bloco desafia socialistas a aprovarem "as propostas que desbloqueiam o país

14 de novembro 2023 - 17:55

Na apresentação de mais de uma centena de propostas de alteração ao Orçamento do Estado, Pedro Filipe Soares diz que os deputados socialistas estão confrontados com uma questão que não existia na apresentação do Orçamento: a de saber qual é o legado que querem deixar da sua maioria absoluta.

PARTILHAR
Sala do plenário da Assembleia da República
Sala do plenário da Assembleia da República. Foto de Ana Mendes.

O líder parlamentar do Bloco de Esquerda apresentou esta terça-feira as mais de cem propostas de alteração ao Orçamento no debate na especialidade que agora decorre. Pedro Filipe Soares manteve a crítica essencial ao documento do Governo, afirmando que este Orçamento "é mau, não responde aos bloqueios principais do país" e mantém os problemas dos serviços públicos, na saúde, habitação, além de não salvaguardar os salários que continuam a perder poder de compra face à inflação.

"O PS está confrontado com uma realidade que não pensava há duas semanas", prosseguiu Pedro Filipe Soares, afirmando que os deputados socialistas têm agora de decidir "qual é a marca que quererão deixar desta maioria absoluta". Se é a marca do "caos nos serviços públicos, a perda do poder de compra e a dificuldade no acesso à habitação", ou se é "o desbloquear dos bloqueios do país, a valorização dos serviços públicos, a salvaguarda do salário e a garantia do direito à habitação".

Considerando o excedente orçamental deste ano, Pedro Filipe Soares questiona-se: "Se há dinheiro e uma maioria absoluta, quais são as desculpas para não aprovar as propostas que desbloqueiam o país" que tem eleições à vista.

O atual momento de crise política também devia ser aproveitado para o Parlamento "dizer a um Governo em vésperas de entrar em gestão que tem mandato da Assembleia da República para chegar a acordo com os profissionais de saúde", defendeu Pedro Filipe Soares, considerando "inaceitável que um dos legados da maioria absoluta do PS seja o casos no SNS".

Nas suas propostas orçamentais, o Bloco concentrou-se sobretudo nas três áreas que mais sofreram com o Governo da maioria absoluta: a saúde, habitação e os rendimentos.

Para responder à crise na habitação, o Bloco insiste com as propostas de limitar o aumento das rendas ao valor da inflação de 2021, o controlo do preço das rendas adaptado a cada território, a renegociação dos spreads bancários nos créditos à habitação para impedir aumentos na taxa de esforço acima dos dois pontos percentuais, a criação de um fundo de mutualização municipal para onde devem reverter as receitas com o IMT, a limitação do alojamento local, entre outras medidas.

Na Saúde, o Bloco apresenta 17 propostas a este Orçamento, com o objetivo de criar condições para fixar e captar novos profissionais, aumentar os serviços de saúde disponibilizados à população e reduzir o gasto dos utentes com saúde, aumentando o acesso a cuidados, terapêuticas e dispositivos médicos. O aumento salarial mínimo de 15% para todos os profissionais, o regime voluntário de exclusividade com majoração de 40% na remuneração base e a abertura imediata de concursos de contratação para todos os serviços que dependam de horas extraordinárias acima do limite legal das 150 horas anuais. A revisão das carreiras e grelhas salariais de farmacêuticos, dentistas, técnicos de emergência hospitalar e a revogação do decreto-lei das Unidades Locais de Saúde publicado no dia da demissão de António Costa são outras das propostas apresentadas.

Aumento de salários, reposição de direitos e fim dos cortes aos pensionistas

No plano dos rendimentos e direitos laborais, o Bloco propõe o aumento do salário mínimo nacional para os 900 euros em janeiro de 2024 e o aumento dos salários na função pública em 15% com um mínimo de 140 euros para recuperar o poder de compra perdido nos últimos dois anos. A reposição dos 25 dias de férias, da compensação por despedimento nos valores pré-troika e a reversão dos cortes nas prestações de desemprego são outras propostas, a par do direito à antecipação da idade legal de reforma sem penalizações, em 2 meses por cada ano de trabalho por turnos ou noturno.

O fim do corte do fator de sustentabilidade das pensões, que já só se aplica a 10% das pensões requeridas, a indexação do valor do Complemento Solidário para Idosos ao limiar da pobreza e assegurar que as pensões de carreiras contributivas de 20 ou mais anos fiquem sempre acima desse limiar também estão na lista de propostas orçamentais do Bloco, que também propõe que o complemento por dependência passe a estar isento de IRS. A proposta bloquista acolhe também propostas dos cuidadores informais para alargar o âmbito do estatuto e anula o corte de 2,3 milhões na verba destinada ao estatuto na atual proposta orçamental do Governo. E inclui várias medidas para alargar direitos e rendimentos das pessoas com deficiência.

No plano fiscal, as propostas do Bloco vão no sentido de aumentar a dedução especifica no ISR, a redução para 6% do IVA da eletricidade, gás natural e engarrafado, a criação de uma taxa sobre lucros extraordinários e outra sobre transações financeiras para paraísos fiscais. Outras propostas pretendem taxar as mais-valias em transações com criptomoedas e de alguns gigantes dos serviços digitais.

No setor da mobilidade, é defendida a inclusão da travessia fluvial do Sado no programa de redução do preço dos passes já existente, a construção de uma nova travessia do Tejo entre a Golegã e a Chamusca, a regulamentação do subsídio de mobilidade para as Regiões Autónomas e o fim das portagens na A22, A23, A24, A25, A28, A41 e A42.

Recuperação do tempo de serviço e apoio a professores deslocados

A recuperação do tempo de serviço dos professores, o apoio aos docentes deslocados com pagamento de apoio ao alojamento e deslocação, a criação da carreira de técnico de ação educativa, a contratação de psicólogos escolares e o reforço da ação social escolar são propostas do Bloco no setor da Educação, a par de um programa de calculadoras gratuitas para os alunos do secundário com disciplinas de Matemática, Matemática Aplicada às Ciências Sociais, Economia, Física e Química.

No ensino superior, o Bloco insiste no programa de emergência para o alojamento estudantil com a reconversão de edifícios públicos e a celebração de acordos com o setor hoteleiro e do alojamento local. O fim das propinas e das taxas cobradas pela entrega de teses e dissertações, o congelamento do preço das refeições nas cantinas e a contratação de psicólogos são outras propostas agora apresentadas. Para a investigação científica, o Bloco quer que os docentes e investigadores contratados para funções permanentes não contem para os limites do aumento da despesa com trabalhadores nas respetivas instituições. Defende também a abertura de concursos para a contratação de doutorados nos quadros dos laboratórios do Estado e a integração na carreira dos doutorados que já exercem funções de investigação na FCT.