Legislativas 2025

Mariana visita o bairro do Zambujal e denuncia zonas “que o Estado abandona”

06 de maio 2025 - 21:10

Mariana Mortágua reuniu-se com moradores e visitou projeto de apoio educativo, num bairro onde a comunidade se organiza para colmatar as lacunas de um Estado ausente.

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Mariana Mortágua com moradores do Zambujal
Mariana Mortágua com moradores do Zambujal. Fotografia de Esquerda.net

Daniela tem 25 anos e mora no bairro do Zambujal, na Amadora. Estuda Direito e é voluntária na associação CASA. Trabalha com a Associação de Moradores do Bairro do Zambujal para fortalecer a comunidade, porque “quando as pessoas não têm esperança, não acreditam em nada”. Como estuda Direito, diz que sabe “o que é a justiça na teoria, mas crescer num meio de desigualdade dá-nos uma perceção diferente”.

É por causa da justiça, ou da falta dela, que Mariana Mortágua visitou na tarde desta terça-feira a Associação de Moradores deste bairro. A coordenadora do Bloco de Esquerda diz que há muitas zonas do país “que o Estado abandona”, onde “não há serviços públicos, não há transportes necessários, não há apoio escolar”.

Marana Mortágua no Bairro do Zambujal
Marana Mortágua no Bairro do Zambujal. Foto de In~es Sena

Mas, no Zambujal, “há uma comunidade que se organiza para prestar os serviços que o Estado não quer prestar”. A dirigente do Bloco de Esquerda visitou o espaço do projeto Percursos Acompanhados – E9G, que permite que as crianças tenham acesso a apoio ao estudo, atividades culturais, visitas a museus e outras atividades.

Falando com a coordenadora do projeto, Marli Godinho, Mariana Mortágua ouviu a história de um espaço que é essencial para o sucesso escolar das crianças daquele bairro, mas que é marcado pela precariedade de um financiamento que é renovado anualmente, e que deixa a pequena equipa de quatro pessoas a viver na incerteza. Apesar disso, é um espaço que apoia mais de 50 crianças daquele bairro, muitas que estudam naquela área, com projetos que abrangem as idades mais novas e vão até à idade adulta. “Isto é um serviço público”, comentou a dirigente bloquista, lamentando que os projetos comunitários muitas vezes dependam deste financiamentos a curto prazo.

Acompanhada de Ackssana Silva e Jorge Costa, candidatos do partido à Assembleia da República pelo distrito de Lisboa, a coordenadora do Bloco de Esquerda participou numa conversa dentro do espaço da Associação de Moradores, com moradores que expuseram os problemas dos bairros, os seus receios e esperanças.

“É injusta a imagem que criam deste bairro”, diz José, mediador cultural que trabalha no bairro. “O bairro do Zambujal é uma comunidade riquíssima a todos os níveis, em generosidade e em criatividade”.

Reunião com moradores do Bairro do Zambujal
Reunião com moradores do Bairro do Zambujal. Foto de Inês Sena

Miguel, morador do bairro que acabou de estudar há pouco tempo, diz que já viu “muitas injustiças” no bairro. “Mas cresci aqui e sinto-me na vontade e na justiça de trazer mais melhoria para o bairro. É importante sermos ouvidos e escutados, porque é uma comunidade que pode vir a dar frutos”. Para isso, salienta: “aqui trabalha-se com pessoas, não se trabalha com números”.

A associação de moradores ajuda quem vive no bairro com questões de documentação e alimentação. “Infelizmente temos poucos recursos humanos e pouco dinheiro”, comenta Edgar, um dos dirigentes da associação. “É importante haver mais apoio para as associações do bairro do Zambujal, porque precisamos de apoio para poder desenvolver mais e chegar mais longe”.

Mas a esperança não vem só. Há também muita desilusão com as condições atuais do bairro. Duas moradoras, uma que vive no bairro há mais de 50 anos e outra há 42 anos, dizem que o bairro “nunca esteve tão mal”, e queixam-se da degradação da habitação. “Vamos ao IHRU e o IHRU não faz caso”, lamenta uma delas.

Naquele bairro com 5.000 pessoas, muitas das habitações estão degradadas, há janelas partidas, campainhas estragadas e lixo na rua. Um dos moradores diz que teve de pintar a fachada da própria casa, porque a junta de freguesia não fazia nada e a Infraestruturas de Portugal – que é proprietária – também não. “Só que nem toda a gente tem dinheiro para comprar a tinta”, explica.

Depois de ouvir os moradores, Mariana Mortágua pede a palavra para intervir sobre alguns dos temas que os moradores trouxeram, desde a habitação, à segurança e à justiça. “A semana passada vim cá. Desci as escadas até às casas que estão de frente para Alfragide, e é brutal a diferença. Uma pessoa olha para o lado de Alfragide tem os jardins arranjados, caixotes do lixo, tudo. Chega-se ao Zambujal e nota-se que a Junta e a Câmara não fazem o que deviam fazer”, diz.

Essa é uma injustiça que “não é boa para quem vive aqui, nem ajuda a construir comunidade aqui”. A dirigente bloquista salienta que não há diferença entre quem vive neste bairro ou em qualquer outra zona de Lisboa, que são escolhas políticas de desinvestir em certas áreas do território.