Este ano a manifestação convocada pelas associações independentistas decorreu ao mesmo tempo em cinco cidades e juntou muitos milhares de pessoas. As contas da Guardia Urbana são de 70 mil no total e 60 mil só em Barcelona, um número aquém dos 115 mil manifestantes que anunciou no ano passado. E se as palavras de ordem pela independência dominaram o ambiente, foram os temas sociais que a organização preferiu destacar.
Em Barcelona a faixa de abertura fazia referência à crise da habitação, em Tarragona na necessidade de melhorar o serviço ferroviário, em Lleida reclamou-se um futuro sustentável para a agricultura, em Girona uma saúde pública e de qualidade, enquanto em Tortosa a preocupação é a da gestão dos recursos hídricos. Todas juntas, estas reivindicações procuraram sublinhar as “injustiças” que a Catalunha sofre por pertencer a Espanha.
No comício organizado pela Òmnium Cultural em Barcelona, o seu líder Xavier Antich admitiu o retrocesso do movimento e criticou os partidos do campo pró-independência - o Junts, a Esquerda Republicana da Catalunha (ERC) e a Candidatura de Unidade Popular (CUP) - pelas suas lutas fratricidas. Os dirigentes destes partidos, os três com congressos marcados para os próximos meses, ouviram sentados na primeira fila os apelos de Antich para que saiam do “catastrofismo”.
“É tempo de redescobrir o que é importante e de recordar que a força da independência reside no pluralismo e na transversalidade”, afirmou Antich, sublinhando que a divergência política é “enriquecedora” se houver “lealdade” baseada num mínimo denominador comum.
Ao atual líder do Governo, o socialista Salvador Illa que governa com apoio parlamentar da ERC, Antich prometeu que não haverá “normalidade” sem um referendo, uma amnistia efetiva e um acordo económico para a Catalunha.
No discurso da Òmnium ficou também marcada a diferença com a Assembleia Nacional Catalã (ANC), a outra grande organização social que promove a manifestação da Diada e cujo líder, Lluís Llach, abriu a porta à participação da extrema-direita da Aliança Catalã. “Nenhuma cumplicidade com os discursos de ódio e posições etnicistas, populistas e xenófobas, levem a bandeira que levarem”, afirmou Antich, defendendo que a imigração é “um motivo de orgulho” para a nação catalã.
“Basta de lamber feridas! Organizem-se”
Os festejos da Diada contaram com as habituais oferendas florais e iniciativas partidárias e cívicas e decorreram sem incidentes, à exceção da tentativa de interrupção do comício da ERC por um grupo anarquista que responsabiliza o partido pela prisão de um militante ou dos balões de tinta lançados por militantes da Arran, a juventude da CUP, à passagem pelo edifício da Generalitat. Embora a ERC seja o alvo principal das críticas por causa do acordo com os socialistas, este ano o partido fez-se representar por uma grande delegação na grande manifestação da tarde.
No final das manifestações, num ato simultâneo nas várias cidades, foi lido o manifesto desta Diada a denunciar o “saque fiscal” de 22 mil milhões de euros anuais “que enriquece o fisco espanhol em detrimento do desenvolvimento económico, social e cultural dos catalães” e a criticar que a Generalitat esteja entregue a “um governo espanholista que ainda há poucos dias se ajoelhava diante de Felipe VI” e que “nega categoricamente o nosso direito à autodeterminação”.
Críticas também ao que alguns chamaram de “pacificação” e regresso à “normalidade” na sociedade catalã. “Em que país é normal que um presidente da Generalitat, que um deputado que ainda por cima é o líder da oposição, não possa participar nos debates parlamentares?”, interroga-se o texto numa referência a Carles Puigdemont, o ex-governante que ainda se arrisca a ser preso em Espanha apesar de a lei da amnistia ter sido aprovada pelos deputados. Ao campo independentista, o manifesto conjunto termina com um apelo: “Basta de lamber feridas! Organizem-se”.