A crise da habitação nas cidades espanholas, marcada pelo peso crescente dos fundos imobiliários e da rentabilização da habitação como um ativo financeiro, tornou a compra de casa uma miragem para as novas gerações e mesmo o arrendamento, diz um estudo do Instituto de Investigação Urbana de Barcelona, deixou de ser uma opção para sete em cada dez espanhóis. Dois terços dos jovens espanhóis entre os 18 e os 34 anos vivem ainda com os pais, quando em 2010 apenas metade o faziam.
Habitação
Regulação das rendas na Catalunha: primeiros resultados indicam descida do preço
O governo aprovou uma lei para tentar conter a subida de preços que os movimentos e sindicatos de inquilinos consideram muito tímida, mas a sua aplicação cabe às Comunidades Autónomas e até agora apenas a Catalunha aplicou um regime de controlo de rendas. Com metade do parque imobiliário nas mãos dos grandes senhorios, apenas 2,5% de habitação pública e e o centro das grandes cidades tomado pelo alojamento local, a paciência dos inquilinos esgotou-se e a forte adesão deste domingo veio confirmá-lo.
Numa marcha que os promotores dizem ter contado com 150 mil pessoas e a delegação do governo autonómico do PP estima em 22 mil, uma das reivindicações foi a da demissão da ministra da Habitação, Isabel Rodriguez, mas também a exigência à presidente da Comunidade de Madrid, Isabel Díaz Ayuso, para que aplique a lei da Habitação que permite controlar o preço das rendas na capital espanhola. Mas para o Sindicato de Inquilinas e Inquilinos de Madrid, é preciso ir mais longe. “Acabou-se a impunidade dos senhorios. Se continuarem a subir os preços, vamos deixar de pagar”, ameaçou a porta-voz sindical Valeria Racu.
La revolución de las llaves ha comenzado #13O pic.twitter.com/Np6fzdm3xI
— Sindicato de Inquilinas e Inquilinos de Madrid (@InquilinatoMad) October 13, 2024
Entre as manifestantes ouvidas pelo El País estava Pepa Torres, que aos 63 anos divide casa no bairro de Lavapiés com outras três companheiras, a única forma de conseguir pagar a renda naquele bairro. “O prédio inteiro é de um grande senhorio” que foi expulsando os vizinhos idosos, relata, acrescentando que “estou aqui porque não podemos continuar a sustentar mais a especulação com a habitação, não pode ser que 70% do nosso salário sirva para pagar a renda, não pode ser que um quarto custe 400 euros, não pode ser que existam grandes proprietários e casas vazias quando as ruas estão cheias de pessoas despejadas”. Do poder político espera uma lei de habitação pública “que contemple o direito social à habitação, que trave os grandes senhorios e que seja aplicada em vez de boicotada, como aqui em Madrid”.
Outra moradora do centro de Madrid presente no protesto é Cristina Gómez, com 40 anos, que viu o prédio onde vive vendido à Elix Rental Housing, um dos fundos abutre presentes no negócio da habitação na cidade. Desde então já foi chamada por três vezes para “negociações” onde a “única opção que põem em cima da mesa é sair da casa onde estamos há muitos anos”.
Também a líder do Podemos, Ione Belarra, participou neste protesto e apontou o dedo ao bipartidismo do PSOE e PP como o grande responsável por ter “permitido que a habitação seja um bem para especular, para investir e tirar rentabilidade”, quando as casas deviam servir “para viver”.
“Precisamos que em Espanha se proíba de uma vez por todas que os fundos abutre e os grandes rentistas possam comprar casas”, defendeu Belarra, a par de uma moratória ao alojamento local e de uma descida do preço das rendas. A líder do Podemos e antiga ministra sublinhou ainda que o problema em Espanha é que agora tem um Governo “em que já só manda Pedro Sánchez, e que não leva a sério a luta pela garantia do direito à habitação”.