Esta quinta-feira, no debate televisivo com os candidatos à presidência da Comissão Europeia, a atual detentora do cargo, Ursula von der Leyen, recandidata pelo Partido Popular Europeu, de que fazem parte os portugueses PSD e CDS, voltou a aproximar-se da extrema-direita.
A candidata apoiada pela AD afirmou: “queremos trabalhar com todos os membros do Parlamento que sejam pró-UE; pró-Ucrânia, ou seja, anti-Putin, e pró-Estado de direito”, o que já tinha sido a linha política enunciada quando o PPE apresentou o seu programa para estas eleições. Especificou em seguida que “a União Nacional, em França, ou a AfD, na Alemanha” são partidos “amigos de Putin e querem destruir a Europa”.
Questionada ainda mais sobre o tema explicou que, ao contrário destes, Meloni, a primeira-ministra italiana, é “claramente pró-europeia, contra Putin, foi muito clara neste ponto, e muito favorável ao Estado de Direito e se tudo isso se mantiver, propor-lhe-emos então trabalhar juntos.” Elogiou também o facto de ter “trabalhado muito bem com Giorgia Meloni no Conselho Europeu”.
Política e negócios
O clima de guerra na Europa está a branquear a extrema-direita
Francesca De Benedetti
A porta fica aberta assim não só para os pós-fascistas italianos Irmãos de Itália, mas para todos os outros integrantes do grupo europeu Conservadores e Reformistas Europeus (ECR) como os ultra da extrema-direita francesa Reconquista e o Vox espanhol.
O Chega, principal extrema-direita portuguesa, tem estado ao lado da AfD alemã, da União Nacional francesa e da Liga italiana de Salvini no grupo chamado Identidade e Democracia (ID), mas tem admitido que pode vir a mudar de lado.
Estas declarações indicam não só um branqueamento de parte da extrema-direita como também que o grande pacto entre partidos socialistas europeus e conservadores pode estar a chegar ao fim e que, face ao crescimento da extrema-direita, a direita pode optar por se aliar a ela.
O candidato do campo dos partidos socialistas europeus, o luxemburguês Nicolas Schmit, retorquiu que era uma linha vermelha “não haver nenhuma aliança, nenhum acordo e nenhum arranjo com a extrema-direita”, realçando que “nem a ID nem os ECR são forças democráticas”.
Os liberais também bateram com a mão no peito sobre este assunto. Sandro Gozi, o candidato do Renovar a Europa” declarou “não conseguir entender como Von der Leyen está disponível para trabalhar com os ECR de Giorgia Meloni, Eric Zemmour, e Santiago Abascal, que querem desmantelar a Europa por dentro. Nós diremos sempre que não aos grupos de Le Pen e Meloni”.
Ao que Terry Reintke, dos Verdes, e Walter Baier, da Esquerda Europeia, responderam lembrando que afinal os integrantes do grupo político liberal nos Países Baixos, o VVD, anunciaram que farão parte do governo com a extrema-direita: a de Geert Wilders que está do lado de Le Pen. Encurralado, o liberal limitou-se a dizer que “o governo ainda não está constituído” e por isso “dizer que o VVD está no governo não é verdade”, falando num “grave erro”. A decisão sobre o que fazer com este partido foi adiada para depois das eleições europeias, deixando a questão pairar sobre a campanha liberal.
O austríaco candidato pela Esquerda Europeia acrescentou ainda: “quando dizemos que não pode haver qualquer compromisso com a extrema-direita, não podemos depois aceitar os seus argumentos, nem adotar a mesma retórica”.
AfD foi expulsa do grupo europeu da extrema-direita, mas Ventura afirmou-se “solidário” com ela
A realidade da divisão da extrema-direita europeia nestes dois grupos poderá vir a mudar a breve prazo. A presença de Marine Le Pen no comício internacional do Vox no passado fim de semana tinha sido um primeiro sinal.
A este acrescentou-se o corte da ID com a AfD já durante esta semana devido às declarações de um candidato deste partido, Maximilian Krah (entretanto excluído), sobre as SS nazis em que dizia que era “errado” dizer que todos os elementos do grupo eram “criminosos”.
Em declarações ao Público já depois de conhecidas estas palavras mas ainda antes do corte, André Ventura mostrava-se mais benevolente com a afirmação do que Le Pen, afirmando: “não me revejo nas declarações que foram feitas, eu não o diria” e” não vou concordar a 100% com o que todos dizem, mas não há nenhum grupo europeu que o faça”, reforçando que "neste momento, o Chega é solidário com todos os seus parceiros internacionais".