'Sei que seria possível construir o mundo justo'. A lucidez de Sophia coloca-nos num lugar onde somos chamados a decidir, a questionar. Um lugar onde a indiferença se mostra imperdoável. Nós, as pessoas sensíveis, incapazes de matar galinhas, pagamos a quem faça o serviço sujo para que as possamos comer. A Sophia é doce, mas não perdoa. Exige a verdade por inteiro para não habitar meio quarto. Acusa o demagogo. Inversamente ao revisor Raimundo Silva, de Saramago, que escreveu um 'não' que muda a 'História do Cerco de Lisboa', a Sofia retira um 'não' que nos responsabiliza irremediavelmente: 'perdoai-lhes, senhor, porque eles sabem o que fazem'. Sabemos sim. E se fazemos assim é porque escolhemos não fazer de outra forma.
'Sei que seria possível construir a forma justa
De uma cidade humana que fosse
Fiel à perfeição do universo
Por isso recomeço sem cessar a partir da página em branco
E este é meu ofício de poeta para a reconstrução do mundo'
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