Gastos militares

Números de 2024 confirmam: Países europeus da NATO gastaram o triplo da Rússia em defesa

29 de abril 2025 - 10:22

As contas aos gastos militares do ano passado mostram o maior aumento desde o fim da guerra fria. Alemanha tornou-se o quarto país do mundo com maior orçamento militar.

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tanque alemão em exercício militar
Tanque alemão em exercício militar. Foto de Tobias Nordhausen/Flicke

Os números do Stockholm International Peace Research Institute (SIPRI), que anualmente publica a mais completa base de dados dos gastos militares no mundo, dão conta de um aumento de 9,4% em 2024 face ao ano anterior. O total dos orçamentos militares ultrapassou os 2,7 biliões de dólares naquele que foi o décimo ano consecutivo de aumento desta despesa.

“Mais de 100 países em todo o mundo aumentaram as suas despesas militares em 2024. À medida que os governos dão cada vez mais prioridade à segurança militar, muitas vezes à custa de outras áreas orçamentais, as implicações económicas e sociais poderão ter efeitos significativos nas sociedades nos próximos anos”, afirmou Xiao Liang, investigador do Programa de Despesas Militares e Produção de Armas do SIPRI.

A comandar o aumento da despesa militar esteve a Europa (incluindo Rússia e Ucrânia), com mais 17% face a 2023 e atingindo um total de 693 mil milhões de dólares. Só Malta escapou ao aumento de gastos militares no ano passado entre os países europeus.

A estimativa da despesa militar russa em 2024 é de 149 mil milhões de dólares, um aumento de 38% face ao ano anterior e que representa 7,1% do PIB e 19% do total de despesa pública. Já a Ucrânia gastou menos de metade: 64,7 mil milhões. Mas é o país do mundo que mais gastou em percentagem do seu PIB: 34%.

“A Rússia voltou a aumentar significativamente as suas despesas militares, alargando a diferença de despesas com a Ucrânia”, afirmou Diego Lopes da Silva, outro investigador do SIPRI que trabalhou neste relatório, acrescentando que “a Ucrânia atribui atualmente todas as suas receitas fiscais às suas forças armadas. Num cenário orçamental tão apertado, será um desafio para a Ucrânia continuar a aumentar as suas despesas militares”. De facto, esse aumento foi no ano passado de apenas 2,9%.

Os países europeus da NATO gastaram o triplo da Rússia nos seus orçamentos militares, num total de 454 mil milhões de dólares, num cenário de guerra prolongada na Ucrânia e de preocupação face à atitude de Donald Trump ante os restantes parceiros desta aliança. “Convém dizer que o aumento das despesas, por si só, não se traduzirá necessariamente numa capacidade militar significativamente maior ou na independência em relação aos EUA. Estas são tarefas muito mais complexas”, diz Jade Guiberteau Ricard, outra co-autora do relatório do SIPRI.

Entre os países da NATO foi a Alemanha que se destacou ao aumentar os gastos militares em 28%, atingindo os 88,5 mil milhões de dólares e ultrapassando a India, o Reino Unido e a Arábia Saudita na lista dos países com maior orçamento militar em 2024. Também a Polónia aumentou em 30% a sua despesa militar, passando a gastar 38 mil milhões, o equivalente a 4% do seu PIB.

No seu conjunto, a NATO gastou mais de um bilião e meio de dólares, o que representa 55% do total mundial de despesa em defesa. São agora 18 os países com orçamento militar igual ou superior a 2% do seu PIB, quando em 2023 eram apenas 11.

Os EUA gastaram dois terços desse total (quase um bilião de dólares) e representam sozinhos 37% de todos os gastos militares do mundo. Segue-se a China com uma estimativa de 314 mil milhões num orçamento que cresce de forma consecutiva há três décadas e que representa metade da despesa dos países da Ásia e Oceania. Nesta área geográfica destaca-se também o Japão, que aumentou os gastos militares em 21%, o maior aumento desde 1952, para os 55,3 mil milhões.

No Médio Oriente, os analistas do SIPRI viram goradas as suas expectativas dos anos anteriores quanto a uma escalada de gastos militares à boleia da guerra israelita em Gaza e no Líbano. De facto, essa escalada resumiu-se apenas a Israel, com mais 65% de despesa militar em 2024, o maior aumento desde a Guerra dos Seis Dias em 1967, num total de 46,5 mil milhões de dólares. A seguir à Ucrânia, Israel é o país onde os gastos militares têm maior peso no PIB, 8,8%. O único aumento comparável foi o do Líbano, com 58%, mas a uma escala incomparavelmente menor, com 635 milhões de euros. Por seu lado, o Irão diminuiu em 10% a sua despesa militar, para os 7,9 mil milhões de euros, com o impacto das sanções a refletir-se na limitação ao aumento dessa despesa