“A Educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tão pouco a sociedade muda”
Paulo Freire
As solicitações para que a Educação mude e se ajuste aos tempos atuais têm sido múltiplas e mais frequentes, provenientes de diferentes setores, sobretudo a partir do advento da designada sociedade da informação e da generalização das tecnologias digitais e de novos meios de comunicação, coincidentes com a escalada neoliberal.
Estas pressões para mudança, porém, escamoteiam outras dimensões do sistema educativo, as quais, quando analisadas em profundidade, revelam permanências típicas da organização liceal que remonta ao século XIX: uma estrutura curricular de pendor positivista, com exames nacionais, na qual as disciplinas e os currículos que correspondem às ciências ditas exatas têm preponderância sobre todas as outras, tendo-se assistido, já nas últimas décadas, à desvalorização curricular das ciências sociais e humanas e das artísticas.
Por outro lado, tudo se exige à escola: que prepare para vida ativa, que prepare para o ensino superior, que seja capaz de “educar para” a saúde, o ambiente, os media, a cidadania, as finanças e o empreendedorismo… E tudo isto sem mudanças de grande monta nos currículos.
Hoje é mais visível do que nunca que o sistema educativo em Portugal se tornou numa manta de retalhos, causada, sobretudo, pela agenda neoliberal e o resultado de dezenas de reformas que se sucedem ao ritmo da mudança do detentor da pasta da Educação.
No entanto, no quadro da escolaridade de 12 anos, que é um enorme avanço civilizacional, são múltiplos os desafios que se colocam. Desde já, a inclusão de todas as pessoas e de todas as diferenças, respondendo a todos/as os que não se encaixam no perfil do designado “aluno médio”, em função do qual foram desenhados os currículos.
A proclamada neutralidade da Educação nunca existiu e nem sequer é possível. Nesse sentido, parece ser importante refletir sobre a mudança a partir da problematização, da reflexão e das análises teóricas, na senda de Paulo Freire, conscientizando os atores educativos e de lhes dar voz.
Hoje, quatro décadas depois de Abril, e com um atraso assinalável relativamente a outros países, é importante, como sociedade, como coletivo, refletir sobre o que se pretende com os 12 anos de escolaridade. Uma escolaridade assente em visões positivistas e estritamente tecnocráticas ignoram outras vertentes suscetíveis de permitir operar num mundo cada vez mais complexo, no qual as respostas nem sempre estão nos manuais, guias, livros de instrução, mas na imaginação, na criatividade, no sentido crítico, na capacidade de questionar, na empatia, no sentido de grupo, de equipa e de comunidade, na capacidade de mobilizar, na solidariedade, nos valores e na ética e no conhecimento das diferentes ciências sociais, que são as que permitem compreender os contextos e os desenvolvimentos diversos da atualidade.
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