Petição pelo resgate da memória de antifascistas de Cambedo da Raia entregue na AR

30 de novembro 2023 - 15:41

A 21 de dezembro de 1946, Cambedo da Raia foi cercada e bombardeada pela PIDE, GNR, Exército e a Guarda Civil espanhola, por ter acolhido refugiados e guerrilheiros espanhóis. Peticionários pedem reconhecimento público de homenagem à comunidade cambedense.

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Fotografia divulgada pela Comissão Promotora da petição “Cambedo da Raia e o pós-guerra civil espanhola - os trágicos acontecimentos de dezembro de 1946 e o processo da PIDE nº 917/46 - Pelo direito à memória e ao ressarcimento”.

Na passada terça-feira foi entregue na Assembleia da República a petição “Cambedo da Raia e o pós-guerra civil espanhola - os trágicos acontecimentos de dezembro de 1946 e o processo da PIDE nº 917/46 - Pelo direito à memória e ao ressarcimento”.

A iniciativa, que somou mais de 2000 assinaturas e continua aberta a novas subscrições até dia 28 de dezembro, tem como objetivo “lutar pelo direito à verdade, à memória e ressarcimento ético da comunidade cambedense que, em 1946, corajosamente, atuou contra as ordens de Salazar no acontecimento que ficou conhecido pela ‘Guerra do Cambedo da Raia’”.

No contexto da comemoração dos 50 anos da Revolução de Abril, os peticionários exortam o Presidente da Assembleia da República a promover “uma resolução com o reconhecimento público de homenagem à comunidade cambedense, em especial ao seu direito à memória dos que, tendo sido testemunhas da tragédia, já faleceram sem nunca terem sentido qualquer atenção do Estado Democrático”.

No texto da petição é lembrado que, na madrugada de 20 para 21 de dezembro, “forças conjuntas envolvendo a GNR, o Exército, a PVDE e a Guardia Civil, cercaram e bombardearam o Cambedo com morteiros” e que, “ao mesmo tempo, noutras aldeias de Chaves (Nantes, Castanheira, Sanjurge, Couto), foram presos outros presumidos implicados no apoio aos guerrilheiros rojos”.

“A operação militar visava capturar, vivos ou mortos, os guerrilheiros anti-franquistas acolhidos pela comunidade do Cambedo, com quem mantinham laços de parentesco, de amizade e de trabalho. No discurso oficial das duas ditaduras, a operação prometia acabar com as actividades dos bandoleiros que atormentavam a região raiana transmontana”, lê-se no documento.

A petição assinala ainda que “o resultado do cerco a Cambedo da Raia foi trágico: para além da destruição de várias casas da aldeia, um guerrilheiro desapareceu, outro foi morto, o terceiro suicidou-se e o quarto foi preso; do lado das forças sitiantes, vítimas da sua própria violência repressiva, dois guardas, um da GNR e outro da Guarda Fiscal, morreram, um terceiro foi ferido bem como um agente da PVDE; na comunidade local também houve feridos e, através do processo da PVDE nº 917/46, 18 moradores foram presos. Nas aldeias referidas, o mesmo processo ultrapassou a meia centena de arguidos”.

A Comissão Promotora da petição é constituída pelas Associações Desportiva, Cultural e Recreativa de Cambedo da Raia e de Vilarelho da Raia, Junta de Freguesia de Vilarelho da Raia, membros da comunidade cambedense e seus familiares, investigadores/historiadores e Associação Movimento Cívico Não Apaguem a Memória (NAM). A iniciativa é também apoiada pelas seguintes entidades coletivas: Associação de Jornalistas e Homens de Letras do Porto, Sindicato dos Professores do Norte, Movimento de Intervenção e Cidadania do Porto, Associação dos Inquilinos e Condóminos do Norte de Portugal, UNICEPE- Cooperativa Livreira de Estudantes do Porto (CRL), URAP – União de Resistentes Antifascistas Portugueses e Museu do Aljube.