No único debate televisivo entre os oito cabeças de lista às eleições europeias dos partidos com representação na Assembleia da República, falou-se das novas regras da governação económica, da guerra na Ucrânia, do Pacto das Migrações e da futura configuração do poder em Bruxelas com a aproximação do PPE à extrema-direita.
Sobre o primeiro tema, Catarina Martins começou por lembrar que “cada vez que a União Europeia (UE) teve uma crise, conseguiu ultrapassá-la suspendendo as regras”, pelo que a conclusão a que a UE chega “é que quando tem de fazer investimento, as regras não servem”. E assim sendo, se essas regras “não servem para os estados responderem aos povos quando é necessário, se calhar são más regras”. No entender da candidata do Bloco as regras da governação económica negociadas entre os socialistas europeus e a direita “dão à Comissão Europeia um poder que nunca teve de impor regras aos países sobre como é que podem usar o seu próprio orçamento”. Catarina aproveitou para saudar “os 25 eurodeputados socialistas que quebraram a disciplina de voto porque sabem que é preciso investir”.
No momento em que Ursula von der Leyen, a recandidata apoiada pela AD e o PPE para liderar a próxima Comissão Europeia, está a negociar com a extrema-direita a sua continuidade à frente da Comissão, Catarina criticou o facto de nas “linhas vermelhas” anunciadas por von der Leyen não constar “nem a liberdade das mulheres nem os direitos humanos que estão a ser atacados pela extrema-direita”. E lembrou também que mesmo a “linha vermelha” da distância face a Putin fica em causa com o apoio de Meloni, que governa ao lado de Salvini, um conhecido entusiasta do presidente russo. Da mesma forma, o novo governo dirigido pela extrema-direita nos Países Baixos “foi saudado por Putin”, e “o antigo líder dos liberais que abriu caminho a esta solução é apontado como o próximo secretário-geral da NATO”, apontou a candidata do Bloco.
Sobre a Ucrânia, Catarina reiterou o apoio “na sua autodeterminação e no seu direito ao seu território”, alertando os restantes candidatos que “não deve haver ligeireza” no tratamento da questão. “Nada me choca mais do que os generais de sofá que tão facilmente querem mandar os filhos dos outros para a guerra”, afirmou. O tema da Ucrânia provocou o momento mais insólito do debate, quando o candidato da AD, Sebastião Bugalho, afirmou que Portugal viveu esta terça-feira “um dia de festa” com a visita de Zelensky, numa altura em que se multiplicam as mortes de civis e militares ucranianos na guerra.
No tema do Pacto das Migrações, Catarina acusou o PS e a direita de lamentarem as suas consequências apesar de terem votado a favor do documento. “A UE não pode gastar o que gasta a pagar a países terceiros para fazerem os despejos de pessoas no deserto”, prosseguiu, referindo uma investigação publicada há poucos dias. Nesta campanha, Catarina visitou escolas “com alunos de mais de 30 nacionalidades e vi projetos pedagógicos fabulosos. É nesta integração que precisamos de investir o nosso dinheiro”, contrapôs.
Ao argumento da extrema-direita sobre a suposta política de imigração de “portas escancaradas”, a candidata do Bloco respondeu que “as únicas portas escancaradas que existem são para os vistos gold”, lembrando que “saíram entre 2011 e 2023 um milhão e cem mil portugueses para a emigração e entraram 600 mil pessoas. O principal problema de Portugal é reter quem cá está e quer ficar e para isso é preciso salários dignos”. O que não resolve o problema, insistiu, é o discurso da extrema-direita, que “está a criar uma falsa guerra a quem vem trabalhar, a quem precisa de integração e precisa de documentos para não ser explorado pelas máfias”.
No espaço final para se discutir o investimento europeu, Catarina destacou a necessidade de contrariar a pressão que tem aumentado para dirigir esse investimento para o setor do armamento. O pivô desta pressão “é o governo alemão, onde estão socialistas, verdes e liberais e continuam a permitir que as armas alemãs vão para Netanyahu continuar o genocídio em Gaza”, concluiu, defendendo que as verdadeiras prioridades de investimento devem ser a transição climática e o reforço dos serviços públicos na Europa.