Europeias 2024

Bloco arranca campanha a denunciar "cinismo" do Governo e da UE sobre Gaza

28 de maio 2024 - 12:01

O Governo continua sem reconhecer o Estado da Palestina e foi o alvo das críticas de Catarina Martins no jantar-comício que terminou o primeiro dia da campanha para as eleições europeias.

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Catarina Martins no jantar-comício de Lisboa.
Catarina Martins no jantar-comício de Lisboa. Foto de ANTÓNIO COTRIM/LUSA

No primeiro dia da campanha para as eleições para o Parlamento Europeu de 2024, Catarina Martins criticou o “cinismo” do Governo português quanto à guerra sionista em Gaza. No jantar-comício na Escola Secundária da Portela, no concelho de Loures, a cabeça de lista do Bloco de Esquerda recordou que o Tribunal Penal Internacional exige a retirada das forças armadas israelitas de Rafah e que Josep Borrell, o alto representante da União Europeia para os Negócios Estrangeiros e Política de Segurança, tem vindo a exigir o cumprimento desta sentença mas é “uma voz isolada” na União Europeia.

Pelo contrário, “a maior parte dos discursos têm sido os discursos do cinismo. Paulo Rangel, ministro dos Negócios Estrangeiros português, decidiu dizer que nenhum Governo fez tanto para reconhecer o Estado da Palestina. Esqueceu-se de um pormenor: reconhecer o Estado da Palestina. Isto é o cinismo e é contra o cinismo que nos levantamos”.

Também a União Europeia alinha pelo cinismo quando mantém um acordo de associação com Israel no momento em que este Estado "está a fazer um genocídio em Gaza”.

Assim, nesta campanha, afirma, “contra o cinismo nos levantamos, sanções contra Israel já. Cessar-fogo imediato, Palestina livre”.

Outro exemplo de cinismo apresentado foi a aproximação da direita à extrema-direita. Catarina Martins lembrou ainda o voto contra a inclusão do direito ao aborto na Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia, por parte do Partido Popular Europeu, que os partidos da AD portuguesa integram: “sabemos o que fizeram PSD/CDS na UE quando acharam que o aborto não devia estar na Carta de direitos da UE. Sabemos o que fizeram no Governo quando em 2015 introduziram no acesso à IVG normas humilhantes contra as mulheres”.

O candidato independente desta força política, Sebastião Bugalho, também foi visado pelas suas declarações sobre o tema durante o último debate televisivo. A cabeça de lista bloquista dirigiu-se-lhe para dizer que “o direito à IVG não é uma questão difícil, mas sim fácil e simples: ou as mulheres são respeitadas ou não são”, que “Sebastião é só confusão” e que “quem se engasga sobre direitos das mulheres não merece a nossa confiança”.

“Nunca mais guerra, nunca mais fascismo”

Fabian Figueiredo lembrou a “memória do terror, da perda e do trauma” do Holocausto e da IIªGuerra Mundial para invocar o juramento de Buchenwald: “nunca mais guerra, nunca mais fascismo”, base de “um projeto solidário, humanista e de liberdade” europeu. E também “a Europa do primado da lei, da articulação democrática, das inovações fantásticas do pleno emprego, dos Serviços de Saúde públicos, da redução da semana de trabalho para as 40 horas, da proteção no desemprego e na doença, da Segurança Social”.

Também o líder parlamentar do Bloco referiu o que acontece em Gaza para vincar que “há uma limpeza étnica transmitida em direto nas televisões e nas redes sociais” e “ninguém pode dizer que não sabe”. Pelo que “o governo português sabe ao detalhe o que se passa, e colabora” e “Netanyahu e o seu gangue de criminosos de guerra só prosseguem com a matança porque os seus aliados europeus e ocidentais o permitem”. Para responder, “a Europa precisa de um sobressalto cívico, de uma primavera de paz e de liberdade, que não aceita mais que os seus governos estejam manchados de sangue palestiniano”.

É um "momento de urgência" para reivindicar a Europa das solidariedades

Marcos Farias Ferreira, candidato ao Parlamento Europeu nas listas do Bloco, criticou “populares, liberais e sociais-democratas” que “há muito sequestraram o europeísmo e a Europa” e “transformaram o europeísmo num slogan mercantilista ao serviço das transações e interesses mais obscuros” e “a Europa num significante vazio, subordinado aos projetos de poder circunstanciais de elites ferozmente militaristas e extrativistas”.

Considerou igualmente que “estamos à beira de uma irreconciliável crise de confiança numa União que é cúmplice, em Gaza, dos piores crimes contra a humanidade e que repudia o seu principal capital como projeto de integração”.

E também se insurgiu contra a direita que “começa a preparar-nos para um pacto com os bons fascistas” e contra a “abjeta pulsão repressiva e autoritária desatada nos EUA, na Alemanha, na Itália, na França sobre os estudantes em protesto contra o genocídio na Palestina”.

Daí ser “um momento de urgência para reivindicar a Europa das pessoas, a Europa do trabalho e das conquistas sociais, dos direitos humanos e da solidariedade”.

“A igualdade entre mulheres e homens não é opcional”

Paula Cosme Pinto trouxe as questões dos direitos das mulheres. Abordou o tema da violência contra as mulheres, através de números como que uma em cada três mulheres é vítima de violência física e ou sexual, que uma em cada duas mulheres foi vítima de assédio sexual a partir dos 15 anos e que todas as semanas morrem em média 50 mulheres na Unão Europeia em situações de violência doméstica. Lembrou ainda que “em plena União Europeia continuam a existir casamentos forçados de meninas, meninas a sofrerem mutilação genital feminina”, o tráfico humano que afeta em 80% mulheres e as “mais de 20 milhões de mulheres continuam sem acesso legal e gratuito à interrupção voluntária da gravidez por vontade própria”.

A este propósito, criticou a direita por votar contra a inclusão da defesa deste direito na Carta dos Direitos Fundamentais da UE e por “em alguns países” este direito continuar “a ter inúmeros e inaceitáveis obstáculos”.

As disparidades nos níveis salariais e pensões, a sobrecarga em matéria de cuidados, a desvalorização e subrepresentatividade em cargos públicos, “um gravíssimo déficit democrático”, foram outras situações destacadas.

A candidata pelo Bloco a estas eleições defendeu assim que “a igualdade e a equidade entre homens e mulheres no espaço europeu não é opcional, é um direito que tem que ser cumprido”.

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