Um dia após ter reunido com Yolanda Díaz, a líder do Sumar e vice-presidente do Governo espanhol, Carles Puigdemont anunciou esta terça-feira em Bruxelas as suas condições para negociar a viabilização do próximo executivo liderado por Pedro Sánchez. À cabeça está a aprovação de uma amnistia para os envolvidos na realização do processo que levou ao referendo de 1 de outubro de 2017 - como o próprio Puigdemont e outros ex-governantes que se exilaram e não foram julgados -, após os restantes políticos condenados já terem beneficiado de um indulto às penas de prisão que cumpriam.
Numa declaração de 30 minutos e sem direito a perguntas dos jornalistas que encheram a sala, Puigdemont apelou ao PSOE e Sumar a iniciarem "um processo de negociação sério, honesto e ambicioso", com vista a alcançar "um acordo histórico" para a Catalunha.
A par de uma lei da amnistia que abranja todos os factos ocorridos na última década no âmbito do "procés" que visava impor a autodeterminação da Catalunha, a principal figura do Junts defendeu o abandono da via judicial e da "repressão" para resolver problemas políticos. E propôs um mecanismo de mediação e supervisão das medidas inscritas num eventual acordo, bem como o compromisso do respeito dos acordos e tratados internacionais sobre direitos humanos. Ao mesmo tempo, o eurodeputado não abandona a bandeira do referendo como expressão política da autodeterminação.
"O povo catalão tem direito a um referendo acordado com o Estado espanhol que substitua o mandato do 1 de Outubro. Não há impedimentos na Constituição para celebrar esse referendo. Peço vontade política", afirmou Puigdemont, sublinhando que "hoje a Espanha tem um dilema complexo: ou repete as eleições ou faz um acordo com um partido que mantém a legitimidade do 1 de Outubro e que não renunciará à unilateralidade".
Governo diz estar nos "antípodas" de Puigdemont mas aposta no diálogo
Da parte do executivo espanhol, a primeira reação à declaração de Puigdemont foi de prudência. "Temos um mundo a separar-nos e as nossas posições estão nos antípodas", afirmou a porta-voz do Governo, Isabel Rodríguez. No entanto, acrescentou que “temos uma ferramenta, que é o diálogo; temos um marco, que é a Constituição; e temos um objetivo, que é a convivência”, sublinhando que esse modelo "deu resultados" e que "ninguém tem dúvidas de que a situação na Catalunha é infinitamente melhor do que era há cinco anos".
Também Patxi López, o porta-voz do grupo parlamentar socialista, secundou as palavras do Governo quanto à diferença na situação catalã hoje em dia. “Nos últimos anos recuperamos a política para resolver problemas políticos. E com medidas políticas, algumas corajosas, arriscadas e altamente criticadas", que melhoraram bastante a situação herdada do anterior governo da direita liderado por Mariano Rajoy.
Do atual governo catalão, liderado pela Esquerda Republicana, vieram palavras de satisfação com a declaração de Puigdemont. A porta-voz do executivo, Patrícia Plaja, afirmou que a Generalitat partilha por completo os objetivos anunciados e que acredita que agora há "uma oportunidade de ouro para que o independentismo se una para obrigar o governo espanhol à amnistia e à autodeterminação" da Catalunha.