Todos os meses, Patrick Ribeiro reúne um grupo em Lisboa para falar sobre solarpunk. Às vezes nos Jardins do Bombarda, outras na Casa do Comum ou noutros espaços sociais da cidade, porque defende que os “terceiros lugares” são importantes por promoverem a convivência e a colaboração comunitária em espaços que são para as pessoas
Patrick começou a interessar-se pelo solarpunk porque vem de um contexto ligado à sustentabilidade e procurava uma alternativa que lhe permitia combater o “pesadelo” das notícias e das narrativas catastrofistas e violentas do cinema e da televisão. Adepto da ficção científica, procurou alternativas que não se baseassem na distopia da tecnologia, como quem diz 1984 ou Admirável Mundo Novo. E então descobriu o mundo do solarpunk.
O solarpunk é um corrente estética e narrativa que imagina uma utopia verde num mundo pós-capitalista, onde a tecnologia e a natureza se encontram, um pouco como se fossem seguindo os passos de uma planificação ecológica e democrática. O seu objetivo é refazer a esperança e imaginar um outro destino que não o colapso.
“O solarpunk traz qualquer coisa de diferente comparado com tudo o que eu já tinha visto”, diz o organizador dos encontros. “Ando no mundo do ativismo há 20 anos e vejo sempre o tema de criarmos alternativas mais sustentáveis a funcionar em pequenos nichos”, explica, mas o solarpunk tem uma parte “fantasiosa e de inspiração que motiva as pessoas”.
E apesar disso, Patrick não quer reunir para falar só sobre cultura ou narrativas. Inspirado em vários exemplos internacionais, está a construir uma comunidade solarpunk para atuar no dia-a-dia. Com essa visão, procura nas comunidades de energia, na agroecologia, e nas earthships – habitações autossustentáveis – inspiração para a vida real, participando em cooperativas como a Rizoma ou contribuindo para terceiros lugares como os Jardins do Bombarda.
“O movimento climático está sempre a apontar os problemas”, e portanto é preciso começar a “fantasiar” e juntar pessoas para “pensar como queremos os nossos bairros, as nossas ruas”, defende Patrick. E nessa ação propositiva, o solarpunk é uma ferramenta “para ajudar o movimento pela positiva”.
O grupo em Portugal já tem mais de 80 membros em formato digital, e continua a somar pessoas para partilhar conteúdos diariamente e a falar das cidades do futuro, política, literatura e transportes. Na quarta quinta-feira de cada mês, Patrick dinamiza os encontros de introdução ao solarpunk que contam sempre com novas caras, algumas com ligação ao ativismo climático, outras apenas curiosas em saber mais. Na sua “introdução ao solarpunk”, o organizador desta rede explica as origens culturais da corrente, mas apela à sua transformação em movimento político. Depois abre-se espaço para debater de forma introdutória a ideia. Mas Patrick tem como objetivo começar a diversificar temas e falar de coisas mais concretas e fazíveis. O seu primeiro objetivo é pensar como se podia construir uma “biblioteca de coisas” pública em Lisboa.
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A “biblioteca de coisas” (traduzido diretamente do inglês library of things) é uma espécie de biblioteca, mas de objetos. Sobretudo de utensílios e ferramentas que a maioria das pessoas compra, mas que usa muito poucas vezes na vida. Patrick dá o exemplo de um berbequim: “o tempo de vida de utilização médio de um berbequim é de 7 minutos, porque é que cada pessoa compra um para o ter em sua casa?”, com a biblioteca das coisas, os cidadãos podem requisitar um berbequim quando precisarem e depois devolver, reduzindo os custos para cada pessoa, o consumo de ferramentas que pouco usamos na nossa vida e garantindo a circularidade dos objetos.
Para essas ideias, sob o chapéu solarpunk, conseguiu arranjar apoio e já tem sessões marcadas na Casa do Comum e convite para marcar no BioLab de Lisboa. “A biblioteca das coisas não precisa do solarpunk, mas talvez seja mais fácil juntar as pessoas e aliciá-las, dizendo que este é um dos projetos que podemos construir”, explica Patrick.