Polícia de Londres acusada de racismo, homofobia e misoginia

22 de março 2023 - 13:55

Relatório demolidor foi encomendado pela própria polícia londrina após o caso de um agente que raptou, violou e assassinou uma mulher nas ruas da cidade.

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Foto Kurayba/Flickr

Em 363 páginas, o relatório agora divulgado sobre as práticas da polícia de Londres arrasa por completo a cultura instalada nesta instituição. O relatório independente foi encomendado pela Metropolitan Police após o caso de Sarah Everard, a mulher raptada por um agente nas ruas da cidade e depois violada e assassinada. A tarefa coube a Louise Casey, uma veterana dos serviços de políticas sociais do Reino Unido e membro da Câmara dos Lordes desde 2020.

Segundo o Guardian, uma das principais conclusões é que o racismo, a misoginia e a homofobia estão institucionalizadas na corporação policial onde 12% das mulheres dizem ter sido assediadas ou atacadas no trabalho e um terço dizer ser vítimas de sexismo.

Os níveis de confiança da população na polícia estão abaixo dos 50% e entre a população negra há muito que caíram abaixo dessa fasquia. Entre os casos relatados neste documento, está o de um agente muçulmano que encontrou bacon enfiado nas suas botas, um agente Sikh a quem cortaram a barba, e números que mostram como os agentes que pertencem a minorias étnicas são mais sujeitos a medidas disciplinares e abandonam mais um corpo policial predominantemente branco, apesar da diversidade crescente da população da capital inglesa.

Tendo em conta o número de habitantes, a polícia londrina é a campeã das detenções na via pública para revistar pessoas e o uso da força contra a população negra é considerado excessivo por este relatório.

A responsabilidade principal é atribuída às anteriores lideranças, que permitiram a consolidação de uma cultura de bullying e discriminação. E o relatório conclui que se não se conseguir reverter essas práticas, serão necessárias medidas mais radicais que passam pela desarticulação da instituição em três unidades, uma nacional, outra especializada e outra dedicada a Londres.

Os cortes orçamentais de 700 milhões de libras também são apontados como uma das causas para a debilitação da proteção a mulheres e crianças. Por exemplo, muitos casos de violação acabaram arquivados por insuficiência de provas devido à inadequada salvaguarda dos kits de análises. Há mesmo um caso em que os kits ficaram inutilizados quando um agente resolveu guardar o seu almoço num dos frigoríficos destinados a preservar essas provas.

Louise Casey acusa também as lideranças policiais de escolherem a dedo as reformas que lhes foram recomendadas em sucessivos inquéritos oficiais que já antes tinham concluído pela existência não apenas de racismo institucional como também de corrupção generalizada. Sabe-se que centenas de agentes foram mantidos nos cargos mesmo sendo do conhecimento das chefias as suas atitudes racistas, corruptas ou de ódio às mulheres

As reações dos responsáveis pela polícia a este documento dividem-se, com o atual comissário da Met Police, Mark Rowley, a recusar-se a aceitar os rótulos de racismo institucionalizado, misoginia institucionalizada e homofobia institucionalizada, alegando que se tratam de termos políticos, embora admita fracassos sistémicos, de gestão e de cultura na instituição. Por seu lado, Sadiq Khan, o mayor de Londres e uma das pessoas que pode nomear e demitir o comissário, afirmou aceitar essas conclusões do relatório e prometeu responsabilizar Rowley pelo resultado da necessária mudança. Quanto aos agentes negros da National Black Police Association, o seu presidente criticou o comissário por repetir o erro de não aceitar que o Met é institucionalmente racista. "Arriscamo-nos a repetir a história e não podemos deixar passar o momento como outra oportunidade perdida", afirmou Andy George.

A oposição trabalhista aponta responsabilidades ao "vazio de liderança" no Ministério do Interior nos últimos 13 anos que "estilhaçaram a confiança em que assenta o policiamento britânico e deixaram as vítimas desapontadas". Já Suella Braverman, a ministra do Interior a quem cabe a nomeação do comissário em conjunto com o mayor londrino, reconheceu a existência de falhas graves na cultura e liderança da instituição e prometeu responsabilizar o comissário pelas mudanças de fundo na cultura policial.