Aproveitar inflação para aumentar lucros é normal? Normal é subir salários!

02 de julho 2023 - 16:25

Mariana Mortágua respondeu às declarações da vice-governadora do Banco de Portugal, que afirmou que o aproveitamento da inflação por parte das empresas é "normal" e não foi "deliberado".

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Mariana Mortágua este domingo em Torres Novas. Imagem RTP.

Num almoço com mais de uma centena de aderentes e simpatizantes do Bloco de Esquerda este domingo no Parque das Abertas em Alcorriol, Torres Novas, Mariana Mortágua comentou a entrevista dada pela vice-governadora do Banco de Portugal à Antena 1 e Jornal de Negócios. Nessa entrevista, Clara Raposo defendeu que o aumento dos lucros de grandes empresas à boleia da inflação não foi um movimento "deliberado" e considerou que a situação é "normal".

Para Mariana Mortágua, "a desfaçatez devia ter limites", pois "não é possível continuar a ter representantes do Banco de Portugal e do BCE que vêm a Portugal dizer que as pessoas têm de empobrecer e os salários têm de cair, mas o aproveitamento das empresas nas taxas de lucro dos preços é normal. Não é normal, normal é subir salários!", defendeu a coordenadora do Bloco de Esquerda.

Sobre a intenção anunciada por Clara Raposo de aumentar o limite da taxa de esforço nos novos empréstimos à habitação, Mariana considera que "não se resolve o problema da habitação só aumentando a taxa de esforço, porque isso quer dizer que o Banco de Portugal deixa que as pessoas fiquem ainda mais com a corda ao pescoço".

"Resolve-se o problema da habitação quando os bancos forem obrigados a renegociar os créditos, baixando as taxas de juro que estão a ser cobradas às pessoas", uma vez que com a nova subida dos juros este mês "há pessoas que tinham uma prestação de 300 euros e agora passou para 700 euros. Como é que é possível?", questionou.

"Os bancos têm de ser obrigados a negociar e quem tem de pagar esse custo não são os contribuintes, são os próprios bancos que têm margens financeiras em Portugal que são dez vezes superiores às praticadas na Europa", propôs Mariana Mortágua.

Ainda sobre as medidas que respondam à crise da habitação e o debate na especialidade que prossegue esta semana no Parlamento, Mariana diz que "o Governo quer deixar tudo como está e dar apoios pontuais". E em alternativa, "o que o Bloco defende é que além dos apoios é preciso baixar o preço das casas".

"Não podemos viver num país em que um salário não paga uma casa. As pessoas não querem apoio do Estado, querem que o seu salário pague a casa onde querem viver. Para além de obrigar os bancos a renegociar os créditos, é preciso impor tetos máximos às rendas e garantir que a nova construção tem uma percentagem de 25% das casas para custos controlados", como defendem algumas das medidas que o Bloco entregou para alterar a proposta do Governo.

Estado deve garantir creches públicas em todas as localidades e permitir acordos das autarquias com Segurança Social

Mariana Mortágua quis também destacar outra iniciativa agendada pelo partido para esta semana na Assembleia da República. Trata-se de uma interpelação ao Governo sobre a situação das creches, com propostas para o alargamento da taxa de cobertura, que neste momento ronda os 50%. Uma taxa que tem tido tendência de subida, mas isso "não é porque haja mais creches, é porque há menos crianças", apontou.

Na realidade, há milhares de famílias que não conseguem ter acesso a creches e o Bloco acredita que "é possível fazer diferente". Em primeiro lugar, defendeu Mariana, "as creches devem fazer parte do sistema de educação, obrigando o Estado a garantir em todas as localidades creches públicas, como há a escola pública". Ou seja, "integrando as creches no sistema de educação e permitindo que as Câmaras Municipais possam fazer acordos com a Segurança Social para terem as suas próprias creches".

"Não faz sentido nenhum que num país onde uma em cada duas crianças não têm creches,  o Estado proíba as Câmaras Municipais, que têm os equipamentos e os edifícios, de fazer acordos com a Segurança Social para poder fornecer uma creche aos seus munícipes", pelo que essa situação tem de mudar, concluiu a coordenadora do Bloco.

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