Greve na Global Media: "Estado tem de intervir em nome da democracia

10 de janeiro 2024 - 11:48

Mariana Mortágua esteve na manhã desta quarta-feira com os trabalhadores da Global Media em greve para demonstrar a solidariedade do Bloco com a sua situaçã. E destacou a importância do jornalismo para a defesa da democracia.

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Concentração de trabalhadores da Global Media em greve junto ao Parlamento.
Concentração de trabalhadores da Global Media em greve junto ao Parlamento. Foto Esquerda.net

O Bloco está “muito preocupado” com o que se passa na Global Media e pensa que “é caso de polícia” porque “o grupo foi tomado por um ato de gangsterismo económico” com “um CEO que está prestes a ser suspenso e está em negação” e “acionistas em guerra com fundos nas Bahamas, que ninguém sabe quem são, o que é que querem, o que é que estão a fazer com o grupo”. Assim resume Mariana Mortágua a situação no grupo proprietário de alguns dos maiores meios de comunicação social do país.

A coordenadora do Bloco esteve presente esta manhã na concentração junto ao Parlamento, promovida pelos trabalhadores que estão em greve. Ali considerou que “no meio disso tudo, os jornalistas são quem sofre, quem não consegue receber os seus salários, quem está sob ameaça”. Isto para além dos conselhos editoriais e direções dos vários órgãos de comunicação social do grupo que “estão a ser pressionados para tomar decisões que vão contra a sua própria liberdade de exercício da atividade do jornalismo”.

A situação atinge bem mais do que os trabalhadores e os órgãos destes meios de comunicação social porque “o jornalismo é uma parte integrante da democracia” e estes são alguns “dos títulos mais importantes do jornalismo livre e independente em Portugal e têm de ser protegidos”, prosseguiu. Para Mariana Mortágua, está em causa a pluralidade na informação e o “funcionamento da democracia”, pois “precisamos de ter jornalismo livre” para “acompanhar a atividade de quem faz política”, sobretudo nesta altura em que se aproximam várias eleições.

O Bloco de Esquerda considera que é “responsabilidade do Estado” intervir para “estabilizar a estrutura acionista, nacionalizar, se for preciso, o grupo para, ou até, haver capacidade do grupo privado ou mesmo dos trabalhadores poderem gerir este grupo”.

ERC “falhou redondamente" e agora "estamos a gerir danos”

A coordenadora bloquista não exclui a necessidade de uma investigação judicial ao que se passou, dado que “a Global Media esteve a saque ao longo destes anos” com acionistas que “foram retirando o património, o valor que havia e agora querem retirar a última coisa que existe, que são os direitos dos jornalistas que fazem aquelas casas”.

Mas também é preciso investigar como é que foi aprovada e autorizada a entrada deste fundo num grupo de comunicação social. Ou seja, acrescentou Mariana Mortágua, “como é que se deixa fundos que ninguém sabe a quem pertence, nem o que são, nem o que é que querem, entrar num grupo de comunicação social”. A ERC, entidade reguladora do setor, “falhou redondamente ao permitir que isto tivesse acontecido”, avalia, “e agora estamos a gerir danos”.

Mariana Mortágua defende que se devia aplicar à comunicação social “regras como se aplicam à banca”. Apesar da falta de escrutínio, “culpa” do Banco de Portugal, a legislação do setor bancário implica que “nem qualquer pessoa pode ser o dona de banco”, sendo exigida idoneidade e a prova “até ao último cêntimo” de onde vem o dinheiro investido. O mesmo deveria acontecer com “quem compra ou quem está a frente do grupo de comunicação social” e “tem que haver regras de transparência no capital”.

Nas respostas às perguntas dos jornalistas no local, a coordenadora bloquista abordou ainda a questão de como “a democracia perde com a precarização do trabalho e da função de jornalista”. Uma profissão em que se ganha “cada vez pior”, há “cada vez menos tempo para se especializar, para fazer jornalismo de investigação”, o que só “interessa a todos os partidos que não querem escrutínio”, que “vivem da confusão, da mentira, das falsas informações, do engano, todos os partidos que tentam esconder alguma coisa, que não querem clareza das ideias em cima da mesa”.

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