Depois de um fim de semana de debates do Fórum Socialismo 2022, em Coimbra, Catarina Martins encerrou a iniciativa com um discurso centrado nas respostas necessárias à inflação e à perda de rendimento da população. E não poupou críticas a um Governo que tardou em reconhecer que a inflação veio para ficar e que apesar disso "não mexeu uma palha, nem quanto à tributação dos lucros excessivos das empresas, nem quanto à atualização dos salários".
"Os trabalhadores perderão o equivalente a um mês de salário este ano e o governo de maioria absoluta de António Costa é culpado de não fazer absolutamente nada para o evitar", acusou a coordenadora do Bloco. Mas além da urgência da atualização do salário mínimo, dos salários da Função Pública e das prestações sociais, o Bloco defende que é preciso tomar outras medidas para controlar a inflação, nomeadamente "impor tetos nos custos da energia, da habitação, da alimentação".
"Não aceitamos que se deixe um povo inteiro sufocar pela inflação enquanto a ganância não tem limites. Os Amorim, os Azevedo, os Soares dos Santos fazem a festa com lucros recorde e numa coisa não se distinguem dos fundos internacionais ou do regime chinês que domina a EDP e a REN: fortunas em offshores, lucros a sair de Portugal. O nosso país está a saque", prosseguiu Catarina, responsabilizando "a inação da maioria absoluta" não apenas pelos salários mais curtos mas também pela degradação dos serviços públicos. "A inação do governo é a urgência fechada, é a escola sem professores, é a justiça que não anda, é o país que arde. O que é demais é demais. A inação do governo é na verdade a má governação", concluiu.
Outro aspeto em que essa inação voltou a estar patente este verão é o dos incêndios, "uma desgraça anunciada, anunciada e potenciada pela desvalorização permamente das alterações climáticas" que levam o país a viver a pior seca dos últimos 50 anos. Catarina acusou o Governo de vir agora "prometer mais estudos mas esqueceu tudo o que já foi dito nos estudos até aqui, esqueceu mesmo as recomendações do Observatório que foi criado logo a seguir às tragédias de 2017".
"Não podemos esquecer que o Governo recusou investir um tostão no território" e "se a seca é rastilho, a inação do Governo é também o rastilho dos incêndios", continuou Catarina, concluindo quee transformar as alterações climáticas "num mero slogan ou uma oportunidade de mercado é a política da irresponsabilidade e os incêndios são o retrato dessa irresponsabilidade".
Miguel Cardina: "Fizemos deste espaço um local de militância e de aprendizagem"
Numa sessão que contou também com a intervenção da ativista brasileira Ângela Mendes, coordenadora da Fundação Chico Mendes, o dirigente bloquista Miguel Cardina fez o balanço da iniciativa que juntou cerca de meio milhar de pessoas ao longo do fim de semana em cerca de 50 debates na Escola Avelar Brotero, em Coimbra. "Falámos de muitos temas: uns que estão na ordem do dia e outros que não estão, mas que deviam estar. Falamos de Portugal, da Europa e do mundo. Ouvimos militantes e gente que não é do Bloco. Debatemos propostas e partilhámos dúvidas. Fizemos deste espaço um local de militância e de aprendizagem", sublinhou.
Entre os temas do encontro, destacou o dos problemas do Serviço Nacional de Saúde, lembrando o reconhecimento feito por um ex-governante do PS na semana passada de que “o Bloco tinha razão em tudo” nas condições que apresentou para a viabilização do Orçamento deste ano. "Tínhamos razão em tudo e a razão que tínhamos ontem é ainda mais forte hoje", prosseguiu Cardina, dando o exemplo de Coimbra, conhecida como a "capital da Saúde", que assistiu à extinção do Hospital do Covões enquanto unidade hospitalar de referência. "Desfizeram-se serviços de saúde e entupiu-se o Hospital da Universidade de Coimbra (HUC)", provocando com isso longas filas de espera no serviço de urgência e nas consultadas programadas nos HUC, mas também a criação de "condições ótimas para que aumentasse a procura de assistência nos hospitais privados, instalados mesmo ao lado do Hospital da Universidade", acrescentou o dirigente bloquista, prometendo que o Bloco continuará a fazer uma a oposição firme contra as politicas de "progressivo desmantelamento" do SNS.