Na ação de campanha de quarta-feira à noite, em Leiria, Mariana Mortágua começou a noite a denunciar os dividendos distribuídos aos acionistas do Novo Banco, explicando que esses acionistas “pegam nos lucros milionários e investem na banca, nas criptomoedas, nos fundos de investimento imobiliário que valorizaram 35% no ano passado”.
“E sabem o que vai acontecer? O preço da habitação vai subir, o preço da Bitcoin vai subir, as ações vão subir, e os ricos vão ficar mais ricos”, disse a coordenadora do Bloco de Esquerda. “Hoje quero falar sobre quem cria essa riqueza. Se eu vos perguntar isso, provavelmente respondem-me uma de duas coisas. A primeira é que é o Estado, e não está errada. Quando dá benefícios fiscais aos fundos imobiliários, por exemplo, está a possibilitar essa acumulação”.
Mas a outra parte, a maior parte destas fortunas, “vem dos salários que não são pagos a quem trabalha”. A dirigente bloquista traçou a distinção entre os operadores de call center, os trabalhadores de fábrica, as caixas do supermercado, quem trabalha por turnos e os donos das grandes empresas.
Legislativas 2025
Rosas e Mariana ouviram vidreiros da Marinha Grande sobre desgaste do trabalho por turnos
“Mas a economia não vai bem? Ouvimos António Costa e Luís Montenegro a dizê-lo. Então se a economia vai bem, porque é que os salários são uma miséria? Porque é que o salário não aumenta mas o número de milionários aumenta?”, questionou Mariana Mortágua.

A coordenadora do Bloco de Esquerda explicou que esta crescente desigualdade existe porque no parlamento e na sociedade há mais gente a defender os patrões do que quem trabalha, sendo interrompida por aplausos. “Nós queremos ter futuro, queremos ter um horizonte que vai para além do fim do mês, que vai para lá de aqui a alguns meses”, afirmou. “A isso chamamos liberdade”.
E no dia 18 de maio, o dono do Pingo Doce, “que ganha dois mil seiscentos e quinze euros à hora mas paga seis euros à hora à caixa do Pingo Doce, vai votar. E tem muita gente a representá-lo no parlamento. E eu quero dizer à caixa que trabalha por turnos no Pingo Doce que o voto dela vale o mesmo que o dele”, concluiu Mariana Mortágua.
“A esquerda que sempre ousou lutar e por isso ousará vencer”
Fernando Rosas entrou no palco ao som do seu próprio remix, que repetia “50 fascistas no parlamento? Vamos a isso”, com direito a aplausos de pé por parte da plateia. A primeira coisa que fez no seu discurso foi saudar os trabalhadores das indústrias do distrito de Leiria.
“Infelizmente, as suas vozes não se fazem ouvir no parlamento”, disse, apontando aos deputados eleitos pelo Partido Socialista, pelo Partido Social Democrata e pelo Chega em Leiria. “A candidatura do Bloco de Esquerda neste distrito tem como propósito renovar a representação popular na Assembleia da República”.
Quanto ao voto útil, o fundador do Bloco garante que não pode ser esse o destino da democracia, uma infinita rotatividade entre Partido Socialista e Partido Social Democrata. “Devemos dizê-lo sem ambiguidades: a falência desse rotativismo sem alternância está na origem da crise do sistema democrático” e que “é o alimento da extrema-direita sem escrúpulos”.
“Votar útil é romper com esse rotativismo pela esquerda”, defendeu. “É preciso escolher entre a corrida belicista aos armamentos, geradora das novas guerras imperiais ou a defesa e a melhoria dos salários, das pensões, da habitação ou da saúde”.
Legislativas 2025
Na greve da Sumol+Compal, Mariana defendeu valorização do trabalho por turnos
Fernando Rosas admite a articulação das forças militares da Europa, mas fora do quadro da NATO e apenas de forma defensiva. A despesa em armamento em Portugal só poderá significar “cortes nos serviços públicos e uma militarização da vida social”, alertou.

