Bloco questionou Governo sobre despedimentos no JN e TSF e critica recuo no negócio da Lusa

02 de dezembro 2023 - 21:00

A intenção anunciada do Global Media Group de despedir centena e meia de trabalhadores devia merecer "resposta célere" do Governo, defendem os deputados bloquistas. Reforço do Estado no capital da Lusa tinha apoio de uma "amplíssima maioria" parlamentar, diz José Soeiro.

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Capas do Jornal de Notícias e Diário de Notícias. Foto esquerda.net

A ameaça de centena e meia de despedimentos continua a pairar sobre as redações do Jornal de Notícias e da TSF, bem como dos serviços partilhados das publicações do Global Media Group (GMG). Ela foi feita aos representantes dos trabalhadores pela administração e depois referida pelo atual líder do grupo, José Paulo Fafe, como "uma hipótese teórica como qualquer outra".

À indignação dos jornalistas - que lançaram uma petição em defesa do JN que conta já com mais de 4.300 assinaturas - juntou-se a dos sindicatos, com o Sindicato dos Jornalistas a levar o tema ao Palácio de Belém na quarta-feira. O sindicato defende "maior escrutínio das pessoas e sociedades que assumem a liderança de empresas de media", como este fundo e o grupo Ringier que comprou o jornal A Bola e deu início a um despedimento coletivo contestado em tribunal.

No domingo, o Sindicato dos Jornalistas escreveu ao gestor do fundo que adquiriu a maioria do capital da empresa que controla o GMG. O Sindicato questiona Clément Ducasse se ele "dá o seu aval a esta estratégia de diminuir e desprezar um produto ímpar, com um capital humano único" e pede-lhe que "olhe com atenção para as ações da atual administração do GMG e que reequacione este percurso, que, no nosso entender, poderá pôr em causa todo o grupo, ao descapitalizar um ativo com a força do “Jornal de Notícias” e “silenciar” uma rádio com o prestígio e qualidade da TSF".

Para os deputados bloquistas Joana Mortágua e José Soeiro, esses são dois exemplos de que "a gestão de grupos de comunicação social em Portugal por fundos de investimento tem consequências diretas na vida profissional e familiar dos trabalhadores". No caso do GMG, a restruturação acionista após a venda do controlo do grupo do grupo do empresário Marco Galinha para este fundo ameaça agora um quarto dos postos de trabalho do Grupo, além da possibilidade de venda de dois títulos, as revistas "Evasões" e "Volta ao Mundo".

"A ameaça de despedimentos é inaceitável e exige-se uma resposta célere por parte do Governo", acrescentam os deputados na pergunta entregue ao ministro da Cultura.

"Governo fez mal em recuar" no negócio da compra da participação a Lusa

Outro tema abordado nesta missiva é a situação do negócio de compra por parte do Estado da participação no capital da agência Lusa que passou a pertencer a este grupo. O anterior Presidente Executivo do GMG, Marco Galinha, dizia que a venda das participações do Grupo relativas à Lusa estavam bem encaminhadas.

A resposta a esta preocupação veio na forma de comunicado público do Ministério da Cultura na sexta-feira, revelando que o negócio não será concluído pelo atual Governo por não existir "um compromisso político alargado". Pedro Adão e Silva referiu-se à posição anunciada pelo PSD, que defendeu que a decisão deveria ser tomada pelo próximo Governo.

Em reação ao comunicado, o deputado bloquista José Soeiro diz que "o Governo faz muito mal em recuar, com o argumento de que a sua decisão estava dependente do PSD" e discorda da decisão que o negócio não se realize. Perde-se assim "a oportunidade de reforçar a natureza de serviço público da Lusa, que tem um papel estratégico em todo o ecossistema da comunicação social em Portugal", diz Soeiro ao Esquerda.net.

"A compra pelo Estado do capital da Global Media e da Páginas Civilizadas na Lusa era uma boa medida que o Governo tinha anunciado, uma decisão que merecia o nosso apoio e que recolhia uma amplíssima maioria caso fosse sujeita a pronunciamento por parte do Parlamento", sublinha o deputado.


Notícia atualizada a 3 de dezembro com a informação sobre a carta do Sindictao dos Jornalistas a Clément Ducasse.