Com a contagem dos votos quase a terminar, os resultados das eleições legislativas britânicas da passada quinta-feira confirmam o que as sondagens tinham vindo a mostrar: uma vitória expressiva dos trabalhistas. Há muito que se repetia que a questão em aberto era a dimensão da derrota dos conservadores, depois de anos de trocas de primeiros-ministros, embrulhadas políticas e crise do custo de vida. E a palavra da noite acabou mesmo por ser a “supermaioria”.
Reino Unido
Starmer fez uma purga nos trabalhistas, depois caiu-lhe um país no colo
Contudo, os números de votos mostram muito mais a derrota do executivo do que um aumento de confiança no Labour. Tendo obtido 33,8%, isto representa apenas mais 1,6% do que nas eleições de 2019 que custaram a liderança a Jeremy Corbyn e muito menos do que os 40% obtidos por este em 2017.
Com os Tories a obterem apenas 23,7%, o que implica uma descida 19,9 pontos percentuais, e com um sistema eleitoral por círculos uninominais numa volta, em que é eleito o candidato que tenha apenas um voto mais do que o segundo, os eleitos trabalhistas subiram em flecha mas os conservadores baixaram ainda mais.
Como se previa também, beneficiaram dos votos que fugiram aos Tories sobretudo os liberais democratas e a extrema-direita que finalmente entrou no Parlamento. Depois de anos de tentativas falhadas, e de ironicamente apenas conseguir ser eleito para o Parlamento Europeu, ele que era um dos chefes de fila do Brexit, Nigel Farage, à frente do novo Reform U.K, conseguiu cinco lugares, apesar de ter havido projeções que lhe chegaram dar mais do que o dobro. A sua vitória mede-se tanto por ter conseguido entrar finalmente na Casa dos Comuns como por, depois do destaque obtido na campanha do referendo para a saída da União Europeia, ter sido uma das figuras da campanha, puxando os conservadores ainda mais à direita, sobretudo em termos como a imigração, e multiplicando-se as notícias sobre os seus candidatos a deputados com declarações islamofóbicas, anti-semitas, racistas, homófobas e insultuosas. Ainda assim, o partido tornou-se o terceiro mais votado ao nível do conjunto do Reino Unido.
No computo geral, os trabalhistas ficarão com 412 deputados (mais 211), os conservadores com 121 (menos 251), os liberais democratas com 72 (mais 64), o Partido Nacionalista Escocês com nove (menos 39), o Sinn Fein com sete (os mesmo anteriores), há seis independentes (não existia nenhum), cinco do Reform UK, a extrema-direita (que não tinha nenhum), cinco dos unionistas do DUP da Irlanda do Norte (menos três mas há dois outros partidos unionistas que conseguem eleger um deputado pela primeira vez e outro reeleito por outro partido unionista), quatro dos verdes (mais três), quatro dos galeses do Plaid Cymru e dois do Social Democratic & Labour Party (os mesmos da anterior legislatura).
Como consequência, o agora ex-primeiro-ministro Rishi Sunak anunciou que se demitiria da liderança dos conservadores “mas não imediatamente”, repetindo que deixa o país “mais forte, próspero, mais justo e resiliente” e gabando-se de ter restaurado “estabilidade” à economia.
Já o líder trabalhista, Keir Starmer, guardou a noite para um discurso curto de vitória sem substrato político, sendo esperado que fale quando entrar pelo número 10 de Downing Street, a residência oficial do primeiro-ministro de onde Sunak acabou de sair. Disse na madrugada de quinta-feira apenas “conseguimos! Vocês fizeram campanha por isto, lutaram por isto, votaram por isto e agora isto chegou” e que “sabe bem”.