Legislativas 2025

Rosas e Mariana ouviram vidreiros da Marinha Grande sobre desgaste do trabalho por turnos

07 de maio 2025 - 20:04

O cabeça-de-lista pelo distrito de Leiria às eleições legislativas e a coordenadora do partido ouviram problemas dos trabalhadores por turnos da indústria vidreira numa sessão cheia. Fernando Rosas lembra luta histórica dos vidreiros e aponta que Bloco está pronto para a luta.

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Mariana Mortágua e Fernando Rosas com trabalhadores por turnos.
Mariana Mortágua e Fernando Rosas com trabalhadores por turnos. Fotografia de Gabriela Carvalho.

A conversa sobre trabalho por turnos com trabalhadores da indústria da Marinha Grande é aberta por Mariana Mortágua, que explica que o Bloco tem reunido várias vezes com o vidreiros ao longo do último ano e por isso decidiu que na campanha tentaria dar voz a estes trabalhadores. A coordenadora do Bloco de Esquerda esteve esta manhã com os trabalhadores por turnos da Sumol+Compal em Almeirim para lembrar que o partido defende o aumento das condições de quem trabalha por turnos.

Depois de abrir a sessão, a dirigente bloquista passa a palavra aos trabalhadores da indústria vidreira para dar a conhecer as condições de quem ali está. “O trabalho por turnos é uma condição que abrange muitas profissões que são diversas”, explica Gil. Mas apesar de enfermeiros, trabalhadores de fábrica e de serviços serem profissões muito diferentes, estas profissões estão unidas pelo desgaste do trabalho por turnos.

“A família tem sido o nosso suporte, o apoio social é muito pouco neste campo”, diz Gil. “Há momentos que não se criam, em que não somos recordados. Momentos em que nos contam histórias onde não estivemos, que não vivemos”. Para além do desgaste físico e psicológico, e o facto de os trabalhadores por turnos viverem vidas do avesso, há também esse peso da ausência.

Gil passa a palavra a António, que explica o efeito que o trabalho por turnos tem na família. “A minha pequenina tem sete anos e já chegou a mandar mensagens áudio no Facebook ao meu chefe para me deixar sair mais cedo. No Natal pediu-lhe para não me deixar ir trabalhar”.

A indústria vidreira é contínua porque os fornos não podem ser desligados. Por isso, o trabalho na fábrica está dividido em três turnos de oito horas. “Estamos numa indústria em que quando um forno é ligado, não pode ser desligado durante 15 ou 20 anos”, explica Gil.

O trabalho de fábrica, devido à queima de grafite, prejudica a saúde. A isso soma-se o “problema do sono”, como lhe chama Gil. “Nos primeiros anos o corpo consegue lidar, mas depois disso é complicado” e “todos os trabalhadores da indústria têm queimaduras de vidro, é tão pesado que tomamos opióides para ir trabalhar”, explica.

O calor, o barulho, o ambiente “é verdadeiramente desgastante”, diz. “Só vemos o Bloco a falar de trabalhar por turnos. Os outros falam do IRS Jovem, da saúde, mas não querem saber”.

Fernando Rosas, candidato do Bloco de Esquerda pelo círculo de Leiria e fundador do partido, lembra que no caderno reivindicativo dos vidreiros consta a exigência de que o trabalho por turnos seja reconhecido como de desgaste rápido. “Isso facilitaria termos acesso a baixas médicas sem ter de estar sempre a ultrapassar a burocracia”, explica Gil.

Pedro começou a trabalhar por turnos aos 36 anos. “Até foi bom, só que depois a alteração do nosso sistema é péssima. Não consigo dormir mais que três horas. Quem tem preocupações sobre esta profissão devia estar no nosso local de trabalho durante umas horas para perceber as condições de trabalho, são temperaturas e pesos enormes.

Mariana Mortágua e Fernando Rosas com trabalhadores por turnos
Fotografia de Gabriela Carvalho.

Todos os trabalhadores que falam mencionam o desgaste psicológico do trabalho por turnos, o impacto nas relações familiares e profissionais e no sono. “Acho que devíamos de facto ser profissão de desgaste rápido, porque é preciso muita resistência”.

“Fala-se muitas vezes do dinheiro”, diz Nuno, candidato do Bloco de Esquerda que trabalha por turnos há 34 anos. “É lógico que a melhor maneira de sermos compensados é com aumentos, mas o mais importante tem a ver com o descanso que não temos, os problemas que temos a nível de relacionamento familiar e social”.

As propostas do Bloco

O Bloco de Esquerda está a dinamizar a petição “Respeito com quem trabalha por turnos”, para defender quem trabalha por turnos em Portugal. A petição já recolheu dezenas de milhares de assinaturas e defende várias medidas nesse sentido.

Entre as medidas estão a exigência de um subsídio por turnos obrigatório mínimo de 30% do salário base, 24 horas de descanso na mudança de horário de turno , máximo de 35 horas semanais para quem faz trabalho por turnos ou noturno, antecipação da idade de reforma em seis meses por cada ano de trabalho por turnos, critérios rigorosos para as autorizações de laboração contínua, entre outras.

Na sessão com os vidreiros, Mariana Mortágua salienta que, ao iniciar a campanha de defesa de quem trabalha por turnos, se deu a conhecer que nas mais diversas áreas da sociedade desde a segurança à fábrica, do hospital ao aeroporto, da livraria ao supermercado. “Em todo este trabalho por turnos há um desgaste único, emocional e físico, de quem não consegue ter o seu próprio ritmo”, diz. “Viver num ritmo que muda todos os dias e ainda ter de compatibilizar isso com um trabalho desgastante é esmagador”.

“O que tenho testemunhado pelo país fora é a dureza do horário. O problema do sono, a impossibilidade dos atrasos, o desgaste psicológico. E dizer a alguém que tem de trabalhar assim até aos sessenta anos é uma brutalidade”, diz Mariana Mortágua. “Por isso, a reforma antecipada é uma medida de justiça”.

A dirigente bloquista explicou que a campanha do Bloco pela defesa de quem trabalha por turnos é alimentada por histórias reais. Já Fernando Rosas sublinha que está presente “sobretudo para ouvir”, mas aproveita para lembrar que a luta dos vidreiros é uma luta fundadora do movimento operário português.

“Ninguém se esquece que a primeira grande greve contra o regime fascista aconteceu aqui, na Marinha Grande, a 18 de janeiro de 1934”, diz, lembrando a greve geral de 1934, que parou trabalhadores de norte a sul do país”, diz o candidato do Bloco de Esquerda.

Segundo Fernando Rosas, a reivindicação do partido sobre trabalho por turnos representa uma parte muito grande dos trabalhadores de Leiria “que não tem tido expressão no parlamento”, onde os partidos da direita discutem sobretudo o que interessa aos empresários.

“Nós falamos, nós lutamos, nós propomos”, por isso é que estamos aqui a lutar para ter mais um lugar na Assembleia da República. É uma luta dura, mas estamos aqui para lutar contra a corrente”, concluiu.