Alguns pingos de chuva vão caindo, mas nem por isso os cânticos acalmam. “Contrato igual, carreira justa” vão repetindo os técnicos superiores de diagnóstico e terapêutica (TSDT) que se juntaram esta terça-feira em frente ao ministério da Saúde para se fazer ouvir. São quase mil trabalhadores, de todo o país, que se mobilizaram até à Avenida João Crisóstomo, em Lisboa, para lutar pela regularização imediata da carreira dos TSDT.
A greve está a acontecer desde segunda-feira, e continuará até quinta-feira, contando com uma adesão superior a 80%, segundo avança a RTP. A moção que os trabalhadores trouxeram consigo para entregar à ministra da Saúde fala em “falta de equidade e injustiça extrema” relativamente aos outros trabalhadores e profissionais de saúde. As desigualdades, encontram-nas na regularização e valorização da carreira dos TSDT, na comunicação de pontos e pagamento de retroativos, na inexistência de medidas de compensação do risco e penosidade e na ausência de condições específicas e aposentação.
Mas a ministra não recebeu a comitiva composta pelo Sindicato Nacional dos Técnicos Superiores de Saúde das Áreas de Diagnóstico e Terapêutica (STSS), pelo Sindicato dos Técnicos Superiores de Diagnóstico e Terapêutica (Sindite) e pelo Sindicato dos Trabalhadores da Administração Pública e de Entidades com Fins Públicos (Sintap). Aliás, tem sido essa a postura constante da ministra face a estes profissionais de saúde: uma “total e absoluta ausência de resposta do Ministério da Saúde e do Governo”, como se lê no documento que circula.
“Os sindicatos dos técnicos superiores de diagnóstico e terapêutica convocaram esta greve porque não somos recebidos pela ministra da Saúde há vários meses e na última reunião que tivemos com ela – em Julho – foi assumido o compromisso de que iriam resolver a questão da atribuição de pontos até ao final de agosto”, explica Célia Rodrigues, dirigente do STSS.
O ministério de Ana Paula Martins comprometeu-se com os TSDT, mas não cumpriu. O STSS quer “que se abram as negociações da atualização da carreira, tabela salarial, progressões, pagamento de retroativos e igualdade entre contratos de trabalho em funções públicas e contratos de trabalho individuais e que seja reposta a justiça”.
Para Célia Rodrigues, a postura da ministra tem sido a desvalorizar e invisibilizar os TSDT. “Ela disse que as prioridades são os médicos, os enfermeiros e os farmacêuticos, que são carreiras especiais. Nós somos uma carreira especial há muitos anos e no entanto não fomos recebidos pelo Ministério”, afirma.
Nuno Malafaia, técnico de farmácia que também veio à concentração, concorda. “Esta ministra da Saúde já demonstrou que não tem interesse nenhum em negociar com estes profissionais, que não estamos no topo das suas prioridades. A sua prioridade é mesmo a privatização dos cuidados de saúde primários e do SNS na sua totalidade se possível”.
O técnico de farmácia veio desde o Porto até Lisboa porque os problemas da carreira têm um impacto muito grande. “Tem uma implicação monetária no imediato, e tem uma implicação na parte da motivação que significa um desinvestimento brutal nas equipas do Serviço Nacional de Saúde”, lamenta. Mas a quantidade de trabalhadores em greve e na concentração deixa Nuno muito otimista, pois “a adesão à greve está a ser massiva, e os objetivos foram todos atingidos da nossa parte”.
Vinda do Algarve, Susana Sequeira chegou a Lisboa para reivindicar a atribuição de 1,5 pontos por cada ano de avaliação de desempenho. “Estamos estagnados na nossa carreira, sem qualquer probabilidade de conseguir progredir”, diz.
A técnica de farmácia no Hospital de Faro não esconde o impacto que a degradação das carreiras tem nos profissionais. “Eu já poderia estar numa posição remuneratória muito superior àquela em que atualmente estou, no entanto estou a trabalhar há dez anos e estou na base da carreira, a receber exatamente o mesmo que um colega que inicie funções hoje”.
Devido a estas desigualdades, os trabalhadores que vieram até ao Ministério da Saúde reivindicam o agendamento de uma reunião com o Governo para assinar um protocolo negocial, mas também a atualização da tabela salarial, a resolução das discriminações relacionadas com a revisão de carreiras, a atribuição dos 1,5 pontos por cada ano de avaliação de desempenho, a compensação pelo risco e penosidade, entre outras medidas concretas para melhorar as suas condições de trabalho.

Mariana Mortágua critica ministra por não ouvir TSDT
A coordenadora do Bloco de Esquerda esteve presente na concentração, onde pode ouvir pela boca dos próprios técnicos superiores de diagnóstico e terapêutica os problemas que a profissão enfrenta. Em declarações à imprensa, Mariana Mortágua salientou que a luta destes trabalhadores era importante por três razões.
“Primeiro, por uma questão de justiça. As pessoas têm direito a ver a sua carreira reconhecida. O Estado não pode ter um método de avaliação num hospital, e um método diferente noutro hospital. Em segundo lugar, porque quando nós falamos da importância da saúde e do SNS, estamos também a falar destes trabalhadores e trabalhadoras. Em terceiro lugar, quando falamos sobre aumentar os salários médios em Portugal, o que é que se faz para aumentar os salários médios? Comecemos por respeitar cada carreira e as pessoas que estão a trabalhar todos os dias”, exigiu a dirigente bloquista.
“Esta manifestação é um sinal à ministra, que não quis ouvir estas pessoas. Desde o verão que diz que vai ouvir estas pessoas. Fez declarações a falar de outras carreiras especiais e decidiu não falar destas”, criticou Mariana Mortágua. “Foi preciso começar a greve para a ministra dizer que vai ouvir”. E mesmo enquanto a coordenadora do Bloco de Esquerda falava para os jornalistas, os manifestantes cantavam: “Está na hora, está na hora, da ministra vir cá fora!”