O Bloco de Esquerda lançou este sábado uma petição para garantir direitos aos trabalhadores por turnos. A falar no Encontro Nacional do Trabalho do Bloco de Esquerda, a coordenadora do partido chamou a atenção para 800 mil trabalhadores na área da saúde, da indústria vidreira, da indústria automóvel, dos call-centers, e muitas outras, que trabalham por turnos e que vivem “ao contrário do relógio”.
Muitas dessas pessoas “já lutaram e conseguiram incluir no seu contrato subsídios de turno”, mas muitas outras “exigem ser respeitadas pelo seu trabalho”, explicou a dirigente bloquista. A petição exige que o subsídio por turnos seja obrigatório, mas também um máximo de 35 horas semanais para quem faz trabalho por turnos ou noturno, a antecipação da idade de reforma em seis meses por cada ano de trabalho por turno, o direito a dispensa de trabalho por turnos para trabalhadoras grávidas e trabalhadores com filhos até aos três anos.
Entre as reivindicações estão também critérios rigorosos para as autorizações de laboração contínua e 24 horas de descanso na mudança de horário de turno e dois fins-de-semana de descanso, no mínimo, a cada seis semanas de trabalho. A coordenadora bloquista lembrou que num universo de 800 mil trabalhadores por turnos, as famílias também sofrem e que portanto as pessoas afetadas por este tipo de trabalho são muito mais.
No Encontro Nacional do Trabalho, Mariana Mortágua disse ainda que as “novas formas de trabalho dificultam o trabalho sindical”. Ao referir-se à uberização, a coordenadora do Bloco de Esquerda salientou que esta nova forma de trabalho “banaliza a transferência de riscos e custos de trabalho do empregador para o trabalhador”.
“É uma falsa autonomia” que coloca trabalhadores contra trabalhadores “para fornecer um serviço”. “A uberização do trabalho é a materialização de décadas de alterações legislativas que visaram enfraquecer quaisquer condições e regulamentações do trabalho”, disse a dirigente do Bloco de Esquerda.
Falando sobre as alterações sociais e culturais que levaram a um aumento do individualismo, Mariana Mortágua diz que caminhamos para uma visão em que “todos são empresários e todos são patrões”, o que é um “desafio para a organização do trabalho”.
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Sobre o trabalho sindical, a coordenadora do Bloco de Esquerda considerou fundamental “evitar o sectarismo e ultrapassar o anacronismo” na forma como os sindicatos têm funcionado em Portugal. Segundo Mariana Mortágua, esses problemas impedem os sindicatos “de representar a maioria dos trabalhadores” e de “criar novas pontes de diálogo” para unir os trabalhadores.
“O risco de organizações sindicais sectárias e incapazes de olhar para o presente e para o futuro do trabalho é a remissão para um papel proclamatório que é incapaz de ter um diálogo”, disse. “ No Bloco temos procurado olhar para o trabalho como ele é, e foi por isso que trouxemos a precariedade para o léxico político, foi por isso que regulámos os recibos verdes, que combatemos o trabalho a prazo, combatemos o outsoucing e queremos regular os algoritmos”.