Prometendo combater a “demência armamentista” sem tréguas, o fundador do Bloco de Esquerda disse que o partido não é a esquerda que fala da paz e defende mais armas. É sim a esquerda internacionalista que da Palestina à Ucrânia defende a soberania e a paz dos povos.
“Não somos a esquerda de que a direita gosta. Recusamo-nos a aceitar que uma mãe seja separada dos filhos por não conseguir pagar uma casa”, afirmou o candidato do Bloco de Esquerda. “Propomos como medida imediata para a crise da habitação os tetos às rendas”.
Saúde, trabalho por turnos e jovens foram também temas que Fernando Rosas escolheu abordar no seu discurso, dizendo que “esta é a esquerda que não esquece que mais de um milhão de portugueses tiveram de emigrar para escapar à pobreza a que a ditadura lhes condenava”. A partir do tema da emigração, partiu para a defesa dos trabalhadores imigrantes que, sem direitos e sem regularização, são explorados em Portugal.
Com Leiria em mente, o candidato à Assembleia da República aproveitou para denunciar a exploração “impune” de caulino que tem consequências “inenarráveis” no meio ambiente e nas populações locais, que são as únicas que se mobilizam para lutar contra este “crime”.
“Amigas e amigos, em suma, somos neste distrito de Leiria a esquerda que honra a memória do 18 de janeiro de 1934, quando os trabalhadores da Marinha Grande se levantavam contra o fascismo que assombrava o país. Somos a esquerda que tem presente o exemplo da pressão do povo no distrito para a libertação dos presos políticos no Forte de Peniche. Uma esquerda que não desiste e que rema contra a corrente, que não tem medo das dificuldades, de confiança, que sempre ousou lutar e por isso ousará vencer”.
O que é a liberdade?
Foi Marisa Matias que deu início ao debate do Bloco de Esquerda desta quarta-feira, ao citar Jorge de Sena sobre a liberdade, usando o exemplo do apagão para falar do que é essencial. “Há outros apagões no horizonte disse”, avisando contra o trumpismo, as guerras culturais da extrema-direita e o genocídio na Palestina.
“Cuidado com a figura do pai tirano”, disse a deputada do Bloco de Esquerda, disparando contra as figuras autoritárias e totalitárias que a extrema-direita oferece e contrastando-os com a liberdade pela qual as mulheres lutaram. As redes sociais também foram tema quando Marisa Matias lembrou a forma como o ódio se espalha online e como ataca as mulheres nas redes sociais.
José Manuel Pureza foi o segundo a entrar em palco para defender o socialismo como via para a liberdade e para a igualdade. Sob o mote da defesa da liberdade, José Manuel Pureza lembrou que a esquerda socialista não espezinha a diferença, mas segue as palavras de Sérgio Godinho: paz, pão, habitação, saúde, educação. “Para sermos pessoas emancipadas e autodeterminadas não podemos ficar reféns das faltas de condições”.
Legislativas 2025
Mariana visita o bairro do Zambujal e denuncia zonas “que o Estado abandona”
Aí, opôs-se aos liberais, dizendo que “a liberdade dos liberais é o ódio ao Estado”. “Para haver liberdade, tanto é preciso pão como é precisa casa, como é preciso o reconhecimento de cada um e cada uma”, afirmou o ex-deputado.
“Sempre vi no Bloco o partido da luta pela liberdade a sério, pela liberdade daquelas coisas que não podem ter liberdade. E o que temos feito no parlamento é dar voz a isso, é tentar conquistar maiorias para isso”, lembrou.
Na luta da Interrupção Voluntária da Gravidez ou na luta da qualificação da violência doméstica como crime público, na dignificação do salário mínimo nacional, no combate à discriminação de pessoas homossexuais na doação de sangue, José Manuel Pureza vê a força do Bloco que luta pela liberdade de todas as pessoas. O dirigente bloquista lembrou ainda a luta inacabada pela despenalização da morte medicamente assistida, com Marisa Matias a salientar o papel que José Semedo e que o próprio José Manuel Pureza tiveram nessa luta.
“Olho para esta campanha do Bloco e vejo a luta pela habitação, pelas pessoas que trabalham por turnos, pela tributação dos milionários, e o que vejo aí é a luta pela liberdade toda”, concluiu.
Cucha Carvalheiro foi a terceira convidada da noite, aproveitando para falar sobre a cultura e a forma como ela nos lembra que é preciso continuar a lutar pela liberdade, que é uma luta constante. “Uma coisa que nos falta cumprir em Portugal é a democratização da cultura”, afirmou a atriz.

Essa democratização significa o financiamento e a descentralização da cultura num movimento para a fazer chegar “a mais do que apenas as cidades litorais”. Aí, a artista lembrou a conquista do Bloco de Esquerda com a criação da rede de cineteatros. “É importante que haja companhias locais a produzir e apresentar os seus próprios espetáculos”.
“A cultura cria empregos, cria retorno económico, e um país onde a população é instruída significa um país que não é manipulado por qualquer populista, que sabe distinguir as fake news”, concluiu.