Os constrangimentos do ano passado mantêm-se e “não foi preciso os médicos atingirem as 150 horas para os constrangimentos nas Urgências do SNS se fazerem sentir de Norte a Sul do país (…) Este Executivo perdeu a oportunidade de ouro de compor o SNS”, preferindo deixar “um SNS depauperado de profissionais, sobretudo de médicos”, alerta Joana Bordalo e Sá, líder da Federação Nacional dos Médicos (FNAM) em declarações ao Diário de Notícias.
A FNAM diz estar a receber mais declarações de escusa de responsabilidade por parte de médicos e sublinha que para além dos constrangimentos já noticiados em Mirandela, por “falta de médicos de Cirurgia Geral, que foram desviados para Bragança, deixando aquela população a descoberto” há “falta de especialistas em Pediatria” em Viseu/Lamego, o que tem levado ao encerramento da Urgência. Também no Barreiro, em Cascais, em Loures e em Leiria, continuam a chegar “escusas de responsabilidade médico-legal pelas condições em que estão a trabalhar”.
“Às vezes, chegam a ter cerca de 200 doentes em que os que têm pulseira amarela podem ter de esperar nove horas e os que têm pulseira azul mais de 11 horas. O trabalho está limitado pela escassez de recursos humanos”, explica a sindicalista sobre a situação nestes hospitais.
Joana Bordalo e Sá fala também de outra situação grave no Hospital Universitário de Santo António, no Porto, onde há relatos de que "a Urgência está dividida, mas aquela que está de porta aberta ao exterior, a Urgência Geral para a área da Medicina Interna, está só entregue a médicos internos e a médicos prestadores de serviço, durante o período noturno. Não há um único médico especialista de Medicina Interna naquele espaço a ver doentes em conjunto com os outros médicos”.
Para a presidente da FNAM, “a situação é grave porque se trata de um hospital universitário com uma das maiores Urgências do Porto. E o serviço estar entregue a médicos internos e a prestadores de serviço no período noturno coloca em causa os cuidados aos doentes”.
Em comunicado, a FNAM classifica estas situações como “dramáticas”. Entre as várias denúncias servem de exemplo: o Hospital de Mirandela, que "está sem médicos de Cirurgia Geral desde outubro de 2023”; o Hospital de Viseu, one o SU de Pediatria está “encerrado durante algumas noites desde o fim de semana de 24 e 25 de fevereiro, por falta de médicos, sem ser capaz de garantir assistência às crianças da região.”; no Hospital Beatriz Ângelo, em Loures, os “médicos também estão a entregar declarações de declinação de responsabilidade funcional por considerarem que não têm as condições de segurança necessárias para a avaliação de doentes.”
O comunicado da FNAM termina com a exigência de uma negociação com o próximo Ministério da Saúde, “com carácter de urgência” e “com seriedade e competência”, se possa valorizar a "carreira médica, recuperar o SNS, acessível, universal e de qualidade para toda a população”.