A eurodeputada do Bloco esteve esta terça-feira na TVI24 para falar da situação em Cabo Delgado, Moçambique. Marisa Matias sublinhou que estamos perante uma “situação complexa que não é de agora” e que a inação da comunidade internacional até ao momento está relacionada com “a descoberta de uma das maiores reservas do mundo em termos de gás natural entre 2010 e 2013”, que veio a traduzir-se numa “maior concentração de multinacionais com intenção de explorar esses recursos”.
A dirigente bloquista assinalou que “a pobreza da população contrasta com a riqueza dos recursos naturais” existentes no território, e que muitas das empresas que se dedicam à sua exploração “investiram numa lógica de militarização para proteger a extração desses recursos”. O que, por sua vez, deu “origem à criação de grupos armados, de mercenários”.
“Com o reforço e o aumento do terrorismo a partir de 2017”, a situação tornou-se “absolutamente trágica”, acrescentou Marisa Matias. Acresce ainda o impacto da “catástrofe ambiental de 2019, o ciclone que afetou mais de 100 mil pessoas”.
A eurodeputada alerta que as populações “estão reféns, estão encurraladas por um lado por grupos terroristas e por outro lado pelas empresas militares privadas” e sublinha a urgência de garantir a necessária ajuda humanitária. Para tal, é preciso haver “disponibilidade e vontade de alguns dos atores que estão no terreno em permitir e agilizar esse tipo de operações”.
Não pondo de parte o envio de uma força de paz, Marisa Matias destaca que a mesma deve surgir a pedido das autoridades moçambicanas e sem colocar em causa a soberania do país.
Condenando veementemente o extremismo islâmico e os grupos terroristas, a eurodeputada destaca, por outro lado, a dificuldade da União Europeia “em assumir a sua responsabilidade”. E lembra a posição da França na exploração de gás e a existência de inúmeros beneficiários diretos do negócio, como o BNP Paribas, a Société Générale, o Crédit Agricole. Estas entidades “não arredam pé” e “beneficiam do apoio de grupos militares que se vão criando para defender as explorações, mas que não defendem de nenhuma forma a população. Pelo contrário, são mais um grupo que ameaça e encurrala as populações”, afirma Marisa Matias.
Se não fosse a presença destas multinacionais, não só da Total, mas de empresas como a ENI/Galp e a Mota Engil, “talvez os Estados estivessem mais libertos para agir”. De acordo com a dirigente bloquista, a inação da comunidade internacional não tem tem sido alheia “à presença das multinacionais nestes territórios e à extração dos recursos naturais de forma absolutamente predadora, como acontece em Cabo Delgado”.