Em quase três anos de presidência, Donald Trump não deu um único sinal que permitisse aos palestinianos terem alguma esperança no avanço do chamado processo de paz israelo-árabe. Depois de inúmeras tropelias fazendo gato-sapato do Direito Internacional, há um gesto recente que traduz o que se pode esperar das políticas de Washington: desapareceu a página de Internet que o Departamento de Estado consagrava aos “Territórios Palestinianos”.
O cinismo político, que se esconde na semântica das declarações, surgiu em todo o seu esplendor através da justificação dada por um responsável do Departamento de Estado: trata-se de uma actualização da página (de Internet) e não de uma alteração de política.
A atitude da actual administração norte-americana há muito que não deixa dúvidas quanto a um posicionamento mais do que nunca pró-Israel e, não por acaso, a Autoridade Palestiniana recusa qualquer contacto com os enviados de Donald Trump. Basta lembrarmos o reconhecimento unilateral de Jerusalém como capital de Israel e a consequente mudança da embaixada dos Estados Unidos; o desaparecimento da expressão “Territórios Ocupados” (Israel já o tinha feito utilizando a expressão “Territórios Disputados”) e o embaixador norte-americano a defender que Israel tem o direito de conservar uma parte da Cisjordânia. A juntar a todas as atitudes, Donald Trump promete um Plano de Paz e diz que o vai revelar após as eleições israelitas marcadas para 17 de Setembro. Até lá, como se tudo se resolvesse apenas e só com dinheiro e ao mesmo tempo que os palestinianos se confrontam com uma terrível crise económica, fica a promessa de investimento de 50 mil milhões de dólares nos territórios palestinianos e nos países árabes vizinhos.
Há um aspecto que parece inequívoco: Donald Trump e Benjamin Netanyahu sabem que dificilmente vai existir um outro momento em que os Estados Unidos e Israel tenham lideranças que sirvam tão bem aos mais profundos objectivos da direita sionista e extremista israelita na persecução desse objectivo a que chamam o “Grande Israel”. Não conheço ninguém que tenha conseguido expressar melhor esta proximidade do que Thomas L. Friedman em artigo (“Bibi Trump and Donald Netanyahu”) no New York Times: “(...) o Presidente Trump e o Primeiro-ministro Benjamin Netanyahu são, no essencial, a mesma pessoa, e colocam a mesma ameaça aos respectivos países”.
A era Trump permitiu e legitimou um avanço galopante dos novos colonatos na Cisjordânia, o avanço da colonização em Jerusalém Este, enquanto que o bloqueio à Faixa de Gaza se intensificou. O regime de Apartheid consolidou-se, a ponto de, olhando para o mapa atual dos colonatos, ser difícil de imaginar o que possa ser um Estado Palestiniano num território descontinuado, cercado, em que os muros e os checkpoints impõem um dia-a-dia infernal aos Palestinianos. A lei que declara Israel um estado de/para judeus veio ainda legitimar mais a discriminação já existente. Recentemente, Netanyahu veio propor aos Palestinianos de Gaza, a sofrer o cerco e o bloqueio desde 2006, que emigrem se quiserem, mas com a condição de renunciarem ao regresso (!).
Ao mesmo tempo, as diplomacias israelita e norte-americana fazem toda a pressão para que o BDS (movimento pacífico de boicote, desinvestimento e sanções) seja criminalizado e considerado uma manifestação de antissemitismo. Com alguns sucessos (resolução do Bundestag, p. ex.) mas também com revezes, incluindo nos próprios EUA, em que novas alianças vêm surgindo contra Trump. Nos tempos que correm, as críticas à política de Israel são vistas como antissemitas. A esquerda política e os movimentos sociais, as várias organizações judaicas progressistas, bem como vários grupos muçulmanos, têm sido aliados persistentes na luta contra Trump, o seu racismo e o seu projeto de supremacia branca. Por tudo isso, o futuro da Palestina é também indissociável de quem vier a ocupar a Casa Branca em 2020.
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