O NYSTED MAERSK, um navio que nos últimos meses tem transportado equipamento militar estadunidense entre Espanha e Israel, está a caminho de Lisboa, com a previsão de que deverá atracar por volta das 22h deste sábado. O cargueiro em questão faz parte de uma rede de navios que têm servido de intermediários para o transporte de equipamento militar entre os Estados Unidos da América e Israel dentro do Mediterrâneo.
A denúncia surge por parte do comité nacional palestiniano da campanha de Boicote, Desinvestimento e Sanções (BDS) a Israel, que alerta que o transporte desse equipamento viola a Convenção do Genocídio. O NYSTED MAERSK já fez o transporte de mais de 400 carregamentos militares em nome do ministério de Defesa israelita.
Genocídio
Bloco questiona Governo sobre navio com bandeira portuguesa que transporta armas destinadas a Israel
A decisão de atracar em Lisboa está relacionada com o facto de o governo espanhol ter revogado recentemente as autorizações de atracagem de navios envolvidos no transporte ilegal de equipamento militar para Israel devido ao genocídio em curso na faixa de Gaza. O cargueiro deverá então atracar primeiro em Lisboa, e depois em Tânger.
A empresa que gere o transporte, a MAERSK, é responsável por carregar milhões de quilos de equipamento militar para Israel usando rotas indiretas, que tinham como ponto nevrálgico um porto em Algeciras, em Espanha. Os navios trazem o equipamento militar americano para Algeciras, onde depois muda de navio e é transportado para Israel, fazendo paragens em Alexandria, no Egito e em Mersin, na Turquia.
O comité nacional palestiniano da campanha BDS pediu ao governo português que cumpra as suas obrigações à luz da lei internacional e que siga o exemplo de Espanha, revogando a autorização de atracagem do NYSTED MAERSK, “bem como de todos os outros navios suspeitos de estarem envolvidos no transporte ilegal de equipamento militar que permitam a manutenção do genocídio em Gaza por parte de Israel”.
O transporte de equipamento militar no contexto do genocídio em Gaza viola resoluções da Assembleia Geral e do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas, segundo a campanha BDS.
Lembre-se que Portugal também foi facilitador no transporte de explosivos RDX que circulavam a bordo do navio MV Kathrin, tendo o governo português mais tarde retirado o pavilhão português a esse cargueiro devido à pressão nacional e internacional que foi crescendo. Agora, mais uma vez, o governo português encontra-se numa situação de possível cumplicidade com o genocídio em Gaza.
A Plataforma Unitária de Solidariedade com a Palestina marcou uma concentração para as 20h deste sábado, em frente à Autoridade do Porto de Lisboa, em Alcântara com o mote "Portugal não pode ser cúmplice do genocídio".
Bloco quer saber se governo vai permitir atracagem do navio
O Bloco de Esquerda questionou o governo sobre se pretende permitir a utilização do porto de Lisboa por um navio “cuja missão é manter um esquema ilegal de abastecimento de armas destinadas ao exército genocida de Israel”.
A questão foi colocada no seguimento da denúncia da campanha BDS. Face aos factos apresentados, a bancada parlamentar do Bloco de Esquerda consisedar que os “factos indiciam fortemente a continuação do envolvimento do NYSTED MAERSK no esquema de abastecimento ilegal de material militar a Israel”.
No documento, os deputados bloquistas lembram que no seguimento do episódio com o cargueiro MV Kathrin, “o primeiro-ministro garantiu no parlamento que o governo português não autorizaria a utilização das infraestruturas e dos espaços aéreo e marítimo portugueses para a execução de rotas de abastecimento de armas a Israel”.