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Poluição no Tejo: “O crime não pode compensar”

As ações promovidas pelos bloquistas, que consistiram na distribuição do “Manifesto em defesa do Rio Tejo e dos seus afluentes”, e na colocação de faixas desde Vila Velha de Ródão até ao Cartaxo, tiveram como objectivo principal “envolver mais cidadãos e cidadãs nesta causa que é de todos e de todas”.
No distrito de Santarém, a iniciativa contou com a participação do deputado Carlos Matias.
"Sabemos que existem poderosíssimos interesses por detrás disto, mas o crime não pode compensar. O Governo, os políticos, os cidadãos e os ambientalistas têm de continuar a pressionar para que este investimento seja feito o mais rapidamente possível", avançou o dirigente bloquista.
Carlos Matias destacou que o Tejo "tem estado nos últimos dias sem poluição visível" devido às denúncias dos ambientalistas e à pressão sobre o poder público.
"Esta pressão dos cidadãos, autarcas, políticos e ambientalistas começa a dar alguns resultados e é necessário que se mantenha este nível de exigência para que se faça uma intervenção a sério e que acabe, de uma vez por todas, com a poluição no Tejo", defendeu.
Segundo o Bloco, a empresa Celtejo, de Vila Velha de Ródão, no distrito de Castelo Branco, terá de de fazer um investimento de 80 milhões de euros para assegurar a qualidade dos efluentes que lança no rio.
"O Bloco não é contra as empresas, mas sim contra os crimes ambientais", vincou Carlos Matias.
O deputado manifestou ainda a sua "preocupação com a situação da central nuclear espanhola de Almaraz", localizada a 100 quilómetros de Portugal e na qual foram detetadas falhas no sistema de arrefecimento de serviços essenciais.
"O tempo de vida da central acabou em 2010 e é inaceitável que o Governo espanhol tenha prolongado o seu funcionamento por mais 10 anos, com todos os problemas revelados, como as falhas nos sistemas de arrefecimento ou a ausência de revisões periódicas há 19 anos", referiu.
Leia aqui o “Manifesto em defesa do Rio Tejo e dos seus afluentes”:
“O Tejo está moribundo face aos múltiplos crimes ambientais com destaque para o reduzido caudal, a poluição, a construção de barreiras artificiais e uma ineficaz e incompetente acção de vigilância, controlo e punição dos infractores pelas autoridades responsáveis.
No que se refere ao reduzido caudal, vulgarmente refere-se o transvase Tejo/Segura como a causa principal omitindo que, depois desse transvase, aflui quase dois terços da água que o rio Tejo recebe em Espanha. Na realidade, a água é propositadamente retida, na Extremadura espanhola, em diversas barragens, que se situam depois do transvase e é essa retenção irresponsável que tem influência directa nos reduzidos caudais, não cumprindo assim, o acordado com Portugal na denominada Convenção de Albufeira.
Não bastando o incumprimento da Convenção de Albufeira, as águas vindas de Espanha vêm já contaminadas pelos fertilizantes utilizados na agricultura intensiva, pela eutrofização provocada pela sua estagnação nas barragens da Estremadura e pela descarga de águas residuais urbanas das vilas e cidades espanholas sem o adequado tratamento.
Dissimula-se nas águas do Tejo a poluição mais nefasta e não fosse os movimentos activistas em Espanha, a contaminação radiológica, com origem na Central Nuclear de Almaraz situada apenas a 100 kms da fronteira portuguesa, passaria despercebida. Esta central deveria ter encerrado em 2010 mas o seu tempo de vida foi prolongado. Em 2015, chumbou num dos testes de resistência pedidos pelo Greenpeace evidenciando a falta do mesmo tipo de válvulas que permitiu o acidente nuclear em Fukushima, no Japão. E mais uma falha no passado Domingo. “Fukushima” pode repetir-se!!!
