Daniela tem 25 anos e mora no bairro do Zambujal, na Amadora. Estuda Direito e é voluntária na associação CASA. Trabalha com a Associação de Moradores do Bairro do Zambujal para fortalecer a comunidade, porque “quando as pessoas não têm esperança, não acreditam em nada”. Como estuda Direito, diz que sabe “o que é a justiça na teoria, mas crescer num meio de desigualdade dá-nos uma perceção diferente”.
É por causa da justiça, ou da falta dela, que Mariana Mortágua visitou na tarde desta terça-feira a Associação de Moradores deste bairro. A coordenadora do Bloco de Esquerda diz que há muitas zonas do país “que o Estado abandona”, onde “não há serviços públicos, não há transportes necessários, não há apoio escolar”.

Mas, no Zambujal, “há uma comunidade que se organiza para prestar os serviços que o Estado não quer prestar”. A dirigente do Bloco de Esquerda visitou o espaço do projeto Percursos Acompanhados – E9G, que permite que as crianças tenham acesso a apoio ao estudo, atividades culturais, visitas a museus e outras atividades.
Falando com a coordenadora do projeto, Marli Godinho, Mariana Mortágua ouviu a história de um espaço que é essencial para o sucesso escolar das crianças daquele bairro, mas que é marcado pela precariedade de um financiamento que é renovado anualmente, e que deixa a pequena equipa de quatro pessoas a viver na incerteza. Apesar disso, é um espaço que apoia mais de 50 crianças daquele bairro, muitas que estudam naquela área, com projetos que abrangem as idades mais novas e vão até à idade adulta. “Isto é um serviço público”, comentou a dirigente bloquista, lamentando que os projetos comunitários muitas vezes dependam deste financiamentos a curto prazo.
Acompanhada de Ackssana Silva e Jorge Costa, candidatos do partido à Assembleia da República pelo distrito de Lisboa, a coordenadora do Bloco de Esquerda participou numa conversa dentro do espaço da Associação de Moradores, com moradores que expuseram os problemas dos bairros, os seus receios e esperanças.
“É injusta a imagem que criam deste bairro”, diz José, mediador cultural que trabalha no bairro. “O bairro do Zambujal é uma comunidade riquíssima a todos os níveis, em generosidade e em criatividade”.

Miguel, morador do bairro que acabou de estudar há pouco tempo, diz que já viu “muitas injustiças” no bairro. “Mas cresci aqui e sinto-me na vontade e na justiça de trazer mais melhoria para o bairro. É importante sermos ouvidos e escutados, porque é uma comunidade que pode vir a dar frutos”. Para isso, salienta: “aqui trabalha-se com pessoas, não se trabalha com números”.
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Mariana acompanha trabalhadoras domésticas no transporte matinal para mostrar o “Portugal invisível”
A associação de moradores ajuda quem vive no bairro com questões de documentação e alimentação. “Infelizmente temos poucos recursos humanos e pouco dinheiro”, comenta Edgar, um dos dirigentes da associação. “É importante haver mais apoio para as associações do bairro do Zambujal, porque precisamos de apoio para poder desenvolver mais e chegar mais longe”.
Mas a esperança não vem só. Há também muita desilusão com as condições atuais do bairro. Duas moradoras, uma que vive no bairro há mais de 50 anos e outra há 42 anos, dizem que o bairro “nunca esteve tão mal”, e queixam-se da degradação da habitação. “Vamos ao IHRU e o IHRU não faz caso”, lamenta uma delas.
Naquele bairro com 5.000 pessoas, muitas das habitações estão degradadas, há janelas partidas, campainhas estragadas e lixo na rua. Um dos moradores diz que teve de pintar a fachada da própria casa, porque a junta de freguesia não fazia nada e a Infraestruturas de Portugal – que é proprietária – também não. “Só que nem toda a gente tem dinheiro para comprar a tinta”, explica.
Depois de ouvir os moradores, Mariana Mortágua pede a palavra para intervir sobre alguns dos temas que os moradores trouxeram, desde a habitação, à segurança e à justiça. “A semana passada vim cá. Desci as escadas até às casas que estão de frente para Alfragide, e é brutal a diferença. Uma pessoa olha para o lado de Alfragide tem os jardins arranjados, caixotes do lixo, tudo. Chega-se ao Zambujal e nota-se que a Junta e a Câmara não fazem o que deviam fazer”, diz.
Essa é uma injustiça que “não é boa para quem vive aqui, nem ajuda a construir comunidade aqui”. A dirigente bloquista salienta que não há diferença entre quem vive neste bairro ou em qualquer outra zona de Lisboa, que são escolhas políticas de desinvestir em certas áreas do território.