Eleições Europeias

Conservadores, socialistas e liberais mantêm maioria, Macron convoca eleições

09 de junho 2024 - 22:57

O grupo da Esquerda no Parlamento Europeu aumenta a sua representação para 38 eurodeputados, mais um do que nas últimas eleições europeias.

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Eleições europeias na Grécia
Eleições europeias na Grécia. Foto de BOUGIOTIS EVANGELOS/EPA/Lusa.

As estimativas disponíveis sobre os resultados das eleições europeias a um nível global resultam numa vitória do Partido Popular Europeu, que ganha mais dez deputados (186 no total). Os socialistas perdem quatro (135 no total), seguidos pelos liberais com 79 lugares e perdendo 23 mandatos, da extrema-direita do CRE com 73 (mais quatro), o outro grupo de extrema-direita, o ID, vem a seguir com 58 (mais nove), depois os Verdes com 53 lugares (menos 18). Com estes resultados, conservadores, socialistas e liberais continuarão a deter a maioria dos 720 mandatos no Parlamento Europeu.

O grupo da Esquerda no Parlamento Europeu aumenta a sua representação para 38 eurodeputados, mais um do que nas últimas eleições europeias.

Ursula von der Leyen, a candidata da direita à presidência da Comissão Europeia cantou vitória, afirmando querer criar um “escudo contra os extremos, da esquerda e da direita” que promete “deter”. Apesar de durante toda a campanha ter branqueado o grupo da extrema-direita de que Meloni faz parte, disse agora que a sua aliança preferencial é com socialistas e liberais com os quais procurará voltar a fazer a maioria.

A melhor forma de combater a extrema-direita é ter uma esquerda “forte e combativa nas ruas e nas instituições”

Em comunicado de balanço do ato eleitoral, o grupo da Esquerda no Parlamento Europeu salienta que manteve a sua representação e que reafirma a “intenção de continuar a ser o principal defensor dos trabalhadores e a força de oposição central à influência da extrema-direita”. Sobre esta, alerta para as “correntes políticas perigosas” que influenciam a política europeia.

Manon Aubry, co-presidente deste grupo parlamentar, declarou que este “continua a ser uma força significativa no contexto da ascensão da extrema-direita”, prometendo “redobrar esforços” contra ela” e continuar a ser a “voz do povo”, a lutar pelo planeta e pela paz. A melhor forma de o fazer, acredita, é ter uma esquerda “forte e combativa nas ruas e nas instituições, firme nos seus valores e intransigente na sua rejeição da nefasta austeridade da UE e das políticas de livre comércio.”

França: Extrema-direita ganha, Macron dissolve o Parlamento

Logo a seguir às primeiras projeções que deram uma vitória significativa à União Nacional, com cerca de um terço dos votos, o presidente francês tratou de dissolver a Assembleia Nacional com o pretexto de ser tempo de uma “clarificação indispensável”.

Não é sequer a primeira vez que a extrema-direita ganha as eleições para o Parlamento Europeu no país, o mesmo tinha acontecido em 2014 e 2019, mas esta é a vitória mais significativa com mais de 30% dos votos. Quase o dobro do campo presidencial (15,2%).

Pouco atrás da coligação liderada pelo Renascença de Macron surge o Partido Socialista, com perto de 14%, depois a França Insubmissa com 8,7%, elegendo oito eurodeputados, uma subida relativamente a 2019 quando tinha tido 6,29 %, a direita dos Republicanos com 7,2%, o Reconquista, de Zemmour, que apresentava como cabeça de lista a sobrinha de Le Pen e obteve 5,5%, conseguindo assim entrar no Parlamento Europeu. Por fim, os Verdes conseguiram por pouco ultrapassar a barreira dos cinco pontos percentuais, o mínimo para eleger, e obtêm os mesmos cinco eurodeputados do que o segundo partido mais votado da extrema-direita francesa.

Em dia não só de europeias, primeiro-ministro belga demite-se

A Bélgica foi outro dos países onde o quadro político mudou este domingo. Foi dia também de eleições federais e regionais e terminaram com a demissão do primeiro-ministro liberal, Alexander De Croo, que assumiu a derrota numa “noite particularmente dificilmente”.

A grande vencedora foi a Nova Aliança Flamenga de direita, depois o Vlaam Belang de extrema-direita, seguido pelo partido social-democrata Vooruit.

O PTB obteve 5,98% dos votos e assim o grupo da Esquerda terá dois eurodeputados belgas.

