Enquanto eclodia a Comuna de Paris, um conjunto de jovens intelectuais rasgava em Lisboa novos temas sobre a estagnação portuguesa e assumia a ideia socialista. Como escreve Rosa Fina, a polémica gerada pela proibição das Conferências do Casino contribuiu para a queda de um governo já fragilizado.
João Lázaro detalha os primeiros contactos portugueses com a Primeira Internacional, fundamentais para conhecermos o socialismo português da época, dividido inicialmente entre as referências a Marx e a Bakunine. E mostra a importância da viagem de Paul Lafargue e Laura Marx a Portugal. O mesmo historiador conta-nos como tudo isto acontecia sob vigilância policial. Dois anos depois da Comuna de Paris, as autoridades portuguesas pedem apoio à polícia francesa para vigiar os militantes da Primeira Internacional, no contexto de um forte surto grevista. Será a “missão Latour”, batizada com o nome de código do agente especial francês.
Em 1890, por ação dos socialistas, Portugal é dos primeiros países onde é celebrado o 1º de Maio. Álvaro Arranja conta essa história, recordando os dois portugueses presentes no Congresso de Paris de 1889, que institui a efeméride em homenagem aos mártires de Chicago.
Fernando Rosas escrutina esse vínculo internacionalista e como ele se traduziu nas contradições internas do PSP, uma organização que chega à Primeira República em situação marginal na sociedade portuguesa. Luís Farinha aborda o fim do partido sob o fascismo, depois de viver as três primeiras décadas do século XX “emparedado pelos pujantes movimentos anarquista e republicano”.
Rui Vieira Nery convoca a memória do fado, que foi a banda sonora dos combates do movimento operário nos seus primeiros 50 anos.
Entre as principais figuras que dirigiram, marcaram ou acompanharam a fundação do nosso primeiro socialismo está Antero de Quental. Francisco Louçã traça o perfil de um “revolucionário desesperado” que, com os amigos da Geração de 70, promoveu a utopia socialista. Um poeta e pensador cujo “lado noturno” o mergulhava frequentemente na angústia.
Luís Carvalho apresenta-nos dois outros socialistas da época. Angelina Vidal, “matriarca de um feminismo anticapitalista que, em Portugal, antecede o feminismo republicano, geralmente apresentado como pioneiro. E Azedo Gneco, líder histórico do partido durante 35 anos, cuja figura ilustra, melhor que qualquer outra, as origens e o ocaso desta organização.
As esperanças e projetos de transformação na origem do PSP estão vertidas no Projecto de programma transitorio do Partido Socialista em Portugal, documento histórico que damos a conhecer na íntegra, tal como redigido pelos seus autores em 1877. Desde então, a ideia socialista nunca deixou de estar presente na luta política e no movimento dos trabalhadores. Republicamos, ainda, um documentário de 1994, da autoria dos falecidos jornalistas Alípio Freitas e Mário Lindolfo, sobre o percurso dessa ideia em Portugal, dos finais do século XIX aos anos do PREC.