No Parque da Zona Norte, à entrada de Almeirim, há uma concentração com dezenas de trabalhadores da Sumol+Compal, em greve pelo aumento geral da sua remuneração e das condições de trabalho. Há 10 anos que estes trabalhadores perdem poder de compra, muitos deles sem receber aumentos. “Tenho na minha mala um documento de 2011 que mostra que o salário estava 300 euros acima do salário mínimo nacional”, diz um dos trabalhadores. “Agora estamos colados ao salário mínimo”.
Em roda, à conversa com Mariana Mortágua, um dos trabalhadores brinca que “havia o grupo de lesados do BES, devia haver o grupo de lesados da Sumol+Compal”. A coordenadora do Bloco de Esquerda veio à concentração dos trabalhadores para mostrar a solidariedade do Bloco de Esquerda com a luta e ouvir quem trabalha na empresa.

“Assim que cheguei aqui disseram-me uma coisa que não sabia: o dono da Sumol+Compal está na lista dos 50 mais ricos do país, na posição 39, com uma fortuna avaliada em 75 milhões de euros”, diz Mariana Mortágua enquanto intervém a convite dos trabalhadores.
Aos trabalhadores, a dirigente bloquista diz que na política “há dois lados”. “Há o lado que defende a família Eusébio, que tem os 75 milhões na conta, e o lado que defende os 1.000 trabalhadores da empresa”.
“Primeiro veio a troika, depois a pandemia, depois a guerra da Ucrânia e depois a crise de inflação. Tudo foi desculpa para se cortar salários e para se congelar salários, enquanto os patrões aumentavam os lucros”, disse.
Das nove máquinas que a Sumol+Compal tem naquela fábrica, apenas duas estão a trabalhar por causa da greve. Os trabalhadores que falam ao microfone saúdam a adesão e frisam a necessidade de continuar. Referindo-se ao discurso da coordenadora do Bloco de Esquerda, um dos trabalhadores diz que “na Sumol+Compal, a troika começou muito antes”.
Paulo Fernandes, dirigente do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria Alimentar do Centro, Sul e Ilhas (STIAC), explica ao Esquerda.net que desde a fusão da empresa, em 2008, que a perda de poder de compra daqueles trabalhadores piora. A adicionar a isso, os 300 trabalhadores desta fábrica trabalham por turnos.
“Até à entrada da troika recebíamos o subsídio noturno a 50%, logo aí começámos a ter uma perda para 37%”, explica. “Todas as semanas rodamos, e temos muita malta que se vai embora, inclusivamente malta nova, porque não estão a aguentar. Não se sentem remunerados para trabalhar à noite, porque conseguem ganhar o mesmo a trabalhar de dia. E depois é o desgaste psicológico”, explica.

O operador de enchimento João Carvalho trabalha por turnos há 18 anos e cada vez nota mais que “o desgaste é maior com o passar dos anos, e isso é igual com os meus colegas”. Os trabalhadores “não se sentem reconhecidos”, diz, e isso sente-se sobre tudo na remuneração. Também João Esteves, conferente na fábrica, reconhece que a nível de desgaste físico, psicológico, de regulação de sono e cansaço, o peso é grande. “O aumento do subsídio de turno é importante, porque quem trabalha por turnos sabe o desgaste que isso implica”.
Aos jornalistas, a coordenadora do Bloco de Esquerda disse que “na luta desta empresa está a luta do país inteiro”, uma vez que estes trabalhadores recebem um salário próximo do salário mínimo e não conseguem aumentos salariais.
“O Bloco de Esquerda defende várias coisas que podem dar resposta a estes trabalhadores, como a obrigatoriedade do subsídio de refeição”, explica Mariana Mortágua. “Estes trabalhadores reivindicam salários mais altos, um subsídio de turno à altura do seu esforço”, e por isso “o trabalho tem de ser protegido”.
Para a dirigente bloquista, é preciso reforçar a contratação coletiva e garantir que os trabalhadores conseguem negociar salários mais altos. A isso soma-se o aumento do subsídio por turnos, que é “uma forma de aumentar o salário”.