À medida que o genocídio avança na Faixa de Gaza, com o bloqueio da entrada da ajuda humanitária a provocar a fome entre a população e os bombardeamentos israelitas a intensificarem-se em todo o território, alguns governos europeus procuram aumentar a pressão para que o governo de Netanyahu ponha fim ao bloqueio.
Por iniciativa da diplomacia neerlandesa e com o apoio de muitos países, entre os quais Portugal, a reunião dos ministros dos Negócios Estrangeiros da UE decidiu iniciar um processo de revisão do acordo de associação UE/Israel, que desde 2000 regula a cooperação económica e o diálogo político entre ambos.
Genocídio
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No final da reunião, a alta-representante da UE responsável pela diplomacia e segurança, Kaja Kallas, afirmou aos jornalistas que a proposta teme o apoio de uma “maioria forte”. A revisão irá determinar se Israel violou o Artigo 2.º do acordo, que define que as relações “serão baseadas no respeito pelos direitos humanos e princípios democráticos”.
À partida, não será difícil concluir que existe essa violação, pois todos os dias são comprovadas novas violações dos direitos humanos por parte de Israel em Gaza, amplamente denunciadas há muitos meses por organizações internacionais independentes. O que será impossível é que a UE dê o passo seguinte, o de suspender o acordo de associação, dado que isso requer unanimidade e Netanyahu conta com apoios de governos como o da Hungria, um dos que votou contra a revisão, ou da Alemanha, que se opôs à proposta de suspensão do acordo feita por Espanha e Irlanda no ano passado.
Provocar a fome aos palestinianos “é uma afronta aos valores do povo britânico”, diz ministro
Dias depois de meio milhão de pessoas se ter manifestado em Londres contra o genocídio em Gaza, também o governo do Reino Unido decidiu aumentar o tom da condenação a Israel, suspendendo as negociações para um acordo de livre comércio entre os dois países. O seu chefe da diplomacia, David Lammy, disse aos deputados que a recusa israelita em deixar entrar milhares de camiões com ajuda humanitária para provocar a fome do povo palestiniano “é uma afronta aos valores do povo britânico”. Lammy classificou ainda como “monstruosas” as palavras dos governantes israelitas que defendem a expulsão dos palestinianos e a destruição de tudo o que ainda sobra no território.
Solidariedade
Meio milhão de manifestantes encheram Londres contra o genocídio em Gaza
Apesar de a retórica ter subido um patamar, entre os trabalhistas e mesmo entre os conservadores há críticas sobre o contraste com a falta de medidas concretas que correspondam a essa mudança. O deputado conservador Kit Malthouse disse que “a raiva e indignação” do ministro eram “apreciadas por todos nós” na Câmara dos Comuns, mas “ele sabe tão bem quando eu que os israelitas querem lá saber do que ele diz nesta câmara”. A verdade é que para além da suspensão das negociações deste acordo, o executivo apenas decidiu alargar sanções a mais três colonos israelitas na Cisjordânia, recusando fazer o mesmo aos membros mais extremistas do governo de Netanyahu.
MSF: Ajuda a conta-gotas é “cortina de fumo” para Israel “fingir que o bloqueio acabou”
Há milhares de camiões com ajuda humanitária da ONU prontos a entrar em Gaza e impedidos de o fazer pelo governo israelita, que apenas autorizou a entrada de uma centena. Mas apenas cinco entraram no enclave e segundo as Nações Unidas, ainda nenhuma ajuda foi distribuída, pois o governo israelita quer montar o seu próprio circuito à revelia das organizações humanitárias que estão no terreno.
Genocídio
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Para os Médicos Sem Fronteiras, essa autorização é uma “cortina de fumo” para Netanyahu poder dizer que quebrou o bloqueio. “A decisão das autoridades israelitas de autorizar a entrada de uma quantidade ridiculamente inadequada de ajuda em Gaza, após meses de um cerco absoluto, é sinal da sua intenção de evitar a acusação de que as pessoas em Gaza estão a morrer à fome, quando, na realidade, as mantêm em situação de quase sobrevivência”, afirmou Pascale Coissard, coordenadora de emergência dos MSF em Khan Younis.