Espanha: PP e PSOE quase empatados, esquerda dividida

Os resultados finais em Espanha não alteram significativamente o quadro político nacional. O Partido Popular fica com 22 deputados (34%), o Partido Socialista com 20 (30,2%), o Vox com 6 (9,6%), o Ahora Repúblicas, que junta nacionalistas bascos, catalães e galegos (4,9%), com três, o Sumar com três (4,7%), o “Se Acabó La Fiesta”, de extrema-direita, com outros três (4,6%). O Podemos consegue dois (3,3%), o catalão Junts um (2,5%) e o CEUS (da direita nacionalista basca e canária) outro (1,6%).

O resultado do Sumar é considerado mau e implica que Manu Pineda, o primeiro candidato da Esquerda Unida na lista, depois de uma negociação de lugares tensa que o colocou atrás do Catalunya en Comú e Compromís, não será eleito. É a primeira vez na história desta formação política que não terá representação no Parlamento Europeu. A líder do Sumar, Yolanda Díaz, anunciou na segunda-feira a saída do cargo de coordenadora da coligação, passando a dedicar-se exclusivamente às suas funções de vice-presidente do Governo com a pasta do Trabalho

Já o do Podemos é menos mau do que davam algumas das sondagens há alguns meses, permitindo-lhe reafirmar algum peso na competição entres as esquerdas espanholas.

Recorde-se que, em 2019, a soma da esquerda que tinha ido a votos no Unidas Podemos foi de 10,07% e elegeram então seis deputados europeus.

Uma das surpresas da noite veio da extrema-direita. Um grupo recém-formado, o Se Acabó La Fiesta, de Luis ‘Alvise’ Pérez, ex-assessor do partido liberal Cidadãos, conseguiu eleger. Trouxe a estas eleições um discurso anti-imigrantes, anti-feminismo e contra “os políticos” e a acusação de que o Vox seria “demasiado brando”.

Também significativo é o resultado no País Basco. A esquerda, através do Bildu, fica à frente do PNV que acabou relegado para terceiro lugar, tendo sido também ultrapassado pelos socialistas. A coligação CEUS (que junta PNV, Coligação Canária, o PI balear e os navarros Geroa Bai, Socialverdes e Atarrabia Taldea) elege um eurodeputado.

Extrema-direita cresce em vários países

Como esperado, a extrema-direita subiu relativamente às eleições anteriores. Na Áustria, o FPÖ tornou-se o partido mais votado, com cerca de 27% de acordo com as sondagens, duplicando o seu número de eurodeputados para seis. Direita e socialistas ficam a quatro pontos percentuais.

Na Alemanha, a AfD consegue 16,5%, perto de mais 5 pontos do que nas eleições europeias anteriores, o que lhes vale um segundo lugar à frente do partido do maior partido do governo, o SPD com 14%, e do segundo partido governamental, os Verdes que têm 12%.

Em Itália, a extrema-direita acaba também na frente. O partido da primeira-ministra Meloni, os Irmãos de Itália, consegue eleger 23 deputados no PE, mais 13. O seu principal rival, o Partido Democrata, fica com 19 mas também sobe, neste caso com mais quatro eurodeputados. O saldo da direita acaba por não ser assim tão brilhante dada a queda do Força Itália, fundado por Berlusconi, que perde três deputados, mas sobretudo do trambolhão do outro parceiro de governo, a Liga, o partido de extrema-direita liderado por Salvini e que chegou a ser sensação deste campo político na Europa, perdeu 15 eurodeputados fica agora com sete.

Chipre é outro dos pontos em que se assistiu a esta tendência. O partido anti-imigração ELAM conseguiu um dos seis lugares do país no Parlamento Europeu pela primeira vez na sua história, tendo um pouco mais de 11%.

Na Grécia, a direita governamental ficou na frente, com sete eleitos, mas o primeiro-ministro Mitsotakis admitiu que os objetivos não foram alcançados. A correlação de forças com o Syriza e Pasok a ficar sensivelmente na mesma. Só que o destaque é para a progressão da extrema-direita. As projeções do Ministério do Interior davam a uma extrema-direita dividida entre vários partidos um total de perto de 20%. O maior deles, a Solução Grega, teve 9,3% (elegendo dois e mais do que duplicando o resultado das últimas eleições), a seguir o Niki teve 4,4% e um eleito, o Voz da Razão ficou perto do patamar dos 3% pelo que se terá de esperar pela contagem dos últimos votos para saber se vai ter lugar em Bruxelas.