Pela primeira vez em mais de dez anos, uma delegação do partido DEM (antigo HDP) visitou o fundador do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK) na prisão da ilha de Imrali, a sudoeste de Istambul. Abdullah Öcalan cumpre pena pena de prisão perpétua em confinamentos solitário desde 1999.
“O seu estado de saúde é bom e o seu moral é bastante elevado. As suas avaliações sobre a busca de uma solução permanente para a questão curda foram de importância vital”, afirmaram os deputados Pervin Buldan e Sırrı Süreyya Önder em comunicado no final do encontro onde discutiram também a situação em Gaza e na Síria.
Mas o tema central das discussões foi o processo para uma solução pacífica do conflito que opõe há décadas o governo turco à minoria curda do país, com os deputados a concluírem que “fortalecer mais uma vez a irmandade turco-curda não é apenas uma responsabilidade histórica, mas também de importância decisiva e urgência para todos os povos".
Öcalan anunciou o abandono da luta armada em 2013 e foi alcançado um cessar-fogo que durou até 2015. No ano seguinte, a tentativa de golpe militar fracassada para depor o líder turco Erdogan resultou na intensificação da repressão sobre os opositores políticos, incluindo os curdos. Essa repressão levou à prisão dos líderes do partido da esquerda pró-curda e de dezenas dos seus dirigentes, bem como o afastamento administrativo de autarcas e representantes a nível regional pelo partido, que teve de mudar de nome para evitar o risco de legalização.
Em outubro, Devlet Bahceli, o líder do partido ultranacionalista MHP aliado de Erdogan, lançou o apelo a Öcalan para ir ao parlamento turco anunciar a dissolução do PKK e a renúncia à luta armada. Neste encontro na prisão, o líder curdo respondeu dizendo estar disposto “a tomar as medidas positivas necessárias e a fazer o apelo à reconciliação”, concordando que o parlamento será o fórum adequado para “promover o diálogo construtivo e desenhar o caminho para a paz”. Sublinhou ainda que “o envolvimento dos partidos da oposição e das suas propostas construtivas são vitais para alcançar esse objetivo”.
Durante a fase inicial do seu cárcere, Öcalan atravessou um processo de reflexão ideológica, afastando-se do marxismo-leninismo estalinista e inspirando-se nas ideias socialistas libertárias que o levaram a adotar a defesa do confederalismo democrático para o Curdistão, com base nos valores do feminismo, ecologia e democracia. O PKK passou a defender esta estratégia e o início da guerra civil na Síria permitiu pô-la em prática com a declaração de autonomia da região de Rojava, no Curdistão sírio.