Catalunha

Puigdemont roubou o palco mas Illa ficou com o Governo

09 de agosto 2024 - 14:34

Os socialistas catalães voltam a presidir à Generalitat 14 anos depois com base num acordo à esquerda. Há uma chuva de críticas à polícia catalã e dois agentes foram presos por cumplicidade depois de Puigdemont ter discursado em Barcelona e voltado a sair do país sem ser detido.

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Salvador Illa na tomada de posse
Salvador Illa na tomada de posse. Foto de Quique Garcia/EPA/Lusa.

Carles Puigdemont, o ex-presidente da Generalitat procurado pela Justiça espanhola por ter organizado o referendo à independência da Catalunha, voltou ao país, quase sete anos depois, para discursar durante 15 minutos perante cerca de quatro mil pessoas, a que disse “não temos o direito a renunciar” e voltar a desaparecer.

No mesmo dia, 14 anos depois, os socialistas voltavam ao poder com Salvador Illa a ser empossado como novo presidente do governo catalão. Contou para isso com votos à esquerda: os 42 do Partido Socialista da Catalunha, os 20 da Esquerda Republicana da Catalunha e os seis do Comuns. Na ERC, a decisão foi tomada através de votação interna com 6.349 militantes a darem uma pequena maioria de 53,5% à aprovação do acordo com o PSC.

No seu discurso, Illa prometeu “unir e servir todos os catalães”, governar “tendo em conta a pluralidade da Catalunha” e “abrir um período de consenso” para “enfrentar os conflitos políticos sem preconceitos”. Tudo isto num dia em que a fratura política estava mais que exposta.

Uma das questões imediatas que agita a política catalã é a aplicação da lei da amnistia, nomeadamente o facto do Supremo Tribunal ter negado a sua aplicação ao suposto crime de desvio de fundos para organizar o referendo à independência, fazendo com que Puigdemont continue com mandato de prisão.

O novo chefe do executivo catalão defende que a lei seja aplicada “na sua totalidade” e quer “respeito pela esfera de decisão, pelo poder legislativo e pela aplicação ágil e rápida das disposições desta lei, sem subterfúgios”.

A entrada de Puigdemont no país sem ser detido valeu duras críticas aos Mossos d’Esquadra, a polícia catalã, que não o prendeu enquanto ele esteve à vista de toda a gente e, apesar do aparato de uma chamada “Operação Jaula” que bloqueou estradas por todo o país, o deixou escapar do país. Dois agentes dos Mossos acabaram mesmo por ser detidos, um dos quais acusado de ser o proprietário do carro que terá sido utilizado na fuga, outro também acusado de ter participado nela.

Enquanto a direita tenta culpabilizar o Governo do PSOE conjuntamente com esta força policial, o primeiro-ministro Pedro Sánchez junta-se ao coro de críticas contra os Mossos cuja cúpula considera que deve assumir responsabilidades pelo sucedido.

O Junts per Catalunya anunciou entretanto que o seu líder já se encontrava de volta a Waterloo, na Bélgica, onde tem estado refugiado, depois de ter estado em Barcelona desde terça-feira. O partido tinha tentado suspender sem sucesso os trabalhos do parlamento catalão por duas vezes na quinta-feira. O próprio Carles Puigdemont tinha alimentado a expetativa de que iria ocupar o lugar vazio na sessão parlamentar quando escreveu nas redes sociais “o Parlamento da Catalunha convocou todos os deputados para o debate de investidura do próximo presidente da Generalitat. Eu tenho de estar e quero estar. Por isso, empreenderei a viagem de regresso desde o exílio.” A sua formação política avaliou depois que o que tinha vindo fazer estava feito.

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