Saúde

Técnicos superiores de diagnóstico e terapêutica saíram à rua para obrigar a ministra a ouvi-los

29 de outubro 2024 - 16:56

Greve começou na segunda-feira e acaba na quinta-feira, adesão é superior a 80%. Quase mil pessoas estiveram na concentração em Lisboa para fazer a ministra ouvir as suas reivindicações.

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Concentração dos TSDT
Concentração dos TSDT em Lisboa. Fotografia de Bruno Moreira

Alguns pingos de chuva vão caindo, mas nem por isso os cânticos acalmam. “Contrato igual, carreira justa” vão repetindo os técnicos superiores de diagnóstico e terapêutica (TSDT) que se juntaram esta terça-feira em frente ao ministério da Saúde para se fazer ouvir. São quase mil trabalhadores, de todo o país, que se mobilizaram até à Avenida João Crisóstomo, em Lisboa, para lutar pela regularização imediata da carreira dos TSDT.

A greve está a acontecer desde segunda-feira, e continuará até quinta-feira, contando com uma adesão superior a 80%, segundo avança a RTP. A moção que os trabalhadores trouxeram consigo para entregar à ministra da Saúde fala em “falta de equidade e injustiça extrema” relativamente aos outros trabalhadores e profissionais de saúde. As desigualdades, encontram-nas na regularização e valorização da carreira dos TSDT, na comunicação de pontos e pagamento de retroativos, na inexistência de medidas de compensação do risco e penosidade e na ausência de condições específicas e aposentação.

Mas a ministra não recebeu a comitiva composta pelo Sindicato Nacional dos Técnicos Superiores de Saúde das Áreas de Diagnóstico e Terapêutica (STSS), pelo Sindicato dos Técnicos Superiores de Diagnóstico e Terapêutica (Sindite) e pelo Sindicato dos Trabalhadores da Administração Pública e de Entidades com Fins Públicos (Sintap). Aliás, tem sido essa a postura constante da ministra face a estes profissionais de saúde: uma “total e absoluta ausência de resposta do Ministério da Saúde e do Governo”, como se lê no documento que circula.

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“Os sindicatos dos técnicos superiores de diagnóstico e terapêutica convocaram esta greve porque não somos recebidos pela ministra da Saúde há vários meses e na última reunião que tivemos com ela – em Julho – foi assumido o compromisso de que iriam resolver a questão da atribuição de pontos até ao final de agosto”, explica Célia Rodrigues, dirigente do STSS.

O ministério de Ana Paula Martins comprometeu-se com os TSDT, mas não cumpriu. O STSS quer “que se abram as negociações da atualização da carreira, tabela salarial, progressões, pagamento de retroativos e igualdade entre contratos de trabalho em funções públicas e contratos de trabalho individuais e que seja reposta a justiça”.

Para Célia Rodrigues, a postura da ministra tem sido a desvalorizar e invisibilizar os TSDT. “Ela disse que as prioridades são os médicos, os enfermeiros e os farmacêuticos, que são carreiras especiais. Nós somos uma carreira especial há muitos anos e no entanto não fomos recebidos pelo Ministério”, afirma.

Nuno Malafaia, técnico de farmácia que também veio à concentração, concorda. “Esta ministra da Saúde já demonstrou que não tem interesse nenhum em negociar com estes profissionais, que não estamos no topo das suas prioridades. A sua prioridade é mesmo a privatização dos cuidados de saúde primários e do SNS na sua totalidade se possível”.

O técnico de farmácia veio desde o Porto até Lisboa porque os problemas da carreira têm um impacto muito grande. “Tem uma implicação monetária no imediato, e tem uma implicação na parte da motivação que significa um desinvestimento brutal nas equipas do Serviço Nacional de Saúde”, lamenta. Mas a quantidade de trabalhadores em greve e na concentração deixa Nuno muito otimista, pois “a adesão à greve está a ser massiva, e os objetivos foram todos atingidos da nossa parte”.

Vinda do Algarve, Susana Sequeira chegou a Lisboa para reivindicar a atribuição de 1,5 pontos por cada ano de avaliação de desempenho. “Estamos estagnados na nossa carreira, sem qualquer probabilidade de conseguir progredir”, diz.

A técnica de farmácia no Hospital de Faro não esconde o impacto que a degradação das carreiras tem nos profissionais. “Eu já poderia estar numa posição remuneratória muito superior àquela em que atualmente estou, no entanto estou a trabalhar há dez anos e estou na base da carreira, a receber exatamente o mesmo que um colega que inicie funções hoje”.

Devido a estas desigualdades, os trabalhadores que vieram até ao Ministério da Saúde reivindicam o agendamento de uma reunião com o Governo para assinar um protocolo negocial, mas também a atualização da tabela salarial, a resolução das discriminações relacionadas com a revisão de carreiras, a atribuição dos 1,5 pontos por cada ano de avaliação de desempenho, a compensação pelo risco e penosidade, entre outras medidas concretas para melhorar as suas condições de trabalho.

Concentração dos TSDT

Mariana Mortágua critica ministra por não ouvir TSDT

A coordenadora do Bloco de Esquerda esteve presente na concentração, onde pode ouvir pela boca dos próprios técnicos superiores de diagnóstico e terapêutica os problemas que a profissão enfrenta. Em declarações à imprensa, Mariana Mortágua salientou que a luta destes trabalhadores era importante por três razões.

“Primeiro, por uma questão de justiça. As pessoas têm direito a ver a sua carreira reconhecida. O Estado não pode ter um método de avaliação num hospital, e um método diferente noutro hospital. Em segundo lugar, porque quando nós falamos da importância da saúde e do SNS, estamos também a falar destes trabalhadores e trabalhadoras. Em terceiro lugar, quando falamos sobre aumentar os salários médios em Portugal, o que é que se faz para aumentar os salários médios? Comecemos por respeitar cada carreira e as pessoas que estão a trabalhar todos os dias”, exigiu a dirigente bloquista.

“Esta manifestação é um sinal à ministra, que não quis ouvir estas pessoas. Desde o verão que diz que vai ouvir estas pessoas. Fez declarações a falar de outras carreiras especiais e decidiu não falar destas”, criticou Mariana Mortágua. “Foi preciso começar a greve para a ministra dizer que vai ouvir”. E mesmo enquanto a coordenadora do Bloco de Esquerda falava para os jornalistas, os manifestantes cantavam: “Está na hora, está na hora, da ministra vir cá fora!”

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