Esta segunda-feira, os moradores do bairro das Marinhas do Tejo voltaram a sofrer com a incerteza das demolições por parte da Câmara Municipal de Loures. Uma denúncia aos movimentos pelo direito à habitação indicava que o município ia mobilizar o dispositivo de demolição das casas auto-construídas pelas 10h da manhã. Com a organização de um piquete e a denúncia aos órgãos de comunicação social, o dispositivo terá sido desmobilizado, mas os moradores continuam a conviver com a incerteza absoluta.
A coordenadora nacional do Bloco de Esquerda esteve presente no piquete, para ouvir os moradores do bairro e impedir as possíveis demolições. “Não queremos ninguém em Portugal a viver de insalubridade e em casas sem condições, mas temos de perceber que quando as pessoas, que trabalham, são ameaçadas de despejo e não têm alternativa de habitação, a solução é irem viver para debaixo da ponte”, explicou. Por detrás do bairro auto-construído está o viaduto da IC2, e os moradores já admitiram que a única alternativa que têm caso as demolições aconteçam é resguardar-se nessa zona.
“Essa não é uma solução aceitável”, disse a dirigente bloquista. “E este não é um problema único. Portugal vive uma crise de habitação. Estive a falar com algumas destas pessoas sobre os seus salários e as suas alternativas de habitação. Alguns recebem anúncios de quartos no Cacém que custam 400€ para uma pessoa ou 600€ para um casal. Estas pessoas não conseguem pagar essa renda, apesar de trabalharem”.
Habitação
“Estamos à deriva”: Câmara de Loures ameaça despejar quase cem pessoas sem alternativa
Mariana Mortágua explicou que esta situação de precariedade habitacional é um reflexo da crise de habitação, que expulsa as pessoas do centro para a periferia, da periferia para as barracas, das barracas para as tendas, e das tendas para a rua. Para resolver a situação, a coordenadora bloquista propôs como medida de emergência uma medida que coloque tetos às rendas, “para que estas se adequem aos salários”.
Foram dezenas de pessoas que se juntaram entre os aguaceiros no bairro das Marinhas do Tejo para impedir as demolições que estavam anunciadas. A intenção do Executivo de Ricardo Leão (PS) de despejar os moradores tornou-se clara ainda em dezembro de 2024. Nessa altura, organizou-se um primeiro piquete, que foi preciso repetir ao longo dos últimos meses devido às ameaças por parte da Câmara Municipal de Loures. Na altura, a própria vice-presidente do município, Sónia Paixão, ameaçou retirar as crianças às famílias que habitam no bairro.

Elsanque Cravid vive no bairro há dois anos e meio. Para além da precariedade de viver num bairro auto-construído, sem ajuda nem resposta por parte das autoridades públicas, sente agora o peso adicionado de não saber se vai ficar sem casa.
Loures
Autarca do PS ameaça com retirada de crianças a famílias em risco de despejo
“A comunidade encontra-se sem palavras”, diz o morador. “Não conseguimos dormir nem alimentar, por causa das ameaças. A Câmara marca a demolição sem alternativa. Queremos uma alternativa que seja real”.
Muitos moradores trabalham, mas este medo constante significa que várias vezes têm de faltar ao trabalho por causa das ameaças de demolição. É o limbo criado pela Câmara Municipal de Loures, que perpetua a agonia e coloca a vida destes moradores em suspenso. “Muita gente vai apanhar falta no trabalho, coloca as pessoas em risco de emprego”, lamenta Elsanque.
É um medo que a Câmara impõe aos moradores, segundo os relatos dos próprios. “Com estas ameaças, não ficamos bem. Queremos uma resposta para proteger as crianças e as mulheres grávidas, temos aqui cinco mulheres que já deram à luz e que precisamos de proteger”. Os moradores já foram à Assembleia Municipal de Loures, só que o Executivo de Ricardo Leão “não quer falar com ninguém”.