Crise do BES

A CT do Novo Banco reuniu nesta segunda-feira com a CGTP para manifestar a sua preocupação com o futuro da instituição, dos trabalhadores e do fundo de pensões. A CGTP está solidária com os trabalhadores e alerta que a venda do banco “pode tornar-se um bom negócio para os compradores, mas num péssimo negócio para os trabalhadores e para os contribuintes”.

Dos 4.900 milhões de euros injetados pelo fundo de resolução no Novo Banco, dois terços (3.300 milhões de euros) devem-se à provisão para perdas por empréstimos duvidosos realizados pelo BES Angola.

Num artigo publicado pela Forbes, Frances Coppola frisa que o BESA é dominado pela elite política angolana. Qualquer que seja a solução encontrada para a crise desta instituição bancária, "o clã presidencial sairá protegido". Crédito de 3,3 mil milhões de euros cedido pelo BES ao BESA foi transferido para o Novo Banco. A garantia soberana do Estado Angolano de cerca de 4 mil milhões de euros foi revogada.

Segundo avança o The New York Times, um grupo de investidores que foi atingido pela crise do BES afirma que “alguns empréstimos duvidosos concedidos pela subsidiária bancária do BES em Angola, o Banco Espírito Santo Angola (BESA), foram para o banco bom e não para o banco mau, onde pertenciam”. Os investidores ponderam avançar contra uma “ação legal contra os reguladores portugueses”.

Este sábado, Lisboa e Porto foram palco de duas concentrações, convocadas através das redes sociais, “contra a utilização de dinheiros públicos no BES”. Sindicato dos Bancários do Norte afirma-se preocupado com o futuro dos trabalhadores do banco. "Não é novidade que nestas crises os trabalhadores pagam sempre", avançou Teixeira Guimarães, vice-presidente desta estrutura sindical.

O jornal Expresso refere que o Novo Banco cancelou a linha de crédito atribuída ao Benfica no valor de 70 milhões de euros. A pressão financeira a que está sujeito o clube pode justificar venda de jogadores, avança o semanário. Já o contrato com Cristiano Ronaldo, que rende ao jogador um valor anual de 700 mil euros, deverá ser renovado, bem como o patrocínio da seleção nacional.

Num artigo publicado esta sexta feira, a The Economist afirma que a garantia de que o resgate do BES não tem custos para os contribuintes é “altamente questionável”. A revista refere a possibilidade de, caso a venda do 'Novo Banco' implique um encaixe inferior a 4.400 milhões de euros, o governo português vir a “pagar uma fatura que poderia ameaçar a estabilidade de outros credores”.

Esta sexta feira, o coordenador do Bloco acusou o Governo de ser “o seguro de vida de banqueiros aflitos e bancos em falência”. Durante o comício que teve lugar em Portimão, João Semedo alertou ainda que, “potencialmente, o buraco do BES pode ser até dez vezes maior do que o do BPN". A eurodeputada Marisa Matias destacou, por sua vez, que a desregulação do sistema financeiro já custou 26% do PIB europeu. A iniciativa contou ainda com as intervenções da deputada Cecília Honório e do dirigente bloquista João Vasconcelos.

O índice da Bolsa de Lisboa teve o pior desempenho a nível mundial nas últimas duas semanas. Os juros da dívida portuguesa também se agravaram. Nesta sexta-feira, as cotações na bolsa voltaram a cair, com os bancos a perderem entre 2 e 4,5%.

O governador do Banco de Portugal disse na AR que a hipótese do resgate do BES só foi colocada em cima da mesa depois do fecho do mercado no dia 1 de agosto. A CMVM desconfia de fugas de informação e declara nesta sexta-feira em comunicado que não foi informada de “outras decisões tomadas relativas ao BES e que, tudo indica, influenciaram a formação dos preços”.

O presidente do Banco Central Europeu diz que as autoridades portuguesas foram "rápidas e eficazes". Mas a nacionalização já era conhecida por muita gente antes das transações em bolsa serem suspensas.

Em editorial, o diário norte-americano diz que a economia europeia não vai recuperar enquanto a saúde do sistema financeiro for disfarçada através de "testes de stress" que não passam de uma pura formalidade.

“Vários fundos especializados em investimentos de alto risco poderão ter ganho dezenas de milhões de dólares com o colapso do problemático Banco Espírito Santo”, segundo avança o The Wall Street Journal (WSJ).

O economista liberal Paul De Grauwe defende que "o Governo está a enganar os portugueses" quando garante que a operação de resgate do BES não terá custos para os contribuintes. Num artigo publicado na Forbes, o analista económico Raoul Ruparel afirma que essa garantia “é, na melhor das hipóteses, irreal e, na pior, deliberadamente enganosa”. Jornal Expresso alerta que “há um contágio à economia que ainda está por acontecer”.

Em 2010, Ricardo Salgado declarou sobre o enriquecimento da família durante o Estado Novo: “O BES é um banco de todos os regimes”. É verdade: o grupo remonta a 1850, tendo passado pela monarquia, a ditadura e a democracia. Foi notória a amizade entre Ricardo Espírito Santo (avô de Ricardo Salgado) e Salazar. Parte do segredo do longevo poder familiar vem da inserção de quadros das empresas em lugares de topo dos governos. Artigo de Marana Borges, Opera Mundi.

João Semedo desafiou o primeiro-ministro a interromper as férias para vir dar explicações aos deputados na quinta-feira sobre uma operação que se traduz num "enormíssimo risco" para os contribuintes.

Moreira Rato foi sócio do sobrinho de Ricardo Salgado num fundo de investimento criado com dinheiro dos Espírito Santo. O fundo acabou nas mãos da Eurofin, que juntava o sobrinho do banqueiro e o contabilista que serviu de bode expiatório pelo descontrolo das contas do GES.

A responsabilidade pelo reembolso dos 4.400 milhões de euros dos contribuintes que o Governo injetou no Novo Banco “é do sistema financeiro”, diz Maria Luís Albuquerque.

Megan Greene, cronista da Bloomberg e economista-chefe da consultora Maverick, garante que os contribuintes portugueses não estão ilesos de serem chamados a pagar o resgate ao BES. 

O governador do Banco de Portugal, Carlos Costa, anunciou, este domingo, um plano de capitalização do Banco Espírito Santo de 4,9 mil milhões de euros, 4,4 mil milhões provirão dos cofres públicos, e a separação dos ativos tóxicos ("bad bank") dos restantes que ficam numa nova instituição, o Novo Banco. (notícia atualizada às 00:38)