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Bancos signatários do compromisso "net zero" reforçaram investimento fóssil

A aliança do setor financeiro foi apresentada como um dos avanços da cimeira de Glasgow. Mas as instituições signatárias não pararam de financiar novos projetos de investimento em combustíveis fósseis, denuncia um estudo de ambientalistas.
Manifestante em Glasgow durante a COP26. Foto Francis McKee/Flickr

Assinada com grande pompa na cimeira de Glasgow em 2021, a iniciativa Glasgow Financial Alliance for Net Zero (GFANZ) juntou 450 instituições financeiras de 45 países com ativos de mais de 130 biliões de euros num compromisso para alinhar os seus investimentos com a meta de limitar a 1,5°C o aumento da temperatura no planeta este século.  

Segundo o estudo do grupo Reclaim Finance, os bancos "continuam a despejar milhares de milhões em financiamento às maiores empresas que desenvolvem novos projetos de combustíveis fósseis". Projetos esses que só serão viáveis economicamente se se assumir que irão continuar a emitir cabono para a atmosfera durante muitas décadas, diz Amanda Starbuck, antiga perita da ONU no grupo que verificava os compromissos climáticos das entidades não estatais.

Ao todo, das 161 instituições financeiras signatárias da aliança "net zero" analisadas pelo relatório, foi possível encontrar pelo menos 211 financiamentos concedidos desde a data da assinatura às maiores empresas poluentes do mundo no setor do carvão, petróleo e gás, entre outros. "Apenas uma mão cheia das instituições membro do GFANZ têm políticas que de facto restringem consideravelmente o financiamento a empresas que desenvolvem novos projetos de oferta fóssil", aponta o relatório. São apenas nove (todas francesas à exceção do banco italiano Unicredit) as instituições que adotaram políticas robustas para acabar com os serviços financeiros a todas as empresas que planeiam construir projetos desse tipo, acrescenta.

Entre a data da assinatura do acordo e agosto de 2022, os 56 maiores bancos signatários financiaram pelo menos 269 mil milhões de euros a 102 empresas responsáveis pela expansão da infraestrutura fóssil. Estas empresas pretendem produzir o equivamente a mais 137 mil milhões de barris de petróleo, o que se traduz em 60% do gás e petróleo extra que a indústria prevê extrair até 2030. A isso podemos somar mais 92 gigawatts de energia a carvão, o equivalente à atual capacidade de produção a carvão do Japão e da África do Sul juntos.

O estudo também indica que o entusiasmo pelo cumprimento das metas climáticas não durou muito. No caso do Citi, BNP Paribas, HSBC, Mitsubishi UFJ e Société Générale, foi apenas dez dias após fundarem a Net-Zero Banking Alliance (NZBA, um subgrupo do GFANZ) que concederam um financiamento de dez mil milhões de dólares à Saudi Aramco, a empresa que mais prevê expandir a produção de petróleo e gás em todo o mundo. Financiamento renovado um ano depois com mais 14 mil mihões de dólares. À cabeça dos investidores na expansão dos projetos fósseis signatários do GFANZ está o fundo BlackRock, que detém 184 mil milhões de dólares em ativos desras empresas. O segundo era o fundo Vanguard, que entretanto abandonou a aliança no mês passado e o terceiro é o Capital Group, com 94 mil milhões de dólares em ativos dessas empresas.

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