À margem da manifestação que marca o dia de greve dos enfermeiros em Lisboa, a coordenadora do Bloco foi questionada pelos jornalistas sobre a aparente unanimidade das críticas à presidente do Banco Central Europeu, após António Costa e Luís Montenegro se terem juntado na condenação das palavras de Christine Lagarde em Sintra.
"As declarações de Lagarde são criticáveis em toda a linha, ela não pode vir a Portugal dizer que os trabalhadores têm de empobrecer", afirmou Mariana Mortágua. Mas após ouvir as palavras do primeiro-ministro a defender que a inflação está a ser alimentada pelo aumento dos lucros das empresas e não pelo aumento dos salários, Mariana conclui que "Vivemos num reino de hipocrisia", pois "quando é preciso votar a lei que aumenta salários, nem PS nem PSD a votam".
"Ouvimos o primeiro-ministro dizer ao longo de todo o último ano que não podemos aumentar salários porque isso cria uma espiral inflacionista. Foi esta retórica que o Governo construiu e de facto não aumentou salários ao nível da inflação", recordou Mariana, concluindo que António Costa "disse o mesmo que Lagarde está a dizer", pelo que recebeu com "espanto" as críticas do líder do PS.
"É ainda mais espantoso que o primeiro-ministro descubra agora que o problema da inflação são os lucros. O que é verdade. Os bancos acabaram de anunciar lucros e têm uma margem financeira dez vezes superior à dos bancos na Europa. O que quer dizer que os bancos estão a lucrar com a desgraça das pessoas que não conseguem pagar o crédito à habitação. O que fez o Governo e o primeiro-ministro com a sua conclusão de que são os lucros que aumentam a inflação?", questionou a coordenadora do Bloco, para quem "a maior prova que a inflação não é causada pelos salários e que em Portugal toda a gente empobreceu e a inflação continua a subir". Basta então olhar para os lucros das empresas que têm monopólios e oligopólios e Portugal, como nas telecomunicações, grande distribuição e supermercados, energia e lucros da banca.
Mariana Mortágua lança o desafio a António Costa para que "em vez de criticar a senhora Lagarde, faça três coisas": apelar ao presidente da Assembleia da República para a convidar a debater com os deputados, aumentar os salários dos trabalhadores do Estado para compensar a inflação e taxar os lucros excessivos, obrigando os bancos a renegociar os créditos. "Essa é a forma consequente de criticar as declarações de Lagarde. Caso contrário são declarações vazias, são fáceis de fazer, ficam bem, mas não têm consequências práticas", concluiu.