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França: um país bloqueado em véspera de moções de censura

Macron impôs a sua reforma das pensões para aumentar a idade de reforma sem voto parlamentar e a contestação intensificou-se por todo o país. Na próxima segunda-feira, o governo enfrenta duas moções de censura e, oficialmente, uma nova jornada de luta está marcada para dia 23. Mas entretanto há focos de revolta em toda a França.
Na noite deste sábado, pela terceira vez consecutiva, muitas manifestações voltaram a ocorrer em várias cidades. Algumas delas espontâneas, não convocadas por sindicatos ou partidos. São tantas que se desconhece o seu mapa concreto. Em Paris, o comando da polícia proibiu manifestações em dois lugares emblemáticos, a praça da Concórdia e os Campos Elísios, mas nem por isso deixou de haver protestos, desta feita na Praça de Itália, convocada pela CGT e com a presença de milhares de pessoas que gritaram “Macron, demissão” e “Macron vai ceder, vamos ganhar”. O cortejo que desfilava pelas ruas foi travado pela polícia que usou gás lacrimogéneo para o dispersar e há a notícia de 169 detenções nesta noite.
“Bloqueamos tudo”
Uma das palavras de ordem gritadas em várias das manifestações tem sido “bloqueamos tudo”. E, na verdade, para além de outras formas de luta, têm-se somado os bloqueios de diferentes setores profissionais em todo o país e mais estão previstos na próxima semana.
Este sábado a maior refinaria do país, em Gonfreville-l’Orcher, pertença da Total, entrou em greve e outras seguiram o mesmo caminho, apesar do desgaste causado pelos meses do processo de luta anterior. É a própria empresa que diz que só nesse dia 37% dos trabalhadores estavam em greve. Até agora os trabalhadores tinham estado a laborar em grande medida mas a bloquear a saída de carburantes. O ministro da Indústria, Roland Lescure, ameaça com requisições civis como fez no outono passado.
Os trabalhadores da limpeza de Paris que têm estado em greve, com o lixo a acumular-se nas ruas, e foram já alvo de uma requisição civil. Mas prometem novas formas de luta como o atraso dos serviços. E os trabalhadores de três das incineradoras da região da capital decidiram, em assembleia, intensificar os bloqueios de muitos dos camiões que chegam às instalações.
Em vésperas de duas provas do Bac, o exame de conclusão do Ensino Secundário francês os sindicatos de docente têm marcada greve e prometem perturbações, os estudantes liceais e universitários continuam a bloquear várias escolas ao passo que outras fecharam administrativamente para evitar que tal acontecesse.
Nos transportes, na SNCF, a empresa ferroviária pública, a greve continua desde 7 de março. Na região da capital, metro e rede ferroviária urbana de Paris continuam com paralisação. A greve dos controladores aéreos vai fazer-se sentir a partir de segunda-feira nos transportes aéreos.
Mobilização continua “enquanto a reforma aos 64 anos estiver proposta”
Este domingo, em entrevista à RTL, LCI e Le Figaro, Jean-Luc Mélenchon, dirigente da França Insubmissa, declarou que “enquanto a reforma aos 64 anos estiver proposta, é preciso continuar” a mobilização e que esta vai continuar “seja qual for o resultado” das moções de censura a serem votadas na segunda-feira.
O ex-candidato presidencial foi questionado sobre os distúrbios que tem ocorrido em manifestações e respondeu que “o movimento é calmo, sabem que não é um movimento violento” e que agora é preciso “sangue frio” porque “não temos nenhum interesse em ir para uma batalha campal”. Aliás, ele pensa que “o poder conta com os excessos para aproveitar-se de uma situação de medo” e apela a que “não invisibilizem a luta com práticas que se virem contra nós”.
Mélenchon sublinha ainda que o documento aprovado “não teve qualquer forma de legitimidade parlamentar” e que “o povo francês não é um povo que se faça marchar ao som de um apito”.
“Macron e os ataques autoritários contra o trabalho não podem passar em lado nenhum”
Jean-Luc Mélenchon foi também o destinatário de uma mensagem vinda do Bloco. No jantar de aniversário do partido, Catarina Martins revelou que lhe enviou uma nota para dar conta da solidariedade do Bloco de Esquerda a quem luta nas ruas de França na certeza “que estamos lado a lado num combate comum pela dignidade de quem trabalha” e que “Macron e os ataques autoritários não podem passar em lado nenhum”.
Segundo a coordenadora bloquista este respondeu que os participantes neste movimento social “estão cientes da responsabilidade que têm e sabem que neste momento em França se joga não só a idade da reforma dos trabalhadores franceses mas a ideia da própria democracia e respeito pela organização dos trabalhadores em toda a Europa”.
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