Esquerda

França Insubmissa apela à recomposição da NUPES para as eleições de 30 de junho

10 de junho 2024 - 12:23

Após a convocatória de eleições antecipadas na noite eleitoral de domingo, a esquerda francesa tem poucos dias para decidir se vai voltar à fórmula unitária que lhe deu bons resultados em 2022.

PARTILHAR
Deputados eleitos pela NUPES em 2022
Deputados eleitos pela NUPES em 2022. Foto FI.

A vitória da extrema-direita da União Nacional nas eleições europeias de domingo com 31,37% - a primeira vez desde 1984 que um partido passa a fasquia dos 30% nesta eleição - levou o Presidente Emmanuel Macron, cujo partido obteve cerca de metade dos votos da extrema-direita, a anunciar o que muitos analistas políticos chamaram de uma jogada de ‘tudo ou nada’: a dissolução do Parlamento e a convocação de eleições antecipadas para o dia 30 de junho, com segunda volta a 7 de julho. O anúncio foi recebido com festa no quartel-general de Jordan Bardella, o presidente do partido de Le Pen e cabeça de lista às europeias, que está agora pronto para encabeçar o próximo embate eleitoral.

O partido de Macron, Renascença, não conta com maioria absoluta no parlamento francês e por isso muitas leis importantes têm sido aprovadas através do recurso a um artigo da Constituição que permite a aprovação de legislação sem votação no Parlamento. Foi assim com a reforma das pensões e outros assuntos que fizeram aumentar a tensão política e a impopularidade do Presidente ao longo desta legislatura. O resultado deste domingo tornou ainda mais improvável a aprovação do próximo Orçamento e mais provável o sucesso de uma eventual moção de censura. Ao fazer este anúncio, Macron aposta na incapacidade da esquerda para se entender em poucos dias, depois de um processo de afastamento que acabou por romper a coligação NUPES, que há dois anos foi o instrumento para o regresso da esquerda ao primeiro plano das forças parlamentares. O atual presidente confia em particular na trajetória recente dos socialistas para se demarcarem da França Insubmissa para tentar atrair o seu eleitorado em eleições onde espera conseguir voltar a polarizar o voto entre os seus candidatos e os da União Nacional, com o risco de entregar a Le Pen e Bardella a maioria absoluta na Assembleia e iniciar um período de coabitação com a extrema-direita ou, em alternativa, demitir-se.

Do lado da esquerda, a França Insubmissa (FI), que viu aumentar a votação e o número de eleitos para o Parlamento Europeu, não perdeu tempo a apelar à recomposição da unidade da esquerda para as legislativas. “Se queremos ganhar, temos de oferecer ao país um programa claro. Ele existe: defendemo-lo nas últimas eleições legislativas e saiu vitorioso na primeira volta. Poderíamos tê-lo apresentado em conjunto nestas eleições europeias, se os aparelhos do Partido Socialista, do EELV (Verdes) e do Partido Comunista Francês não tivessem virado as costas à NUPES”, aponta a França Insubmissa num comunicado divulgado na noite de domingo.

Uma nova união à esquerda, propõe a FI, só pode ter por base “a clareza e a coerência que faltaram desde 2022”. E como condição prévia, acrescenta, “deve recusar qualquer aliança política com o partido de Macron, que anunciou a sua intenção de apoiar candidatos do Partido Socialista”, que teve nestas europeias um resultado semelhante ao da Renascença, em torno dos 15%.

A FI elenca ainda alguns pontos programáticos que deve ter esta união de esquerda, na linha do que a NUPES propôs em 2022 mas que nem todos os deputados eleitos vieram depois a apoiar no Parlamento. Entre elas estão o regresso da idade de reforma aos 60 anos, os tetos aos preços da energia e bens de primeira necessidade, o aumento do salário mínimo e a indexação salarial à inflação, um embargo ao envio de armas para Israel e sanções ao governo de Netanyahu, a revogação da reforma do subsídio de desemprego e da lei de imigração aprovada pelos macronistas e a extrema-direita, a planificação ecológica e a saída do nuclear e o combate ao racismo, ao antissemitismo e à islamofobia “que dividem o povo para o impedir de defender os seus interesses comuns”.

Neste momento, a única certeza é que até sexta-feira, o prazo limite para a composição das candidaturas, serão muitas as pressões sobre  todos os partidos da esquerda a favor da unidade eleitoral. Do lado dos socialistas, há quem defenda que o resultado obtido nas europeias em coligação com o Place Publique de Raphael Glucksmann, com cinco pontos de vantagem sobre a FI, não os pode colocar numa posição subalterna numa eventual coligação como aconteceu em 2022, quando o termo de comparação foi o excelente resultado de Mélenchon, que por pouco não passou à segunda volta das presidenciais. Nos Verdes, ainda se respira o alívio de terem ultrapassado por pouco a fasquia dos 5%, evitando o desaparecimento do Parlamento Europeu. “Sejamos responsáveis, a 30 de junho e 7 de julho: a esquerda e os ecologistas têm de se unir”, escreveu a cabeça de lista do EELV , Marie Toussaint, nas redes sociais. Por seu lado, Mélenchon insiste na mensagem esta segunda-feira: "Agora a União. Urgente, forte, clara".