Catarina Martins deu a primeira entrevista após a apresentação da sua candidatura às eleições presidenciais que teve lugar no Porto este sábado. Um dos temas foi o que faria enquanto Presidente da República quanto à eventual participação do Chega num futuro Governo ou mesmo no cenário de uma vitória da extrema-direita nas legislativas
“Comigo Presidente, o Chega nunca será Governo”, respondeu Catarina, explicando que a sua luta “pela cultura política” e “para conquistar maiorias em nome da decência e da democracia”. Assim, caso vença as eleições de janeiro entende que “não haverá um país que dê ao Chega esse poder” e um bom resultado nas presidenciais “é a maior força que existe para travar qualquer cenário desse tipo”.
Mesmo em caso de vitória do Chega nas eleições legislativas, “haverá sempre soluções que passam pela democracia e pela decência”, pois no entendimento que faz da Constituição “forma Governo quem tiver maioria” para o fazer. “E no que depender de mim, as maiorias nunca serão feitas numa democracia com quem não respeita a democracia. E também no respeito pela Constituição: nunca um partido que não quer cumprir a Constituição, que aliás tem afirmações sucessivas de querer subverter a própria Constituição da República Portuguesa, pode fazer parte de um Governo ou de uma maioria de Governo”, acrescentou.
Catarina distanciou-se da prática seguida por Marcelo Rebelo de Sousa ao dissolver o Parlamento após o chumbo de um Orçamento do Estado, prometendo não fazer o mesmo que o atual Presidente. “Eu inspiro-me em soluções que na Europa são comuns, de se promover novas negociações para se chegar a entendimentos. A negociação permanente, que respeita o quadro parlamentar que sai das eleições, é muito importante”, sublinhou a candidata presidencial. Fazer o contrário é dizer que o partido que está no Governo, em vez de estar obrigado a negociar e a entendimentos, “pode simplesmente fazer uma chantagem para ir provocando eleições, vitimizando-se e tentar ter maioria absoluta”.
Outra crítica ao atual Presidente é o seu silêncio sobre o estado do SNS e a atuação da ministra da Saúde, ao mesmo tempo que se pronuncia “sobre todos os casos e todas as coisas absurdas que passam pela Assembleia da República”. E é justamente a Saúde que quer ver no centro das preocupações do seu mandato presidencial, usando a sua influência para “um processo de refundação do Serviço Nacional de Saúde” para que em Portugal as mulheres grávidas não receiem “quando chega a hora de dar à luz”.
Candidatura surge para “não deixar que esta campanha presidencial seja o enterro da democracia em Portugal”
Assumindo que não estava nos seus planos candidatar-se a esta eleição e que só o faz após não terem resultado todos os esforços desenvolvidos no último ano para encontrar uma candidatura de convergência do espaço político da esquerda progressista, Catarina diz que avançou para “não deixar que esta campanha presidencial seja o enterro da democracia em Portugal”, dado o cinzentismo dos protagonistas da disputa eleitoral de janeiro. “E também acho muito sinceramente que era preciso uma mulher nesta campanha eleitoral”, acrescentou.
Presidenciais 2026
“Esta é a candidatura que abraça a força do país que não desistiu e se quer reinventar”
Nesta entrevista aproveitou para responder ao candidato apoiado pelo PCP, que afirmou “não ser uma segunda opção”, por oposição à ex-coordenadora do Bloco: “Eu registei que António Filipe me criticou por eu não ter avançado antes de tentar todos os caminhos da convergência. Ele tem toda a razão. Mas faz-se convergência com quem quer fazer convergência. E eu respeito a posição de toda a gente, mas a minha é que é mesmo preciso falar com o país, criar pontes e essa é uma parte forte da maneira como eu entendo este caminho”. E para o fazer, concluiu, é necessária “uma mobilização larga de setores da esquerda” no sentido da convergência e não apenas de “afirmação do seu espaço político”.
Catarina respondeu também ao apelo de Vasco Lourenço para a desistência das candidaturas da esquerda a favor de António José Seguro. Para a candidata a Belém, “António José Seguro representa os problemas de sempre. Representa o centro que sempre se entendeu para ter uma política que acabou a retirar capacidade à classe trabalhadora, a quem constrói este país. E eu não estou nesse consenso”, pelo que considera que esse apelo à desistência “não tem sentido”.
Nesta campanha, Catarina propõe-se juntar forças para representar um espaço na esquerda que “não estava representado na corrida presidencial”, o da esquerda “que não desiste de todos os direitos, que não desiste de um país melhor, de uma comunidade mais forte, de solidariedade entre as gerações”. E diz que a ausência deste espaço nos debates presidenciais levaria a “uma campanha cinzenta que traria menos força à democracia”.