1º dia do Fórum Socialismo: 33 painéis em debate

O Socialismo 2019 começou este sábado a sua ronda de debates. O esquerda.net assistiu a algumas das 33 sessões do dia.

31 de agosto 2019 - 21:28
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Fotografia de Paula Nunes
Fotografia de Paula Nunes

Logo às 10 horas, o auditório encheu-se para ouvir Pedro Filipe Soares sobre as encruzilhadas à esquerda. À sua exposição, seguiu-se um debate. O líder parlamentar do Bloco fez o balanço político dos últimos quatro anos e expôs as suas considerações sobre o horizonte estratégico do Bloco.

"Não mudámos a nossa perspetiva. O Bloco não perdeu o seu horizonte de transformação, não perdeu a sua identidade, não perdeu o seu programa político, mas também não perdeu a sua capacidade de pontualmente fazer os acordos, ou alianças, ou juntar forças com quem puder juntar forças para determinados objetivos”, afirmou.

Pelas 11h45, o auditório continuou cheio, com Luís Fazenda a falar sobre a esquerda europeia. O orador concluiu que a esquerda na Europa está a "lutar com toda a convicção para travar os movimentos autoritários de extrema-direita" e para "mudar as políticas liberais que abriram as portas à extrema-direita". "Se não tivermos uma rutura e uma alternativa à esquerda, não conseguiremos mudar nem o panorama europeu nem reforçar os direitos sociais e abrir caminho a uma solução pacífica na Europa, no Médio Oriente e nos vários blocos do planeta", afirmou.

Assim, no debate mencionou-se a necessidade urgente de a esquerda não abdicar de valores sociais e de travar a fuga de setores populares para a direita. “Não rejeitamos qualquer tipo de aliança mas não abdicamos dos valores de esquerda essenciais. É fundamental a unidade na ação de combate ao capitalismo autoritário e à extrema direita mas com valores de esquerda demarcados do sistema. Para isso, é igualmente necessária uma reconciliação histórica dos partidos de esquerda com os movimentos sociais e sindicais”, afirmou Luís Fazenda.

A sua proposta de articulação passa por defender “partidos demarcados à esquerda, com programa de esquerda e em aliança com os movimentos sociais”. “A partir daí, podemos fazer unidade de ação com outros partidos”, concluiu.
 

 

À mesma hora, Ana Jorge debatia com Moisés Ferreira a melhor gestão para o SNS. “O SNS enfrenta hoje alguns desafios. Primeiro, para se poder adaptar às novas dificuldades e às novas realidades com a saúde da população. Por outro lado, é preciso atentar a algo que é muito importante, que são os seus recursos humanos. Se não os tivermos, não conseguimos ter um serviço que resposta às necessidades da população”, afirmou a ex-ministra.

Pelas 14h30, iniciou-se um dos debates mais participados do Socialismo até agora. Francisco Louçã, no auditório da escola, galvanizou a plateia ao falar da organização da direita através das redes sociais, mencionando a “extrema-direitização da direita” por esta via.

O economista referiu os aspetos mais estratégicos que serviam de base ao avanço da cultura da direita, munindo-se, para isso, de exemplos de “instagramização” da vida (“instalie”), ou seja, da forma como se cria uma realidade alternativa nas redes sociais, simulando-se uma persona social e, concomitantemente, simulando-se uma comunidade e criando-se uma forma de envolvimento artificial. As redes sociais alteram, assim, a visibilidade social, criam expectativas irrealistas das redes de amizade e mudam a norma da auto-estima, num parâmetro em que fazer difere de parecer.

O pontapé de partida para este debate foi a ideia de que a direita aproveita este fenómeno, com a sua capacidade de criar senso comum, generalizar ideias e explorar preconceitos. E usa o efeito “bombardeamento por conexão”. Recebe-se a mesma notícia falsa de várias pessoas conhecidas, a “verdade que parece mentira mas é verdade porque tanta gente me disse”. A “realidade mentirosa” passa, então, por confundir realidade com verdade. As mentiras constitutivas de uma cultura de destruição, por sua vez, criam comunidades.

“A direita e a extrema-direita recorrem a uma estratégia de 'fabricação' de um senso comum baseado na exploração dos preconceitos e na propagação do ódio. Criam uma nova realidade, ancorada em "factos" fabricados, e apresentam-na como verdade”, afirmou Francisco Louçã. A resposta para isto, no seu entender, passa pela criação de conteúdos de qualidade. Nas campanhas políticas, os “velhos meios” são “excelentes”. Distribuir panfletos, “pôr o corpo na campanha".

“A agressividade tem um problema: separa as pessoas. A nossa alternativa é juntar as pessoas em torno de maiorias. Onde a agressividade procura fechar as pessoas, nós temos de abrir portas”, afirmou.

À mesma hora, José Manuel Rosendo debatia com Alda Sousa as ligações entre Trump e a Palestina. O historiador acredita que “faz todo o sentido pensar num Estado palestiniano, principalmente porque é isso que os palestinianos querem e é isso que está nos Acordos de Oslo”. Contudo, considera que as condições existentes no terreno inviabilizam esse Estado. “É preciso alterar muita coisa, começando pelos colonatos. É impossível chamar Estado a um conjunto de bolsas de terreno que estão próximas umas das outras. Não é esse o conceito de Estado que qualquer cidadão tem”. Assim, devem, no seu entender, ser criadas condições para que esse Estado faça sentido.

Pelas 16h30, Luísa Sotto Mayor e Ana Campos levaram à plateia um debate premente sobre um tema quase invisibilizado: os direitos na hora do parto. As duas profissionais da saúde trouxeram a debate exemplos de violências ocorridas durante os partos, questionando ambientes demasiado intervencionados e mostrando como, não raras vezes, não são protegidos os direitos de privacidade da parturiente nem tido em conta o seu conforto, numa visão exclusivamente biológica do parto.

No mesmo sentido, também o pós-parto tende a não ter os cuidados necessários, já que são ignorados os síndromes de stress pós-traumático. As duas profissionais defendem que o planeamento do parto deve começar na gravidez.

Ao final da tarde, Mariana Mortágua fez um resumo da história do capitalismo. Para a economista e deputada do Bloco, este debate não é um exclusivo português e pode ser aplicado, entre outros, à Alemanha, cuja economia vai a caminho da recessão. “Há grandes grupos que concentram grande parte dos lucros e dos financiamentos, mas não os investem, não criam emprego, não ajudam ao desenvolvimento produtivo nem ao combate às alterações climáticas”, afirmou, notando que há cada vez mais gente a questionar o efeito perverso para a economia e a sociedade no seu todo da “concentração de riqueza nas mãos de poucos mas muitos poderosos grupos capitalistas".

O Fórum Socialismo continua este domingo, com mais 18 painéis de debate e uma sessão de encerramento.

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