O presidente dos Estados Unidos da América autorizou a CIA a realizar operações encobertas dentro da Venezuela. Para além disso, Trump diz estar a avaliar a possibilidade de empreender também ataques terrestres diretos no país. O pretexto é a “guerra às drogas” num contexto em que militares dos EUA têm atacado - extrajudicialmente e sem apresentarem quaisquer provas - barcos em território venezuelano, tendo assassinado já 27 pessoas.
Na sala oval da Casa Branca, Donald Trump declarou esta quarta-feira: “certamente estamos a pensar agora em terra porque já temos o mar bem sob controlo”. E garantiu que os ataques que já foram feitos salvaram “25 mil vidas estadunidenses”.
Confirmou em seguida a notícia que tinha sido avançada pelo New York Times de que tinha autorizado a CIA a intervir naquele país latino-americano por haver “milhares” de pessoas, grande parte criminosos, que estariam a entrar nos Estados Unidos a partir da Venezuela e porque há também “muita droga que entra a partir da Venezuela”. Acrescentou ainda: “creio que a Venezuela está a sentir pressão”.
O jornal adiantara que, com esta autorização, não é apenas a dita “guerra às drogas” que está em causa. Os serviços secretos dos EUA ficam também com carta branca para realizar “operações letais” no país e na região. Podem assim “realizar ações secretas contra Maduro ou o seu governo, unilateralmente ou em conjunto com uma operação militar de maior dimensão”.
Ao jornalista que lhe perguntou sobre se teria autorizado aquela agência a “eliminar” o presidente Nicolás Maduro, Trump respondeu que “na verdade a pergunta não é ridícula mas não seria ridículo que eu respondesse?”
Maduro agita possibilidade de golpe Estado promovido pela CIA
Na sua resposta a estas declarações, o presidente venezuelano apelou à rejeição de um possível golpe apoiado pelos serviços secretos dos EUA, o que “nos faz lembrar muito as 30 mil pessoas desaparecidas pela CIA nos golpes contra a Argentina”.
Numa declaração transmitida pela televisão e pelas rádios disse que a América Latina “não quer” os golpes de Estado da CIA, “não os necessita e repudia-os”, apelando a “todos os setores sociais, culturais, políticos, económicos da sociedade estadunidense para dizer não à guerra nas Caraíbas”.
Venezuela
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Anunciou ainda que vai acelerar o plano “Independência 200” nos estados fronteiriços com a Colômbia para assegurar a “defesa integral do país”, ativando aí “Zonas Operativas de Defesa Integral”. O mesmo plano está já ativado nas regiões costeiras que foram alvo de ataques dos EUA.
Petro quer que Conselho de Segurança da ONU se pronuncie sobre os ataques dos EUA
O presidente colombiano Gustavo Petro declarou entretanto que quer que os ataques no mar do Caribe sejam levados ao Conselho de Segurança e à Assembleia Geral das Nações Unidas.
Este chefe de Estado sublinha que violam a resolução que foi aprovada recentemente na Comissão de Direitos Humanos das Nações Unidas que decreta que a política anti-drogas tem de respeitar os direitos humanos”, criticando o “assassinato de 27 latino-americanos”.
Petro pretende ainda que os países da região se unam num protesto oficial, denunciando ainda a vontade dos EUA de se apropriarem das reservas petrolíferas da Venezuela.
Críticas também nos EUA: “São pura e simplesmente assassinatos”
Vários senadores democratas têm igualmente criticado os ataques nas costas venezuelanas. Destacam que não se conhece sequer a identidade das pessoas assassinadas e que estes constituem uso excessivo da força militar sem autorização legislativa para o fazer.
Organizações como a ACLU, União Americana pelas Liberdades Civis, e o Centro de Direitos Constitucionais, pedem também informações e pretendem ter acesso a documentos sobre os ataques. Jeffrey Stein, advogado da primeira destas instituições, aponta que “todas as provas disponíveis sugerem que os ataques letais do presidente Trump nas Caraíbas constituem, pura e simplesmente, assassinatos”. Para ele, é portanto “imperativo o escrutínio público imediato”.