De acordo com a Euronews, a “linha vermelha” traçada pelo Partido Popular Europeu face à extrema-direita “poderá mudar após as eleições europeias de junho. A família política europeia dos partidos da AD, PSD e CDS, “não exclui a possibilidade de novas alianças com membros da bancada parlamentar dos Conservadores e Reformistas Europeus (CRE), dando um ponto de apoio às forças eurocéticas” afirma-se numa notícia referente ao congresso da força política que está a ter lugar em Bucareste, Roménia.
Nos discursos, Ursula von der Leyen, designada recandidata à Comissão Europeia por este grupo político, diz que “a nossa Europa pacífica e unida está a ser desafiada como nunca pelos populistas, pelos nacionalistas, pelos demagogos, quer se trate da extrema-direita ou da extrema-esquerda” e promete que só haverá conversas com “partidos pró-europeus, pró-NATO e pró-ucranianos” mas estes pontos não deixam de fora parte da extrema-direita europeia. E, nos bastidores fala-se, por exemplo, na possibilidade de um acordo informal com os “Irmãos de Itália”, da primeira-ministra italiana Giorgia Meloni, atual presidente do CRE. Também o partido do grupo de extrema-direita da República Checa, o ODS, é considerado “um parceiro moderado e compatível com o centro-direita” de acordo com fontes daquele órgão de comunicação social.
O CRE é o grupo que inclui o Vox, o partido-irmão do Chega em Espanha, o Partidos dos Finlandeses, Partido Lei e Justiça da Polónia e o Reconquista francês, o partido de Éric Zemmour. O Chega prefere o ID, Identidade e Democracia, de Le Pen e Salvini e da Alternativa para a Alemanha. Tem-se especulado sobre uma possível fusão entre estes.
Entretanto, o vice-presidente do PPE e ministro dos Negócios Estrangeiros de Itália confirma que espera “que possamos trabalhar com o CRE” e acrescenta que isso acontecerá se os “conservadores (sic), como demonstraram recentemente, tomarem o partido do europeísmo, tomarem o partido do atlantismo [referência ao apoio à Nato], estamos prontos para dialogar e discutir (estas escolhas) com eles”.
Aquele órgão de comunicação social assinala ainda que vários dos partidos de direita europeus “já deixaram de lado o "cordão sanitário" destinado a manter os grupos de extrema-direita fora do governo”. Casos da República Checa, Finlândia, Itália e Suécia.
Manifesto eleitoral do PPE “abraça” temas da extrema-direita
A peça jornalística não deixa ainda passar despercebido que o manifesto eleitoral aprovado nesta reunião pelo PPE avança com várias prioridades políticas que “sugerem que o grupo está a abraçar ideologias de extrema-direita para evitar um êxodo de eleitores para os adversários de extrema-direita” e, noutro texto, analisa-as em detalhe.
O destaque é a aceitação da externalização dos pedidos de asilo de refugiados para países terceiros. O Reino Unido tenta avançar com a deslocalização da gestão dos refugiados para o Ruanda e o PPE quer seguir este modelo que foi considerado como uma violação do direito internacional pelo Tribunal Europeu dos Direitos Humanos. A própria Ursula von der Leyen se manifestou favorável ao acordo que o governo italiano de Meloni assinou com a Albânia para que os pedidos de asilo sejam aí tratados e as pessoas retidas em centros de detenção.
O tema da migração é apresentado como sendo “omnipresente no manifesto” com uma aposta clara no reforço da “Europa-fortaleza”, as políticas repressivas contra migrantes. Pretende-se aumentar orçamento e poderes e triplicar os agentes da Frontex, agência europeia das fronteiras que tem vindo a ser acusada de ataques aos direitos humanos e está a ser investigada pela Provedoria Europeia de Justiça. O ex-líder do Frontex, afastado após uma investigação aos pushbacks de migrantes em águas gregas, será candidato do partido de Le Pen nas eleições europeias de junho.
Também a reforma do pacto verde europeu, que tem vindo a ser apresentada como uma grande bandeira de von der Leyen, não sai incólume. O PPE tinha vindo a bloquear a Lei da Recuperação da Natureza, sublinha-se. Agora, deixou cair o recuo expresso na política de proibição de venda de carros com motores a combustão a partir de 2035, mas substituiu a formulação por uma que abre a porta a retrocessos: "os engenheiros, e não os políticos, em conjunto com o mercado, devem decidir qual a melhor tecnologia para alcançar a neutralidade carbónica".
Na sequência dos protestos dos agricultores, parte do pacto verde foi entretanto abandonado com a Comissão Europeia a retirar a lei de redução dos pesticidas, a recuar na obrigatoriedade de manter terras em pousio por razões ambientais e avançar com medidas para limitar o crescimento de grandes carnívoros como os ursos e os lobos.
O manifesto das direitas quer ainda reforçar a “defesa” europeia através da criação de um “mercado único da defesa”, de um fundo europeu “para a defesa”, de um Comissário Europeu para a Segurança e Defesa, da prioridade à “produção europeia de equipamento militar nas suas aquisições” e da criação de uma “força de dissuasão nuclear europeia”. Defende-se que as decisões sobre este campo a nível europeu devem deixar de ser feitas por unanimidade.