A coordenadora do Bloco participou em Lisboa na manifestação do Dia Nacional de Luta promovido pela CGTP pelo aumento de salários, o direito à saúde e habitação e contra o aumento do custo de vida. E em declarações aos jornalistas insistiu que "o Governo tem poder para poder determinar que a banca assuma o custo que está neste momento a passar para as pessoas na prestação do crédito".
Essa seria a forma de aliviar as pessoas "do aumento dos juros que está a castigar quem tem um crédito e está a deixar de poder fazer outras despesas, por exemplo no supermercado, para conseguir pagar a prestação", prossegui a coordenadora do bloco de Esquerda.
Questionada pelos jornalistas sobre as declarações da presidente do Banco Central Europeu (BCE) feitas em Sintra, ameaçando com novas subidas de juros caso os trabalhadores conquistem aumentos salariais que reponham o poder de compra perdido, Mariana Mortágua lembrou que "a senhora Lagarde nunca conheceu outra coisa na vida a não ser privilégio: era presidente do FMI quando disse aos portugueses que tinham que empobrecer e cortar nos seus salários. Agora está como presidente do BCE, fecha-se num palácio em Sintra com vista para um campo de golfe, e diz aos portugueses que trabalham e que com o seu salário não pagam a conta do supermercado e a sua casa, que têm de empobrecer".
"Não aceitamos a arrogância da presidente do BCE que sentada no seu trono de privilégio vem a Portugal dizer que os trabalhadores têm de empobrecer", acrescentou Mariana, recordando que o BCE "fez um relatório interno que durante muito tempo foi secreto, a dizer que o problema da inflação eram as margens de lucro da grande distribuição e da banca". Mas Christine Lagarde "nunca olhou de frente os banqueiros e os grandes interesses económicos, nunca lhes disse 'vocês têm de empobrecer, têm de reduzir as vossas margens de lucro'. A única decisão que está na cabeça da presidente do BCE é que os salários percam valor e as pessoas empobreçam. Já vimos isso em 2012 e 2013 quando Christine Lagarde era presidente do FMI, e não resultou", apontou.
"O Governo é subserviente quer aos interesses da banca quer à tecnocracia europeia"
Mariana Mortágua já tinha apelado ao presidente da Assembleia da República para endereçar o convite a Christine Lagarde para vir debater com os deputados portugueses a sua política de aumento dos juros e os efeitos sociais que está a causar. Mas "no mesmo dia em que se recusou a comentar este convite, [Lagarde] comentou a cor do campo de golfe do palácio onde se encontrava. É uma afronta aos portugueses que vivem do seu trabalho e não conseguem pagar a casa".
"Lagarde veio dizer na cara do Governo que os portugueses têm de empobrecer e que se os salários aumentarem o BCE ameaça com novas subidas dos juros. O Governo aceita esta ameaça depois de ter aceitado a ameaça dos bancos que continuam a lucrar mais que os outros bancos na Europa com as prestações do crédito à habitação", prosseguiu Mariana, concluindo que "o Governo é subserviente quer aos interesses da banca quer à tecnocracia europeia".
Mas se o executivo do PS não quer dizer aos bancos "que têm de assumir uma parte dos custos ou dizer às empresas que estão a lucrar com a inflação", o Bloco entende que "não tem de ser assim: os bancos podem suportar uma parte do custo dos créditos à habitação e o Governo pode ter medidas de limitação das rendas".
Além da manifestação entre o Cais do Sodré e São Bento, o dia de luta da CGTP ficou marcado por concentrações no Porto, Braga, Setúbal, Castelo Branco e Funchal, além de greves em setores como o dos enfermeiros, no grupo Altice, lojas EDP e em dezenas de empresas por todo o país.
Para a CGTP, "é urgente o aumento geral dos salários e das pensões, pôr fim à especulação que beneficia os grandes grupos económicos, controlar e reduzir os preços de bens e serviços essenciais, taxar os lucros das grandes empresas e alterar o rumo da política que tem vindo a ser seguida e que empurra um número crescente de trabalhadores para a pobreza", afirmou a sua dirigente Ana Pires à Lusa na véspera da mobilização.