Em território nacional, a poluição provém da agricultura, da indústria, nomeadamente, da pasta de papel e alimentar, suinicultura, águas residuais urbanas e outras descargas de efluentes não tratados, muitas vezes em total desrespeito pelas leis em vigor, valendo a acção de denúncia das organizações ecologistas e dos cidadãos e cidadãs, nomeadamente, através das redes sociais e da comunicação social.
Em resposta a uma pergunta dos Deputados do BE, Carlos Matias e Jorge Costa, o Ministério do Ambiente revelou como potenciais fontes de poluição, em Vila Velha de Rodão, a Celtejo, a Centroliva e Fossa da zona industrial da Câmara Municipal local. Nesta zona, por vezes, o cheiro a químicos é intenso deteriorando a qualidade do ar. A jusante, as águas negras “invadem” o Concelho de Nisa prolongando-se pela lezíria ribatejana acompanhada de abundante espuma, e por vezes, do já mencionado cheiro.
A poluição continua ao longo do curso do rio: Em Mação, a ETAR/Fossa de Ortiga I e II, das Águas de Lisboa e Vale do Tejo (na zona da Ortiga, Mação, é onde a poluição é mais visível); em Abrantes a ETAR da empresa Queijo Saloio e, mais a jusante, o negro historial dos rios Alviela, Almonda e Maior, entre outros, parece não ter fim.
Depois da construção, em 2005, do açude insuflável de Abrantes, a navegabilidade do rio foi interrompida. A arribação de espécies piscícolas reduziu-se drasticamente e, algumas espécies, segundo alguns pescadores, “preferem” subir o rio Zêzere. Acima do açude, os ecossistemas e a biodiversidade sofreram danos, quiçá, irreparáveis. Os afluentes, antes fonte de vida, hoje são simples canais de “condução” de água. Também o normal “curso” dos sedimentos, tais como a areia, foi interrompido provocando a assoreamento em diversos troços do rio que se estende até ao “mar da palha”, já em Lisboa.
Esta catastrófica situação do rio Tejo e seus afluentes tem graves implicações na qualidade das águas para as regas dos campos, para a pesca, para a saúde das pessoas e impede o aproveitamento do potencial da região ribeirinha para práticas de lazer, de turismo fluvial e desportos náuticos, respeitando a natureza, a cultura e a saúde ambiental da bacia hidrográfica do Tejo. As populações que viviam das actividades tradicionais ligadas ao rio, foram mais afectados pois tiveram que procurar outras formas de sustento.
O ano de 2015 foi terrível mas 2016, pelas descargas quase diárias, se nada se fizer, ameaça ser bem pior. É com base nesta dramática realidade que se reflectirá nas gerações vindouras que o Bloco de Esquerda, tendo na sua génese o ideal de um mundo ecologicamente sustentável, afirma de voz plena que a luta pela defesa do um rio Tejo vivo, mais do que um direito, é um dever de todos/as nós e define como principais os seguintes objectivos:
1º. Lutar pela divulgação pública obrigatória de todas as substâncias visíveis e invisíveis que são derramadas no rio Tejo, como forma de informar as populações.
2º. Intervir para que o cumprimento da Directiva Quadro da Água não seja protelado para 2021 e 2027;
3º. Exigir, em sede própria, o estabelecimento e quantificação de um regime de caudais ecológicos, diários, semanais e mensais, reflectidos nos Planos da Bacia Hidrológica do Tejo, em Espanha e em Portugal, e na Convenção de Albufeira;
4º. Exigir uma acção rigorosa e consequente da fiscalização ambiental contra a poluição, crescente e contínua, que cada vez mais devasta o rio Tejo, os seus afluentes e os lençóis freáticos com destaque para o EcoParque do Relvão no Concelho da Chamusca;
5º. Unir esforços para uma intervenção junto do governo espanhol com vista ao encerramento da Central Nuclear de Almaraz, eliminando a contaminação radiológica do rio Tejo e o risco de acidente nuclear;
6º. Propor a realização de acções para restaurar o sistema fluvial natural e o seu ambiente, nomeadamente, a reposição da conectividade fluvial.
Por um Tejo vivo. Não à poluição!
Bloco de Esquerda”
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