A ofensiva israelita na Cisjordânia dura há várias semanas e já provocou 35 mil deslocados, 26 mil dos quais a fugirem de suas casas nos campos de refugiados de Jenin e Tulkarem. Os ataques intensificaram-se desde o início do cessar-fogo em Gaza, com Israel a dizer ter como alvo os grupos de resistência afetos ao Hamas, Jihad Islâmica e outros.
No domingo, as tropas israelitas abriram fogo e mataram duas mulheres, uma delas grávida, em dois incidentes separados no campo de Nur Shams, em Tulkarem. Segundo a agência de notícias Wafa, já esta segunda-feira o alvo foi o campo de Jalazone, a norte de Ramallah, mais concretamente a casa de Mohammed Rafiq Nakhleh, preso há 20 anos pelos ocupantes e que deverá ser libertado numa das próxima troca de prisioneiros por reféns do Hamas. A loja do irmão de Mohammed foi fechada pelas tropas e a sua mãe foi interrogada, tendo sido realizada uma rusga ao local preparado para o receber.
Segundo o Haaretz, os militares israelitas decidiram aplicar a ordem de abrir fogo sobre os palestinianos, sejam ou não suspeitos, às operações na Cisjordânia, tal como o tinham feito na ocupação da Faixa de Gaza. A mulher grávida morta no sábado terá sido vítima destas novas ordens que dão aos soldados autorização para disparar contra qualquer veículo que se dirija a um posto de controlo vindo de uma zona de combate. Sundus Shalabi, de 23 anos, e o marido, que ficou em estado crítico ao ser baleado na cabeça, tentavam fugir do campo de Nour Shams quando o seu carro foi cravejado de balas das tropas de Israel. A outra mulher morta no sábado foi vítima de um explosivo colocado à sua porta sem aviso antes da casa ser invadida pelos militares. Rafah Al-Asqar morreu quando ia abrir a porta e a bomba explodiu, tornando-se a 75ª vítima mortal dos ataques na Cisjordânia desde o início do ano.
A par dos ataques dos militares, sucedem-se também os ataques dos colonos israelitas com a proteção dos primeiros. Foi o que aconteceu este sábado a sul de Nablus, na localidade de Khirbet Al-Marajem, com um grupo de colonos a atacar os habitantes, semeando destruição, incluindo o corte de oliveiras. Segundo uma comissão de resistência a estes ataques, desde o início de 2025 já se contam 375 ataques de colonos na Cisjordânia.
Livraria Educational Bookstore alvo de rusga em Jerusalém Oriental
No território ocupado de Jerusalém Oriental, a repressão assumiu no domingo outra forma, com a polícia a fazer uma rusga aos três andares da emblemática livraria Educational Bookshop, especializada na cultura do Médio Oriente e no conflito israelo-árabe. Segundo denunciou nas redes sociais Jeff Halper, do Comité Israelita contra as Demolições de Casas e do The People Yes! Network, a polícia destruiu e confiscou muitos livros, prendendo os dois donos da livraria.
“Eles iam passando os livros pelo Google Translate e tudo o que não gostavam, levaram”, diz Morad Mona, irmão dos donos. “Até encontraram um jornal Haaretz com a fotografia dos raptados e perguntaram o que era, dizendo que era um incitamento [ao terrorismo]. Levaram todos os livros que tinham uma bandeira da Palestina”, acrescentou.
Esta foi a segunda rusga num espaço de dez dias a livrarias com literatura árabe em Jerusalém Oriental. A livraria Alquds também foi alvo de buscas e o seu dono, Hisham Iquermawy, continua preso.
Trump insiste em “comprar” Faixa de Gaza
Esta repressão sobre os palestinianos foi reforçada desde a vitória de Trump e ainda mais incitada com as recentes declarações do presidente norte-americano, no quadro da visita de Netanyahu a Washington.
No domingo, Trump insistiu que está “comprometido em comprar e possuir” a Faixa de Gaza, mas que “podemos dá-la a outros Estados do Médio Oriente para construírem partes”.
Palestina
Bloco quer cumprimento do mandado do TPI e fim das importações dos colonatos
A resposta do Hamas não se fez esperar, pela voz de Izat al-Rishq: “Tratar a questão palestiniana com a mentalidade de um agente imobiliário é uma receita para o fracasso, e o nosso povo vai frustrar todos os planos de deslocação e deportação”, disse este dirigente da sua ala política do movimento.
O plano de Trump para transformar Gaza numa “Riviera do Médio Oriente” foi recebido com condenação por parte da ONU e de muitos líderes políticos e com agrado por parte da extrema-direita israelita. Do Governo português, o ministro Nuno Melo disse ser um “assunto da política interna” dos EUA, pelo que não comentaria as palavras de Trump
O Bloco de Esquerda lançou na sexta-feira uma campanha de assinaturas para uma carta dirigida ao Governo português para que condene o plano de limpeza étnica e reconheça o Estado da Palestina.