A coordenadora do Bloco de Esquerda reagiu nas redes sociais à troca de palavras entre Marcelo Rebelo de Sousa e o chefe da missão diplomática da Palestina em Portugal, Nabil Abuznaid, em que o Presidente apontou a responsabilidade do atual conflito aos palestinianos. “Em Gaza, o plano de limpeza étnica é executado como punição coletiva sob um argumento - 'alguém do lado palestiniano começou isto'. Dito por Marcelo ao embaixador da Palestina, envergonha Portugal", afirmou Mariana Mortágua, acrescentando que "duas palavras teriam bastado: cessar fogo".
A ocasião da visita presidencial era a abertura do Bazar Diplomático na antiga FIL, em Lisboa. Marcelo Rebelo de Sousa cumprimentou e trocou palavras com muitos dos diplomatas presentes junto da respetiva banca. Quando chegou a vez da missão diplomática da Palestina em Portugal, o seu chefe, Nabil Abuznaid, fez a oferta de um quadro e agradeceu a Marcelo pelo seu apoio num tempo difícil. O Presidente respondeu que a resolução do conflito cabe sobretudo aos palestinianos, que no seu entender "devem ser um exemplo de moderação". "Mas a ocupação tem de terminar", retorquiu o diplomata. "Isso é outro assunto", disse Marcelo, argumentando que "o facto de ainda não existirem dois estados não significa que possam atacar pessoas inocentes como vocês fizeram. Alguns de vocês...", corrigiu Marcelo, dizendo que não confunde o ataque terrorista com o desejo de paz do conjunto do povo palestiniano.
A troca de cumprimentos podia ter ficado por aqui, mas Marcelo Rebelo de Sousa e o embaixador, rodeados de microfones e câmaras de televisão, prosseguem o diálogo, com este a insistir na necessidade de pôr fim à ocupação israelita. Responde Marcelo: "Mas vocês devem ser cautelosos, inteligentes e pacíficos. E tentem não... vocês sabem que o radicalismo cria um ambiente de radicalismo. E desta vez o radicalismo começou por alguns palestinianos. Um grupo, é claro...". O embaixador da Palestina interrompe: "Isso não é desculpa para esta reação. Foi uma reação brutal, Sr. Presidente. Dez mil pessoas morreram!". Ao que Marcelo responde: "Sim, eu sei, vocês culpam Israel por isso. Mas desta vez foi alguém do vosso lado que começou". "Sr. Presidente, vivemos sob ocupação há 56 anos!", insistia Abuznaid. "Eu sei, mas vocês não deviam ter começado. Enfim, vamos ver o que acontece", concluiu Marcelo, virando costas ao diplomata.
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— vargas (@volksvargas) November 3, 2023
"O Presidente repetiu cinco vezes para a imprensa aqui o ataque de dia 7, mas não mencionou o povo de Gaza"
"Se queremos ser justos, temos de condenar a violência dos dois lados, pelo menos, e de condenar a ocupação, essa é a raiz do problema. Se queremos ser justos. E o Presidente repetiu cinco vezes para a imprensa aqui o ataque de dia 7, mas não mencionou o povo de Gaza. Isto é injusto", declarou Nabil Abuznaid aos jornalistas, visivelmente desapontado com a troca de palavras.
Minutos mais tarde, Marcelo Rebelo de Sousa afirmou que disse a Nabil Abuznaid, que considera uma "pessoa muito moderada", o que julga ser "importante dizer à Palestina, que é defender o seu direito, louvar a moderação dos palestinianos moderados, e condenar os ataques terroristas". E contrapôs com o que diria ao embaixador israelita, caso estivesse representado no Bazar Diplomático: "que o direito de legítima defesa supõe ter em consideração o direito humanitário".